'Embaixada do PCC': cocaína e corrupção fazem facção migrar para Bolívia

Um dos líderes do PCC foi preso na Bolívia na semana passada. Segundo especialistas consultados pelo UOL, Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, não era o único que vivia no país vizinho e seguia no comando do crime organizado brasileiro a partir de lá. Na Bolívia, esses criminosos levam uma vida de luxo e não são perturbados pela polícia.

O que aconteceu

Tuta foi preso na última sexta-feira em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Procurado pela Interpol, o criminoso foi capturado quando tentou renovar seu documento estrangeiro usando uma identidade falsa. Ele foi enviado ontem para o Brasil (leia mais sobre a prisão abaixo).

Bolívia virou reduto da facção. Da "embaixada do PCC", lideranças gerenciam as atividades da organização criminosa paulista. Segundo Rafael Khalil, professor de direito penal da Universidade Anhembi Morumbi, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro são as principais atividades.

Comunicação com os criminosos que estão no Brasil é online. Lincoln Gakiya, promotor de Justiça de São Paulo que investiga o PCC há duas décadas, explicou que os criminosos gerenciam a facção à distância por meio de aplicativos de mensagens que não podem ser interceptados.

Corrupção "justifica a presença de criminosos". O promotor também afirmou que integrantes do PCC encontraram "uma rede de proteção" na Bolívia e não são incomodados pela polícia.

País sul-americano é um dos maiores produtores mundiais de cocaína. Para Khalil, a facção criminosa optou por se estabelecer em solo boliviano também porque "a Bolívia é uma das principais produtoras de cocaína" do mundo e "o início da ponte de transmissão de tráfico de drogas", se tornando atrativa para grupos distribuidores, como o PCC.

Bolívia se beneficia com tráfico. "Eles vivem do comércio. Para eles, não é interessante parar de comercializar [a cocaína]", explicou a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo.

A Bolívia nunca negou que é uma das grandes produtoras de cocaína do mundo. Isso faz parte do PIB [Produto Interno Bruto] deles
Ivana David, desembargadora do TJSP

Traficantes moram em condomínios de luxo, comandam comércios e levam filhos à escola. Há uma "facilitação" por parte das autoridades bolivianas para que os criminosos vivam tranquilamente no país, disse Gakiya.

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Além de Tuta, outros nomes fortes da organização criminosa vivem no país vizinho. O promotor citou como exemplo: André de Oliveira Macedo, o André do Rap; Sérgio Luiz de Freitas, o Mijão; Patrick Uelington Salomão, o Forjado; e Pedro Luiz da Silva, o Chacal.

Prisão dá "esperança". De acordo com Gakiya, espera-se que a Bolívia "passe a colaborar" com o Brasil na captura de outros criminosos que vivem no país. No mesmo sentido, Khalil destacou que "a cooperação é essencial para que o estado possa ter uma chance de desmantelar essas estruturas criminosas".

Prisão de Tuta

Tuta foi preso após apresentar um documento falso em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Ele tentava renovar o visto do seu Cartão de Identidade de Estrangeiro com o nome de Maycon Gonçalves da Silva quando o sistema alertou que ele era procurado pela Interpol.

Agentes da Interpol levaram Tuta para uma verificação de identidade. Eles saíram do shopping Ciudad Indana, onde Tuta fez o agendamento para renovar a documentação, e foram para um escritório da Interpol. "Ele estava registrado como alerta vermelho internacional com o nome Marcos Roberto de Almeida. Ao ser identificada dupla identidade, ele foi conduzido à sede da Divisão Central Econômica e Financeira da FELCC (Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen)", informou a polícia boliviana.

Ele foi preso por falsidade ideológica, falsidade material e uso de documento falso na Bolívia. Tuta passou por audiência de custódia e foi formalizado um pedido de extradição. Ele foi transferido para o Brasil ontem.

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Tuta é apontado como o líder do PCC nas ruas. As investigações da PF apontam que ele é um dos principais articuladores do esquema internacional de lavagem de dinheiro da facção.

Ele fugiu do Brasil após vazar a informação de que ele era um dos alvos da Operação Sharks, em 2020. Em fevereiro de 2024, Tuta foi condenado a mais de 12 anos de prisão por associação criminosa e lavagem de mais de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019.

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