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Boulos cola Covas em Doria e diz que representa a mudança no 2º turno

Anaís Motta, Emanuel Colombari, Juliana Arreguy e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

15/11/2020 23h33Atualizada em 16/11/2020 16h23

Adversário de Bruno Covas (PSDB) no segundo turno das eleições, Guilherme Boulos (PSOL) criticou o atual prefeito de São Paulo, ligando-o ao governador do estado, João Doria (PSDB), e culpando-o pelo "abandono" da periferia. Para Boulos, que diz representar a mudança, sua campanha mostrou ser possível fazer política "com verdade".

"Estamos no meio da crise do coronavírus, São Paulo está com hospitais fechados. A periferia está abandonada pelo PSDB. Eu não sou daqueles que aparecem na periferia de quatro em quatro anos para fazer promessa e tirar foto. Para mim, a periferia e as pessoas que estão aqui não são estatísticas, são gente com histórias e trajetórias", disse o candidato do PSOL.

A mudança neste segundo turno é representada pela nossa chapa, por mim e pela Luiza Erundina [PSOL, candidata à vice-prefeita]. São Paulo está num momento histórico. Temos a oportunidade de virar a página.
Guilherme Boulos (PSOL), candidato a prefeito de São Paulo

Boulos também citou o pronunciamento de Covas, feito pouco antes do seu, em que o atual prefeito falou sobre ter "vencido" o radicalismo no primeiro turno e a esperança de vencê-lo novamente no segundo.

"Radicalismo é o abandono do povo em uma cidade como São Paulo. O que está em jogo no segundo turno é se vai vencer a mesmice, os mesmos de sempre, que mandaram a cidade para o abismo em que estamos hoje, ou a esperança, um projeto de futuro", respondeu.

Uma noite de espera

A euforia de um resultado prévio no final da tarde deu lugar à tensão entre a equipe de campanha do candidato do PSOL. E a culpa foi do problema na Justiça Eleitoral que travou a divulgação da apuração dos votos na capital paulista por horas.

Apenas pouco antes da meia-noite, saiu o resultado quase final, com 99,67% das urnas apuradas: 32,85% para Covas e 20,24% para Boulos. A expectativa era que o resultado já fosse conhecido no início da noite.

Conforme explicou o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, o sistema de totalização e divulgação dos resultados do TSE teve uma pane técnica que atrasou todo o processo. Apesar disso, Barroso reforçou que o atraso não compromete a lisura do processo eleitoral.

Euforia e tensão

Divulgados pouco após as 17 horas, os números da pesquisa boca de urna do Ibope geraram animação em todos na campanha. "Estou indo ali na UTI e já volto", disse um dos integrantes da equipe de Boulos. No sábado (14), as pesquisas indicavam 17% dos votos válidos para a candidatura. A boca de urna, 25%, a oito pontos de Covas, adversário no segundo turno.

Desde então, a atenção se voltou para a apuração. Mas havia só um problema: o sistema não atualizava e ficou travado em menos de 1% das urnas apuradas por quase cinco horas.

Boulos acompanhou a apuração em sua casa, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo, com sua família e integrantes da campanha. Durante a espera, ele apareceu apenas uma vez. Sorridente, acenou da sacada para apoiadores e vizinhos que se concentraram na frente da sua residência.

Tensão com falta de notícias

Dentro da residência, o clima era de apreensão e expectativa por números oficiais após a boa notícia da boca de urna. "Todo mundo tenso. Apuração demorando muito", disse uma fonte dentro da casa.

Do lado de fora, os apoiadores e vizinhos também demonstravam impaciência à medida que não surgiam novidades da apuração. A partir das 22h30, muitos começavam a voltar para suas casas.

Membros da campanha de Boulos perguntavam à reportagem se havia novidades vindas do TSE. A expectativa era grande. Mesmo assim, com base na boca de urna, já era possível ver que a presença no segundo turno era garantida na visão de dirigentes do partido.

"Dá para vencer a eleição em São Paulo", declarou ao UOL um animado Juliano Medeiros, presidente nacional do partido. Ele disse que "o PSDB mostra uma força, mas que pode ser superada".

Responsável pela campanha de Boulos na televisão e no rádio, o jornalista Chico Malfitani comemorou a diferença menor do que o esperado para Covas, mesmo com o tucano tendo 12 vezes mais tempo no horário eleitoral do que Boulos. "Agora, no segundo turno, o jogo é outro". As duas campanhas terão os mesmos tempos.

"Clima é de virada, não só de segundo turno, mas de chegar à prefeitura", disse o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), que passou nas casas de Boulos e da vice da chapa, a deputada federal Luiza Erundina.

Por falar em Erundina, Malfitani, que esteve com ela na vitoriosa e surpreendente campanha de três décadas atrás para a prefeitura, fez uma comparação. "A gente está repetindo a Erundina em 1988."

Boulos cresceu durante campanha

O resultado aponta grande descolamento de Boulos em relação a Márcio França (PSB) e Celso Russomanno (Republicanos). Nas últimas pesquisas antes da eleição, o psolista vinha aparecendo tecnicamente empatado com os outros dois candidatos.

Ainda ontem, o Ibope apontava que Boulos tinha 16% de intenção de votos válidos (com margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos).

No final de outubro, o Datafolha indicava que Boulos não era conhecido por quatro em cada dez eleitores paulistanos. Com apenas 17 segundos de propaganda eleitoral na TV, ele investiu na campanha em redes sociais e atraiu a atenção de boa parte do eleitorado mais jovem.