Estudante espancado na saída de boate no RJ: 'Pensava: eu não posso morrer'

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A noite que prometia ser de diversão terminou em violência para Pedro Jordão, 25 anos, que foi brutalmente espancado na saída de uma balada na Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro.
Em entrevista ao UOL, o estudante de direito da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), contou que viveu momentos de terror e luta pela sua saúde e por Justiça. Quatro agressores foram presos e indiciados por tentativa de homicídio. Outros dois seguem foragidos.
A única coisa que passava pela minha cabeça era "eu não posso morrer, eu não posso morrer". Foram 22 pisões no meu rosto só de um agressor. Todo tempo tentaram acabar com minha vida e, por um milagre de Deus, estou aqui na luta por Justiça, em busca de qualquer coisa que possa sanar minimamente todo esse terror que eu vivi, todas as lesões e agressões que eu sofri.
Ele e o amigo chegaram na balada por volta da meia-noite do dia 23 de maio. Tudo corria bem até que ele precisou passar e educadamente, pediu licença para um grupo de rapazes. Um deles ofendeu o estudante, que rebateu. Antes que a situação ficasse ainda mais tensa, Pedro se retirou e foi para outro canto. Depois do episódio, não demorou muito e o mesmo grupo iniciou uma briga com outras pessoas na balada, mas dessa vez, foram expulsos.
"A briga, por incrível que pareça, é justificada por um comentário péssimo e absolutamente classista. Um dos principais autores, conhecido como Pedro Vasconcellos, falou que eu não tinha dinheiro para passar do lado dele, que ele pagou 17 mil naquilo tudo e que eu não poderia passar por ali, sendo que eles estavam fechando a passagem. Horas depois, no fim da festa, quando estava indo embora, comecei a ser violentamente agredido. Demorei até entender o que estava acontecendo, porque jamais esperaria algo desse tipo. Foi de uma brutalidade ímpar e de um ímpeto muito claro de acabar com a minha vida", diz a vítima.
Assim que a violência começou, o amigo de Pedro pediu ajuda e foram os seguranças da balada e o grupo de brigadistas que prestaram socorro, chamaram a ambulância e a polícia, impedindo a fuga dos agressores.
O estudante perdeu a consciência no momento da agressão e foi hospitalizado com lesões no maxilar, hematomas e indicação de cirurgia no rosto. Segundo Pedro, os médicos o alertaram que, até 12 meses após o ocorrido, podem surgir diversas sequelas cerebrais, sua maior preocupação.
Luta por Justiça
A investigação foi conduzida pela 15ª Delegacia de Polícia e encerrada após o indiciamento. O caso foi denunciado pelo MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e agora vai para o Tribunal do Júri.
"O crime de homicídio, ainda segundo a denúncia, foi cometido por motivo cruel e torpe e não se consumou por circunstâncias alheias à vontade dos acusados, já que a vítima foi prontamente socorrida por uma viatura do Corpo de Bombeiros e encaminhada ao Hospital Miguel Couto. Além Pedro Vasconcelos do Amaral Sodré, conhecido como "Rebordão" e Bruno Krupp, foram denunciados Artur Velloso Araujo, Jacobo Pareja Rodriguez, Felipe de Souza Monteiro e Luma Melo Rajão. O MPRJ requer que os denunciados sejam levados a júri popular", diz a nota do MPRJ.
"Estou em processo de melhora, consigo andar normalmente e aguardando cicatrizar o ferimento na minha cabeça. Estou retomando minha vida com faculdade, trabalho e cuidando da família que ficou muito assustada com toda essa situação. Tenho feito acompanhamento psicológico, tenho medo, sigo preocupado e assustado, mas agora feliz com as prisões e querendo retomar tudo, desde lazer até minhas obrigações", disse Pedro ao UOL.

O que aconteceu
O MPRJ denunciou o modelo Bruno Krupp e outras cinco pessoas por tentativa de homicídio qualificado contra um estudante de direito. Krupp já havia sido preso em 2022 por matar um adolescente de 16 anos em um atropelamento, na Barra da Tijuca.
O desentendimento teria começado ainda dentro do bar. Quando pegava o carro para ir embora, o estudante foi cercado pelo grupo de agressores e levou diversos chutes e socos na cabeça, ficando desacordado.
Krupp teria incentivado que as agressões continuassem, mesmo com a vítima desacordada. "Mata ele. É os capetas. Mata o gorducho. Tem que matar. Tem que matar. É os capeta. Mata esse filho da P*", teria dito o modelo.
As agressões foram registradas em câmeras, e uma das vítimas, já caída no chão, recebeu 22 pisões no rosto. "Parte do grupo gritava para que os agressores matassem o homem, que ficou desacordado por cinco dias", diz a Polícia Civil, em nota enviada para UOL.
Suspeitos procurados já são considerados foragidos da Justiça. Jacobo Pareja Rodriguez, 26, apontado como um dos responsáveis por chutar a cabeça da vítima, teria ido para o Paraguai para não ser preso. Com passagens por tráfico de drogas e posse de arma, Felipe de Souza Monteiro, 24, o outro foragido, teria fugido para o Rio Grande do Sul, segundo investigações.

Bruno Krupp já havia sido preso por atropelar e matar um adolescente. Caso ocorreu em 2022, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. O modelo responde a um processo por homicídio com dolo eventual, quando o autor assume o risco de matar.
Autor das agressões tem antecedentes criminais por tráfico e roubo. Já preso, Pedro Vasconcelos do Amaral Sodré, 26, é apontado como o responsável pelos mais de 20 chutes e pisões na cabeça da vítima. Ele tem anotações por crimes como roubo, tráfico, violência doméstica e organização criminosa, segundo a polícia. Ele também é investigado por tráfico de drogas sintéticas e clonagem de cartões.
Mulher também foi presa por "incitar a agressão". Namorada de Pedro, Luma Melo Rajão, 20, conhecida como "Maria Manicômio", é uma jovem de classe média alta que morava em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Artur Velloso Araújo, 18, que aparece nas imagens também desferindo chutes e socos na vítima já caída, foi preso em São Paulo. O UOL não localizou a defesa dos suspeitos envolvidos no caso.
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