Homenageados no Rio, PMs são presos por integrar 'escritório do crime'

Dois policiais militares do Rio de Janeiro, homenageados por parlamentares fluminenses e pelo governador Cláudio Castro (PL) entre 2023 e 2024, foram presos nesta semana, denunciados pelo MP (Ministério Público) como integrantes de uma organização criminosa conhecida como o novo "escritório do crime".

O que aconteceu

Capitão Alessander Ribeiro Estrella Rosa e cabo Diogo Briggs Climaco das Chagas se entregaram à polícia. Ambos estão detidos na Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói (RJ), segundo a corporação.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado), do MPRJ, denunciou e cumpriu nove mandados de prisão. Entre os supostos integrantes da organização criminosa, além dos dois PMs citados, estava outro policial militar não identificado pelo órgão. Até o momento, o UOL não conseguiu localizar suas defesas.

Grupo atuava nos mesmos moldes do antigo "escritório do crime", segundo MP. Em nota, o órgão aponta envolvimento dos nove presos com comércio ilegal de armas, sequestro e ao menos dois homicídios "com características de execução sumária, praticados à luz do dia e com uso de armamento pesado". Os crimes ocorreram em 2021, segundo o Gaeco.

Ex-PM Thiago Soares Andrade Silva é apontado como chefe da organização. Conhecido como Ganso, ele foi preso em 2023, mas seguia comandando o grupo criminoso da cadeia, de acordo com as investigações.

PMs homenageados

Capitão preso recebeu do governador medalha por "bons serviços" em 2023. Em março daquele ano, Alessander integrava a lista de policiais militares fluminenses que receberam a honraria, concedida por meio de um decreto assinado por Claudio Castro.

Ele também foi homenageado pelo deputado Sargento Portugal (Podemos). Em 2024, PM recebeu uma "Moção de Louvor e Regozijo pelos excelentes serviços prestados ao povo carioca". No requerimento, o parlamentar destacou a "ilibada carreira" de Alessander.

Já Briggs foi homenageado na Alesp em 2024. Em junho, o então vereador Felipe Michel (PP), atual secretário municipal da pasta de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida do Rio, pediu uma moção de reconhecimento e louvor a Briggs por sua "dedicação incansável à instituição e conduta ímpar".

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Com anos de dedicação à corporação, participou de inúmeras operações importantes, arriscando sua própria vida para proteger a dos cidadãos cariocas. Destacamos seu comprometimento durante as ações de combate à violência e o trabalho diuturno em prol da segurança da sociedade. Sua dedicação incansável à instituição e conduta ímpar evidenciam seu senso de justiça. Trecho de requerimento do então vereador Felipe Michel ao PM Diogo Briggs Climaco das Chagas

O que dizem os políticos

Governo afirma que medalha concedida a Alessander foi "formalidade". Em nota, a gestão informou que "a concessão da medalha por 10 anos de serviços prestados foi criada por decreto em 1979 e a listagem com os nomes dos agraciados é encaminhada ao Poder Executivo pela Polícia Militar". Ressaltou, por fim, que "a assinatura do ato de concessão, com a publicação dos nomes em Diário Oficial, é uma formalidade exigida pelo decreto".

Deputado diz que homenagem se baseou em "critérios técnicos e resultados operacionais". Segundo a assessoria de Sargento Portugal, as moções de louvor propostas por ele têm como objetivo "reconhecer formalmente os relevantes serviços prestados à segurança" da população fluminense. "No caso questionado, tratava-se de uma equipe do 18° BPM e a indicação foi feita aos membros da equipe", ressalta. Por fim, a nota afirma que o mandato do parlamentar reafirma seu "compromisso com a segurança pública, a legalidade e apuração rigorosa de qualquer conduta incompatível com a ética e a lei".

Procurado por meio da Secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Felipe Michel não retornou. Em caso de manifestação, este texto será atualizado.

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