Ato de moradores da favela do Moinho (SP) põe fogo em trilhos de trens

Um protesto de moradores da favela do Moinho, no centro de São Paulo, colocou fogo nos trilhos de trens entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz e afetou a circulação das linhas 8-Diamante, 7-Rubi e 13-Jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), mas a situação foi normalizada.

O que aconteceu

Autoridades estiveram no local. O Corpo de Bombeiros foi acionado para combater as chamas e a tropa de choque da Polícia Militar garantiu a segurança da região. Não há registros de presos ou feridos.

Manifestação teve início por volta das 16h. Entre 16h10 e 17h26, a circulação dos trens foi interrompida entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz, devido protesto na linha férrea nas proximidades do Moinho, segundo a CPTM.

Famílias não querem deixar suas casas. O governo de São Paulo tem planos de transformar o espaço em um parque. A remoção das famílias começou em abril deste ano.

O começo da remoção foi marcado por tensão. Em 22 de abril, por causa da presença de agentes da Polícia Militar, mas a situação acabou sendo contornada após intermediação de agentes da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU). No dia 18 de abril, moradores fizeram barricadas na região que dá acesso à comunidade após a entrada de agentes da PM na comunidade

Acesso à faixa ferroviária é proibido. Ainda de acordo com a CPTM, para impedir a invasão do trecho, são realizadas campanhas preventivas junto às comunidades lindeiras sobre os perigos do acesso à faixa ferroviária. "Há um intenso trabalho de monitoramento da equipe de manutenção. Além de realizar rondas constantes com a equipe de segurança no entorno da via para identificar, prevenir e coibir acessos indevidos", disse a companhia em nota.

Como é comunidade do Moinho?

É a última favela remanescente do centro de São Paulo. Ela pode desaparecer com o projeto de requalificação do governo de São Paulo. Um dos objetivos da proposta de transferir a sede administrativa para o centro é tornar a região "atrativa para moradia", com maior "valorização imobiliária", conforme apurou o UOL.

Comunidade é cercada por trechos das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM. O acesso ao Moinho é uma entrada atravessada por trilhos. Moradores convivem com barulhos e tremores pela passagem constante dos trens.

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A favela foi construída a partir de uma ocupação sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. Segundo reportagem da BBC, era ali que ficava o Moinho Central, uma indústria de processamento de farinha e de rações para animais. A indústria foi desativada no final da década de 1980. Nos primeiros anos, os moradores eram ex-trabalhadores da fábrica.

Terreno é alvo de disputa há anos. Ele foi controlado pela Rede Ferroviária Federal, depois foi a leilão por dívidas da empresa e chegou a empresários, mas que não concluíram a compra, segundo a BBC. Em 2008, a associação de moradores entrou na Justiça para permanecer no terreno por usucapião. Eles garantiram a posse do terreno, mas a ação ainda não foi julgada.

Passou por dois grandes incêndios. Eles ocorreram em 2011 e 2012 e resultaram na destruição de muitas moradias e em algumas mortes.

O acesso ao saneamento básico ocorreu apenas em 2022. Até então, a favela não tinha água e convivia com esgoto a céu aberto.

Regularização fundiária não é possível, segundo CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). Como justificativa, o órgão alega a proximidade com as linhas férreas, a situação de confinamento e o histórico de incêndios, além da "extrema precariedade das moradias".

Lideranças comunitárias do Moinho alegam que plano estadual não leva em conta realidade local. "Não conseguimos pagar o que estão exigindo para que a gente saia daqui", diz uma representante da associação de moradores do Moinho que pediu para não ser identificada.

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*Com informações de reportagens publicadas em 24/03/2025, 23/02/2025 e da Agência Estado

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