Parintins tem 'boom de turismo' com festival, mas cidade enfrenta desafios

O Festival Folclórico de Parintins em 2025 registrou recorde de público, com mais de 120 mil turistas nos três dias de evento. A festa, considerada uma das mais importantes da região norte, reúne arte, tradição e rivalidade no Bumbódromo. A arena, com formato da cabeça de um boi, recebe a disputa entre os bois-bumbás, Caprichoso e Garantido.

A cidade enfrenta gargalos de infraestrutura para receber um público que mais que dobra a população local —e deve ser ainda maior, já que o plano do Governo do Amazonas é expandir o festival.

Infraestrutura é desafio para crescimento

Número de turistas na "Ilha da Magia" supera o de habitantes nos três dias do festival. Vivem em Parintins 96.372 pessoas, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Trânsito é principal desafio. Com cerca de 210 mil pessoas na cidade, entre moradores e turistas, a movimentação nas vias no último final de semana de junho é caótica, especialmente na região do Bumbódromo.

Além do alto fluxo de visitantes, há a necessidade de transportar e armazenar as alegorias dos bois, que afeta o tráfego. "Esse ano demos uma organizada bem bacana, por exemplo, desafogando algumas vias que ficavam obstruídas devido às alegorias. A gente conseguiu entrar num acordo com os dois bois para diminuir essas interdições, justamente para fluir um pouco melhor esse trânsito", diz Karla Viana, secretária de Turismo e Eventos de Parintins.

Em um vaivém desordenado, circulam carros, vans, motos e, em especial, os triciclos, o mais comum dos transportes locais, que tentam atender à explosão de visitantes. "Chegam muitos carros para prestar serviços das empresas patrocinadoras, assim como vem muito carro oficial", diz Viana.

A gente tem essa dificuldade realmente de ordenamento de trânsito porque aqui é uma ilha e a ilha não aumenta de tamanho. Aumenta só a quantidade de carros. A gente não consegue, de certa forma, fazer com que isso funcione 100%. Karla Viana, secretária de Turismo e Eventos de Parintins

Rua na cidade de Parintins durante o festival
Rua na cidade de Parintins durante o festival Imagem: Beatriz Gomes/UOL

Com vagas na rede hoteleira esgotadas meses antes do festival, famílias alugam cômodos —ou toda a casa— para turistas. Também é possível alugar espaços nos barcos atracados no porto de Parintins. Além dos aluguéis independentes, um projeto do governo estadual, o Cama e Café, orienta moradores a receberem turistas em casa, oferecendo café da manhã e outros serviços a preços baixos.

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A produção e o descarte de lixo, em especial nos dias de festival, também são preocupações. O principal foco é evitar que os resíduos cheguem ao rio Amazonas.

Mais de dez toneladas de lixo foram coletadas este ano. Desde 2019, o projeto "Recicla, Galera" distribui, em troca de resíduos, brindes de cada um dos bois e doações para o Caprichoso ou o Garantido —que revertem pontos na disputa pelo prêmio de campeão sustentável do festival. A iniciativa é do governo do Amazonas e da Coca-Cola Brasil.

População troca recicláveis por produtos da Coca-Cola e brindes em ponto do 'Recicla, Galera'
População troca recicláveis por produtos da Coca-Cola e brindes em ponto do 'Recicla, Galera' Imagem: Beatriz Gomes/UOL

Parintins reconhece os desafios e aposta na melhoria de infraestrutura para o festival crescer. "A Prefeitura tem treinamento para o setor turístico como bares, restaurantes e meios de hospedagem", diz Viana.

Tentamos todo ano melhorar a infraestrutura, principalmente as vias de acesso, a questão de melhoria de água na cidade, o tratamento de esgoto e coleta de lixo. Karla Viana, secretária de Turismo e Eventos de Parintins

Recorde de público impulsiona a economia de Parintins

Mais de 120 mil turistas passaram por Parintins neste ano. Estimativa preliminar aponta que o festival movimentou cerca de R$ 184 milhões, segundo o Governo do Amazonas —2,26% a mais que no ano passado.

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Localizada na margem direita do rio Amazonas, a cidade fica a cerca de 369 quilômetros de Manaus. Só é possível acessar a ilha por via aérea ou fluvial. O voo dura cerca de 55 minutos e o trajeto de barco leva em torno de oito a 30 horas, dependendo do tipo de embarcação.

Município de Parintins, no Amazonas
Município de Parintins, no Amazonas Imagem: Arte UOL

Festival atraiu recorde de voos e embarcações. O aeroporto da cidade registrou 1.068 operações aéreas durante o festival, de acordo com o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de tráfego Aéreo. No ano passado, foram 979. No Porto de Parintins, houve embarque e desembarque de 691 embarcações, acima das 550 de 2024. Por via fluvial, entraram no município 105 mil passageiros.

Embora o festival aconteça dentro do Bumbódromo, o evento toma conta da cidade. Quem não consegue ingresso para entrar na festa, assiste pela televisão em bares e também circula na frente da arena. Ambulantes aproveitam para vender bebidas, comidas e roupas dos bois nos arredores, onde apoiadores do Caprichoso e Garantido se reúnem para apoiar e torcer para o boi favorito.

Vista do bumbódromo com movimentação de turistas, durante o 1º dia do 58º Festival Folclórico de Parintins
Vista do bumbódromo com movimentação de turistas, durante o 1º dia do 58º Festival Folclórico de Parintins Imagem: 27/06/2025 - Edmar Barros/Ato Press/Folhapress
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Tradição divide a ilha em duas cores. A cada esquina, é possível ver casas pintadas de vermelho, do boi Garantido, e azul, do Caprichoso. Bares, restaurantes, mercados, bancos e marcas derem às duas cores para atrair os torcedores. Parintins é o único local do mundo onde o logotipo da Coca-Cola é aplicado em fundo azul.

Obras para ampliação do Bumbódromo estão previstas para o segundo semestre do ano que vem. O governo estadual, que é um dos patrocinadores do evento, diz que as melhorias buscam oferecer mais conforto ao público, e movimentar mais a economia.

Neste ano, o festival teve 19 patrocinadores, dos setores privado e governamental; três marcas, no entanto, não conseguiram fazer parte. André Guimarães, CEO da Maná Produções, que opera a verba privada do evento, disse ao jornal Valor Econômico que as recusas aconteceram em razão da falta de espaço para a colocação de outros camarotes no Bumbódromo.

*O UOL viajou a Parintins a convite da Coca-Cola Brasil

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