MP-SP diz que não compactua com a exploração política da 'cracolândia'
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A ação promovida pelo Ministério Público, que levou ao fechamento de 45 estabelecimentos comerciais em 2024, desidratou o ecossistema criminoso e provocou o esvaziamento da região da "cracolândia", no centro de São Paulo, conforme avaliação feita hoje pelo promotor Lincoln Gakiya no UOL News, do Canal UOL. O membro do MP, no entanto, fez críticas quanto à exploração política do caso.
Eu só gostaria de deixar bem claro que o MP não compactua com a exploração política dessa situação, como vocês disseram, que pode estar ocorrendo. Agora, existe um trabalho, sim, por trás.
Não houve mágica [com o esvaziamento da 'cracolândia']. Nós estamos colhendo agora o efeito da Operação Saúde e Dignidade. Lincoln Gakiya, promotor que coordenou a operação
O promotor se refere à operação realizada em agosto, quando foram fechados hotéis, lojas, estacionamentos e centros de ferros-velhos e reciclagem, que faziam parte do "ecossistema" do PCC (Primeiro Comando da Capital) na região da "cracolândia". Ao menos, 45 estabelecimentos foram apontados como parte de uma rede criminosa, que iria muito além do tráfico de drogas.
Na ocasião, foram cumpridos sete mandados de prisão, 84 de busca e apreensão, 47 de arresto, sequestro e bloqueio de bens e outros 48 de interdição de imóveis. A operação foi comandada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público.
Nove meses depois, moradores da região foram surpreendidos quando, da noite para o dia, a rua onde se concentrava o comércio de venda de drogas ficou vazia. Autoridades deram versões diferentes para o esvaziamento: o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por exemplo, associou a dispersão ao aumento nos atendimentos de saúde e a ações na favela do Moinho.
Ao Canal UOL, o promotor disse que esse movimento seria um efeito da operação ocorrida lá atrás.
O que mantinha um grande fluxo de usuários na área por mais de três décadas é justamente porque muita gente estava ganhando dinheiro ali. Aquilo era um ecossistema criminoso. Quando foi feita a operação, nós fechamos mais de quase 100 estabelecimentos e acabamos com essa economia criminosa. Os imóveis foram lacrados.
Não houve ação contra o usuário, porque o Ministério Público considera os dependentes vítimas de todo aquele sistema criminoso. Há dois meses, nós contabilizamos em torno de 53 usuários na 'cracolândia', num período de pico. Quando nós fizemos a operação, eram em torno de 1.800. Lincoln Gakiya, promotor que coordenou a operação
O promotor, no entanto, admitiu o espalhamento dos usuários para outras regiões.
É óbvio que ele [o usuário de drogas] não vai se curar por conta dessa operação, mas havia, sim, e foi claro que haveria uma desidratação e uma pulverização desses usuários para outras regiões, como de fato tem ocorrido. Claro que não previmos que, no dia para noite, a concentração de usuários naquele local estaria terminada.
Mas não foi simplesmente uma mudança deliberada pela polícia, pelo que eu tenho conhecimento (...) eu posso assegurar para vocês que a polícia também foi surpreendida com o esvaziamento dessa área. Lincoln Gakiya, promotor que coordenou a operação
O Ministério Público disse ainda que o órgão tem monitorado a migração de usuários para outras regiões.
Raio-x da 'cracolândia'
A 'cracolândia' passou por inúmeras transformações nos últimos anos. Até algumas semanas atrás, o "fluxo" se concentrava na rua dos Protestantes, no centro da cidade, mas, antes disso, havia percorrido ao menos 18 vias nos últimos 17 anos, concentradas em cinco pontos, conforme levantamento feito pelo UOL.
As ruas por onde a cracolândia passou ficam em uma área de 1 km quadrado.
O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) identificou 72 concentrações de dependentes químicos espalhados por 47 bairros no primeiro semestre de 2023, segundo dados aos quais o jornal Folha de S.Paulo teve acesso. São 160 cracolândias em 45 cidades do estado.
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