Análise: Quais votos definirão ida de Martha ou Crivella ao 2º turno no Rio

A pesquisa Ibope divulgada ontem (9), a menos de uma semana do 1º turno das eleições, manteve o empate técnico entre o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), e a deputada estadual Martha Rocha (PDT), em uma disputa aberta por vaga no 2º turno. Cientistas políticos ouvidos pelo UOL indicam que os votos de bolsonaristas, de eleitores da esquerda e a rejeição a Crivella irão definir quem passará para a segunda etapa da disputa pela Prefeitura do Rio.

Consolidado na liderança com 33% das intenções de voto, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) está virtualmente no 2º turno do pleito, segundo analistas. Crivella (15%) e Martha (14%) encabeçam o segundo pelotão, que também conta com a petista Benedita da Silva (9%), no limite da margem de erro —de três pontos para mais ou para menos— com chances remotas de surpreender.

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Trunfos para chegar ao 2º turno

De acordo com cientistas políticos, a arrancada de Martha Rocha no começo da campanha foi brecada pelos ataques de Paes e Crivella no horário eleitoral. Contudo, a baixa rejeição aliada aos votos de parte da esquerda e de eleitores contrários a Crivella podem definir um crescimento na reta final da campanha.

Já Crivella tem como trunfo um eleitorado já consolidado, apesar da alta rejeição. Segundo os especialistas, o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pode ser determinante para levá-lo ao 2º turno. No entanto, até o momento, o apoio explícito de Bolsonaro ao prefeito —o presidente gravou vídeo com Crivella— não rendeu crescimento significativo para o republicano.

Resistência da esquerda

O cientista político Ricardo Ismael vê um movimento encabeçado por intelectuais e artistas como uma tentativa de cativar o voto útil da esquerda para alavancar a campanha de Martha Rocha. Contudo, observa certa resistência por parte dos eleitores de Benedita e Renata Souza (PSOL). Ele afirma crer que a pedetista ainda pode contar com o voto útil de eleitores de esquerda menos vinculados ao PSOL e ao PT, interessados em tirar Crivella do pleito.

Não há sinalização de aliança da cúpula da esquerda, que não quer se unir e rejeita uma unidade em torno da Martha. Mas ela tem chances de ultrapassar Crivella nessa reta final com base na migração de votos de eleitores que querem evitar que Paes e Crivella disputem o 2º turno

Ricardo Ismael, cientista político

"Eduardo Paes está com a vaga praticamente assegurada para o 2º turno. Eu diria que a segunda vaga está entre Crivella e Martha Rocha", projeta.

O especialista não descarta a chance de uma arrancada na reta final de Benedita, mas diz acreditar que essa possibilidade é remota.

"Pode até ser que ela mobilize pessoas que historicamente votaram nela. Mas é uma liderança mais antiga. E tem rejeição maior em comparação com a Martha, que aparece como uma alternativa melhor para unir a esquerda em uma candidatura mais competitiva. Para quem acompanha pesquisas e quer evitar o 2º turno entre Paes e Crivella, a escolha por Martha seria mais racional", avalia.

Bolsonaristas e eleitores de Paes

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro vê potencial de crescimento de Crivella entre os eleitores bolsonaristas após a estabilização de Luiz Lima (PSL), que se mantém com 4% das intenções de voto.

"Crivella está conseguindo reunir o eleitorado conservador. Pode ser que o apoio de Bolsonaro dê a ele esse fôlego necessário para ir ao 2º turno. A disputa pela segunda vaga vai ser decidida no detalhe. Resta saber qual vai ser a estratégia das campanhas", analisa.

Para ele, Martha Rocha tem poucas possibilidades de fisgar mais votos dos eleitores de esquerda de Benedita e Renata Souza. Mas acredita que ela ainda possa "tirar" votos de Paes.

"Os eleitores de esquerda já fizeram a sua opção. O eleitorado de Martha é o da classe média com uma tendência mais pragmática, que apoia pessoas com capacidade de gestão. É o mesmo de Paes. Ela pode chegar ao 2º turno com o voto útil de parte da esquerda ou até mesmo de conservadores contrários a Crivella, que tem alta rejeição", projeta Monteiro.

'Crivella não é o Russomanno', diz cientista político

Com base nas pesquisas, o cientista político Paulo Baía já projeta, por sua vez, um 2º turno entre Paes e Crivella.

"Em uma hipótese muito remota, Martha só chegará ao 2º turno se voltar a crescer. Não esperem uma queda de Crivella. Ele não é o Russomanno", disse, em alusão à queda de Celso Russomanno (Republicanos) na pesquisa para a Prefeitura de São Paulo.

Ele diz acreditar que a pedetista pode retomar o crescimento se mirar nos eleitores de Bandeira de Mello (Rede), Eduardo Paes e Luiz Lima.

"Esses eleitores podem mudar para a Martha com um único argumento: não querer o Crivella no 2º turno. Se eu fosse a Martha, faria campanha só contra o Crivella. É a única alternativa que ela tem de seguir na disputa", projeta.