Homem morto em Interlagos: o que se sabe e o que falta esclarecer no caso

A morte do empresário Adalberto Amarilio dos Santos, 35, ainda é considerada um mistério e as investigações seguem em andamento sob segredo de Justiça. Veja abaixo o que se sabe sobre o caso e o que falta esclarecer.

Qual foi a última vez que ele foi visto?

Em um evento de motos no Autódromo de Interlagos, zona sul de São Paulo, no dia 30 de maio. Último contato do empresário com a esposa, a farmacêutica Fernanda Dândalo, foi neste dia, às 19h40. Diante da demora da volta do marido para a casa, ela entrou em contato, por volta de 1h55 do sábado, com um amigo dele que também estava no evento. O amigo teria contado a ela que, ao se despedir, Adalberto disse que contornaria o autódromo para buscar o carro, que estava no estacionamento do kartódromo. O desaparecimento foi, então, reportado à polícia.

Pelas redes sociais, familiares de Adalberto e amigos fizeram uma campanha para tentar localizá-lo. Eles pediam que informações sobre o seu paradeiro fossem enviadas para a companheira dele por meio de seu perfil no Instagram.

Quando o corpo foi encontrado?

Na manhã do dia 3 de junho. O corpo foi localizado por funcionários de uma obra próxima ao kartódromo, do lado de fora da pista de Interlagos. Eles teriam avistado, à princípio, os braços da vítima junto a um capacete de moto dentro de um buraco fundo.

Algum pertence dele foi roubado?

Ele estava sem as calças e sem tênis. Uma calça semelhante à que era usada pelo empresário foi encontrada nas imediações, mas não foi reconhecida pela esposa como pertencente a ele. É possível que as peças tenham sido levadas pelos agressores e, provavelmente, destruídas.

Pertences pessoais, como aliança, celular, carteira com dinheiro e documentos estavam próximos ao corpo. A diretora do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa de São Paulo), Ivalda Aleixo, disse em entrevista coletiva no último dia 3 que todos esses detalhes levaram a polícia a trabalhar com a hipótese de Adalberto ter sido morto bem antes. "O rigor mortis, como nós chamamos, não passa de 36, 40 horas. Se colocar uma pessoa viva dentro dali, ela vai fazer isso [agita os braços], ela vai espernear. É mais fácil colocar [no buraco] morto do que vivo."

O capacete usado por Adalberto para pilotar a motocicleta estava rachado. Para os investigadores, esse é um indício de que o empresário utilizou o equipamento para tentar se defender após ter sido atacado.

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Qual foi a causa da morte?

Asfixia, conforme o laudo do Instituto Médico Legal. Ricardo Lopes Ortega, diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Técnica-Científica de São Paulo, disse à TV Globo que o corpo apresentava "escoriações superficiais" e sua morte pode ter ocorrido por uma "compressão torácica que promoveu uma asfixia".

Além disso, corpo foi encontrado com "vermelhidões na região do pescoço". Ainda não se sabe se os sinais decorreram de possíveis agressões ou do período em que o empresário ficou preso no buraco.

Ele foi encontrado dentro de uma escavação de engenharia, uma profundidade de três metros por um diâmetro de aproximadamente 80 centímetros. Foram empregadas todas as tecnologias que temos. Foi usado drone, scanner 3D, que é um processo que a gente imortaliza tridimensionalmente a cena de um crime.
Ricardo Lopes Ortega, em entrevista à TV Globo

Adalberto não morreu de forma instantânea e foi vítima de um assassinato "lento e sofrido'. "[Ele teve] uma morte lenta, agonizante... Ele podia estar tentando respirar", segundo a diretora do DHPP.

Perícia encontrou sangue no carro do empresário que estava estacionado no autódromo. Foram solicitados exames para comparação genética e confirmação de que o material biológico encontrado seria de Adalberto. A polícia concluiu parcialmente que o sangue é dele e de mulher ainda não identificada. "Outros exames e demais coletas estão sendo feitas visando à devida elucidação dos fatos. Demais detalhes serão preservados devido ao segredo de Justiça imposto", afirmou a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo).

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Também foi encontrado sêmen na região peniana. Laudo da Polícia Técnico-Científica deu positivo para PSA (Antígeno Prostático Específico). Essa proteína produzida pela próstata é encontrada em pequenas quantidades no sangue e em maior quantidade no sêmen. No entanto, isso não é um indicativo de que Adalberto teve relação sexual antes de morrer, segundo o secretário-executivo da SSP, Osvaldo Nico, já que liberação do líquido é normal em casos de asfixia.

Quais as linhas de investigação?

Polícia investiga o caso como homicídio, mas nenhum suspeito foi preso até o momento. Ainda segundo Nico, os policiais trabalham com três linhas de investigação, mas maiores detalhes não foram fornecidos porque "o caso é complexo e está sob sigilo".

Adalberto pode ter sido agredido por entrar em área restrita do autódromo, aponta uma das principais linhas de investigação. É o que informou ao UOL uma fonte ligada à SSP-SP.

A investigação retomou a oitiva de seguranças que trabalharam no evento e faz um pente-fino nas imagens de câmeras instaladas no autódromo. A polícia obteve a lista das pessoas que trabalharam no evento —são mais de 180 pessoas, entre homens e mulheres.

Ele pode ter sido abordado por mais de uma pessoa. Isso explicaria também o fato de ter sido encontrado sem as calças e o par de tênis que usava. Enquanto uma pessoa o continha com um golpe de mata-leão —o braço em torno do pescoço, exercendo pressão—, a outra o segurava pelas pernas. Um dos laudos apontou uma lesão no joelho, uma escoriação que teria ocorrido com ele ainda vivo. A polícia acredita que Adalberto foi abordado no trajeto entre o local do evento e o ponto em que seu carro estava estacionado.

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Os familiares afirmam que o empresário não tinha inimigos. Segundo a polícia, nada foi apurado durante o evento que justificasse uma perseguição a ele, o que reforça a hipótese de uma abordagem ocasional, no percurso até o carro, seguida da briga. Adalberto se apresentava nas redes sociais como empreendedor. Ele trabalhava em uma ótica, que possui unidades em Osasco e em Barueri, na Grande São Paulo.

Depoimento de amigo contradisse exames. Um amigo de Adalberto disse que o empresário havia ingerido bebidas alcoólicas e fumado maconha durante o evento. No entanto, resultado do exame toxicológico deu negativo —o tempo decorrido entre a morte e a coleta do material, de cerca de três dias, pode ter eliminado os vestígios de álcool no sangue. O amigo não é considerado suspeito, mas uma testemunha do crime.

Análise das unhas pode explicar se houve briga. A análise do material colhido sob as unhas da vítima pode confirmar se houve a briga, já que normalmente a reação da vítima causa arranhões no agressor. Também foi recolhido material genético —pelos e vestígios de pele— nas roupas e no corpo do empresário e os laudos estão em elaboração.

*Com informações de reportagens publicadas em 03/06/2025, 06/06/2025, 13/06/2025, 18/06/2025, 03/06/2025 e da Agência Estado.

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