Barata ataca? Qual tipo voa? Saiba como se prevenir dessa praga indesejada

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Baratas são pragas comuns nas cidades brasileiras, mas cada espécie tem hábitos diferentes — e exige cuidados específicos. Entenda os riscos e saiba como manter esses insetos bem longe da sua casa.
Quais os tipos?
Três espécies dominam os centros urbanos: a americana, a alemã e a oriental. Todas vivem em ambientes com restos orgânicos, umidade e calor — como ralos, fossas, esgotos e lixeiras. "São insetos noturnos, extremamente adaptáveis, com reprodução rápida", explica Sandra Costa de Oliveira, doutora em ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP, com três pós-graduações nas áreas de saúde global, entomologia e sustentabilidade.
Uma fêmea pode gerar até 400 baratinhas
Sandra Costa de Oliveira
A barata americana (Periplaneta americana) é a maior e uma das mais temidas. Mede entre 3 e 5 cm, tem coloração marrom-avermelhada e asas que ultrapassam o corpo. Pode voar, especialmente em dias quentes e úmidos. Vive em bueiros, fossas, esgotos e ralos, com predileção por ambientes escuros e úmidos. Costuma aparecer à noite em cozinhas, banheiros e áreas de serviço.

A barata alemã (Blattella germanica), também chamada baratinha ou francesinha, é a mais comum em casas e comércios. Pequena e ágil, mede cerca de 1,5 cm e tem coloração marrom-clara com duas listras escuras no dorso. Esconde-se em frestas, motores de eletrodomésticos e locais com alimento e umidade — como despensas e armários. Uma cápsula de ovos pode gerar até 40 filhotes.

A barata oriental (Blatta orientalis) é a mais escura e resistente. Tem corpo arredondado, coloração quase preta e mede entre 2 e 3 cm. Prefere ambientes frios, úmidos e pouco iluminados. É comum em porões, caixas de gordura, jardins e áreas externas. Sua presença indica falhas graves de higiene.

Segundo Sandra, o Brasil abriga uma grande diversidade de baratas, incluindo espécies adaptadas a áreas litorâneas, portos e cavernas. "Há baratas específicas de cais, armazéns e regiões costeiras. Mas têm hábitos mais restritos e são pouco encontradas em casas". O controle deve considerar essas características.
Há perigo de ataque?
Elas não costumam nos atacar, mas... Sandra explica que as baratas não tem tendência a se aproximar dos humanos, mas isso pode acontecer em algumas situações.
Lugar com infestação é mais perigoso. Nestes casos, elas podem morder humanos caso se sintam ameaçadas. Geralmente, as baratas que podem nos atacar são as silvestres que voam - e sim, elas podem pousar em pessoas.
Cuidado com os restos de comida. Como baratas fazem parte da fauna sinantrópica, ou seja, dos animais silvestres que se adaptaram a viver junto com os humanos, elas podem se aproximar da boca de humanos com restos adocicados de comida. É raro - mas não custa estar sempre com a boca limpa, não é mesmo?
Riscos à saúde
Baratas carregam mais de 40 tipos de bactérias e microrganismos prejudiciais à saúde humana. "Já identificamos Escherichia coli, Salmonella, Shigella e ovos de helmintos (vermes parasitas que causam doenças ao se alojarem no organismo humano, como lombrigas e tênias). As baratas são agentes de diarreias, conjuntivites, intoxicações e infecções hospitalares", diz Sandra.
A infestação está diretamente ligada à desigualdade social nos centros urbanos. Em regiões sem coleta de lixo, saneamento ou moradia adequada, a proliferação é mais intensa. "Nesses locais, a infestação é maior, agravando doenças e o estresse psicológico", explica.
O impacto emocional também é relevante. "Muitas pessoas desenvolvem fobias e reações intensas", diz Sandra. O simples avistamento pode causar crises de pânico e ansiedade.
Como se proteger
O controle exige mais do que veneno. É essencial impedir o acesso dos insetos à comida e à água, vedar ralos, fechar frestas e descartar o lixo corretamente. Inseticidas devem ser aplicados por empresas autorizadas.
Medidas isoladas não resolvem. A dedetização precisa integrar ações preventivas e conscientização. "Sem isso, o problema reaparece, especialmente onde há alimentos e resíduos", afirma Sandra.
Produtos clandestinos ou caseiros são um risco. "Ainda há quem use venenos irregulares. Isso gera mais riscos que soluções". O controle começa com hábitos diários e pode ser reforçado com denúncias a órgãos públicos.
E a legislação?
Apesar dos riscos, o Brasil não tem uma lei sanitária específica para o controle de baratas. A advogada Adriana Faria, especialista em direito do consumidor, explica que o tema é tratado de forma genérica. "O controle está diluído em normas como a RDC nº 622/2022 da Anvisa, que trata da dedetização, mas não regula o combate às baratas".
A falta de normas claras dificulta a responsabilização. "A presença de baratas em padarias, restaurantes ou supermercados já configura falha na prestação do serviço — mesmo sem contaminação. O Código do Consumidor é claro: o fornecedor responde objetivamente pelos riscos à saúde".
Casos já chegaram à Justiça. "A jurisprudência reconhece que o contato com ambiente insalubre pode gerar indenização. Já houve decisões com danos morais mesmo sem ingestão de produto", diz Adriana.
O poder público também pode ser acionado. "Baratas em escolas ou unidades de saúde configuram omissão. O Estado tem responsabilidade objetiva. Já houve condenações por infestação em creches e hospitais", afirma.
Segundo a advogada, o consumidor pode acionar os órgãos de vigilância sanitária e o Procon em casos de infestação por baratas em estabelecimentos comerciais ou serviços públicos. Ela também ressalta que, em situações mais graves, é possível ingressar com ação judicial pedindo indenização por danos morais.
Em nota, a Anvisa confirmou que a RDC nº 622/2022 regula as empresas que atuam no controle de pragas e vetores urbanos, sem distinguir tipos específicos como baratas. Segundo o órgão, essas empresas devem ser licenciadas pelos municípios, que também são responsáveis pela fiscalização. A norma define como pragas urbanas os animais que infestam ambientes urbanos e causam danos à saúde ou prejuízos econômicos; e como vetores os invertebrados capazes de transmitir microrganismos por vias mecânicas ou biológicas. A resolução atualiza regras anteriores de 2009 e 2010, e não há, por ora, proposta de nova revisão.
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