O que pastores acham do papa? Malafaia despreza; outros líderes elogiam

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"Quanto mais o papa e a Igreja Católica se afastam da Bíblia, mais as igrejas evangélicas crescem." Foi assim que o pastor e líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, reagiu à escolha do norte-americano Robert Francis Prevost como novo líder da Igreja Católica, que adotou o nome Leão 14.
Para o pastor, o papado representa apenas "um líder de uma religião, nada mais, nada menos". Ele ainda atribui o crescimento evangélico à dedicação da liderança católica a pautas sociais: "Quanto mais vier com essa conversa de querer fazer graça social para grupos sociais, daquilo que a Bíblia condena como pecado, mais as igrejas evangélicas crescem", afirmou.
Católicos têm papa; evangélicos, múltiplas lideranças
A fala de Malafaia resume uma visão comum entre setores mais conservadores do evangelicalismo brasileiro, mas também evidencia uma diferença estrutural entre como católicos e evangélicos enxergam suas lideranças. Enquanto a Igreja Católica possui uma figura central — o papa — que representa não apenas a fé, mas também a unidade institucional da Igreja no mundo, os evangélicos contam com uma estrutura descentralizada, com milhares de igrejas, inúmeros ministérios e lideranças autônomas, além de visões teológicas e políticas diversas.
Essa pluralidade pode ser percebida nas reações à eleição de Leão 14, nome adotado por Robert Francis Prevost, o primeiro norte-americano a se tornar papa. O novo pontífice, agostiniano, missionário com trajetória no Peru e próximo do papa Francisco, tem sido visto com otimismo por pastores evangélicos brasileiros, que reconhecem nele um perfil de simplicidade, sobriedade e compromisso com pautas sociais.
Entre elogios e expectativas: o que dizem outros pastores evangélicos
Para o pastor Caio Fábio, fundador do Caminho da Graça, e conhecido como um dos primeiros televangelistas do Brasil, a escolha foi acertada. "Eu achei que foi uma escolha boa por causa da proximidade dele com o papa Francisco, pela realidade do conhecimento que ele tem mais próximo do terceiro mundo, no serviço que prestou, e também pela despretensão dele", afirmou ao UOL.
Caio Fábio destaca que, mesmo não sendo católico, um pastor evangélico deve olhar com bons olhos para qualquer pessoa com poder de influência positiva no mundo: "Acho que um pastor evangélico tem que olhar com o melhor olhar, com a melhor projeção, com a melhor perspectiva, com o melhor desejo e com a melhor bênção que houver no seu coração."

A simplicidade da trajetória de Prevost — que chegou ao papado sem protagonismos públicos ou disputas de poder — é vista por Caio como um sinal de coerência entre vida e chamado pastoral: "Para mim, a simplicidade e a naturalidade desse acesso, tendo chegado ele a papa sem grandes esforços, apenas com discretos serviços, já é uma validação extremamente favorável e positiva em favor dele."
Cacau Marques, teólogo, pastor batista e professor de história, aponta que, embora evangélicos não reconheçam a autoridade papal nem a doutrina da infalibilidade, a figura do papa é relevante no cenário cristão global e deve ser considerada com atenção: "O papa é o líder da maior igreja cristã do mundo, igreja com a qual nós evangélicos temos paralelos doutrinários próximos, e alguns até muito próximos e coincidentes", afirmou.
Segundo ele, ainda que haja divergências, é necessário manter respeito e disposição para o diálogo: "Temos também o dever de atentar para o que diz a maior igreja cristã do mundo, para assim também aprendermos com perspectivas que podem enxergar pontos que nós, evangélicos, talvez não estejamos enxergando no momento."
Cacau também vê na escolha de Leão 14 um gesto significativo, especialmente por ele ser o segundo papa consecutivo oriundo do continente americano. Para ele, a eleição de Prevost — norte-americano naturalizado peruano — pode iluminar aspectos do relacionamento entre católicos e protestantes no Brasil e nos Estados Unidos.
Sobre o novo pontificado, aposta em continuidade com Francisco, mas com uma postura mais conciliadora: "Acredito que o papa Leão 14 continuará com algumas das posturas mais reformistas do papa Francisco, mas caminhará para uma reconciliação maior com as alas mais conservadoras do catolicismo."
Victor Azevedo, pastor da Igreja Por Amor, em São Caetano do Sul (SP), também vê com bons olhos a eleição de Leão 14. Para ele, o papa é "sem dúvida, a liderança religiosa mais influente do mundo", e sua atuação ultrapassa os limites da Igreja Católica: "Ele tem a capacidade, e a responsabilidade, de apontar caminhos para lidar com as grandes crises que atravessamos, como as guerras, a exclusão social, o sofrimento humano, as dificuldades das democracias sobreviverem e os desafios ambientais."
Victor destaca que o papa Francisco, que promoveu Prevost dentro da hierarquia católica, foi uma figura sem precedentes, e que a escolha do novo pontífice dá sinais de continuidade: "Os primeiros gestos de Prevost me pareceram intencionais e simbólicos. Ninguém assume esse lugar por acaso, e nenhum gesto é sem cálculo. Ele apontou para os pobres, para os imigrantes, para os vulneráveis. Isso é um bom sinal. Claro, é cedo para julgamentos definitivos. Nem otimismo cego, nem ceticismo apressado. Precisamos dar tempo."
Entre os sinais que chamaram a atenção de Victor Azevedo estão o nome adotado e a tradição agostiniana: "Ele já disse que fez essa escolha por causa da doutrina social da Igreja, o que é um indicativo forte. Isso sugere um papa com os olhos voltados para as desigualdades, para o abismo entre ricos e pobres, para a distância entre o sul global e o norte global, entre o centro do mundo e suas periferias."
Sobre a espiritualidade agostiniana, ele completa: "Sabemos que os agostinianos trazem consigo uma teologia robusta, uma vida comunitária intensa e uma missão clara no mundo. É um tripé que, se for bem vivido, pode deixar marcas profundas: uma Igreja mais pensante e reflexiva, mais unida e mais comprometida com a vida."
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