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Boulos aposta em TV para conquistar idosos e lutar contra imagem de invasor

Campanha de Boulos e Erundina tem como meta melhorar performance na periferia e torná-lo mais conhecido entre os mais velhos - 6.nov.2020 - Aloisio Mauricio/Estadão Conteúdo
Campanha de Boulos e Erundina tem como meta melhorar performance na periferia e torná-lo mais conhecido entre os mais velhos Imagem: 6.nov.2020 - Aloisio Mauricio/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

16/11/2020 04h00

A chegada ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo traz novos desafios para a campanha de Guilherme Boulos. O candidato do PSOL conseguiu uma vaga para permanecer na eleição mesmo sendo desconhecido por quatro em cada dez paulistanos, segundo pesquisa Datafolha de 21 outubro. E a estratégia para mudar esse cenário a partir de agora passa por maior tempo na televisão, debates e o apoio de sua vice, a deputada federal Luiza Erundina (PSOL), ex-prefeita da capital paulista.

As pesquisas realizadas antes do primeiro turno mostraram que o eleitorado de Boulos ficou concentrado em algumas faixas da sociedade: a dos mais ricos e mais escolarizados. E isso mesmo atuando há cerca de duas décadas em um movimento social, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), mais próximo da população que vive na periferia —e que preferiu outros candidatos, como seu adversário no segundo turno, Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição.

E se Boulos reclamou ao longo de toda a campanha que tinha pouco tempo na televisão, tanto no horário eleitoral quanto em debates, agora esses números serão multiplicados. Com espaço na televisão, o candidato da esquerda quer ficar mais conhecido entre os mais velhos, já que conquistou os mais jovens no primeiro turno com uma campanha voltada para as redes sociais.

Além disso, o psolista pretende usar suas aparições na mídia tradicional para modificar conceitos que parte do eleitorado tem dele, como o de "invasor" em razão de ocupações que coordenou no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Tempo multiplicado

Se em cada bloco no horário eleitoral ele tinha 17 segundos para se apresentar ao público, agora ele terá 17 vezes esse tempo: serão cinco minutos. "Com 17 segundos, você mal tem tempo de construir um raciocínio", diz para o UOL Chico Malfitani, responsável pela campanha de Boulos na televisão.

Ele compara que, no primeiro turno, a sensação era a de escalar um time de futebol com seis jogadores para enfrentar outro com 11. A campanha de Covas, com o maior tempo no horário eleitoral —3 minutos e 29 segundos por bloco—, era o equivalente a 12 da de Boulos. "É muito difícil. E mesmo assim a gente está indo para o segundo turno."

Campanha - Reprodução - Reprodução
Campanha de Boulos nas redes sociais e na televisão também tem apostado em um tom de humor
Imagem: Reprodução

Dois lados

Mas a campanha só poderá desfrutar desse aumento de tempo por uma semana. O horário eleitoral retorna no dia 20 de novembro e termina uma semana depois, no dia 27. O segundo turno é no domingo (29). O curto espaço de tempo tem um lado bom e um ruim, comenta Malfitani. Serão apenas oito dias para se mostrar como opção à chapa de Covas.

O bom é que ele terá um pouco de tempo para ampliar sua equipe. Malfitani trabalhou com seis pessoas no primeiro turno e pretende ampliar esse número para dar conta de produzir programas de cinco minutos. "Isso vai ser montado. Vamos trocar o pneu com o carro andando."

A televisão será importante em busca do eleitor de periferia. "Exatamente por eu não conseguir chegar a toda população a partir da televisão —porque as redes sociais têm um alcance limitado no Brasil por conta dos pacotes de internet, do preço—, eu tenho 40% de taxa de desconhecimento", diz Boulos, que, no primeiro turno, teve sua campanha calcada principalmente no mundo digital, com pitadas de humor e memes.

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Covas (esq.) e Boulos terão ao menos nove debates ao longo das duas semanas de segundo turno
Imagem: 11.nov.2020 - Mariana Pekin/UOL

Debates quase diários

Se a campanha terá duas semanas, Boulos e Covas terão compromissos em ao menos nove dias com debates. O número é mais do que o dobro se for comparado com os quatro debates do primeiro turno, o que foi alvo de constante reclamação do candidato do PSOL. Emissoras de televisão cancelaram seus debates tendo como alegação cautela por causa da pandemia do novo coronavírus.

"Ter os debates no segundo turno, para nossa campanha, vai ser muito importante", diz Boulos. A tese do candidato é de que, com os debates, junto com o horário eleitoral, ele chegará ao mesmo nível de taxa de conhecimento de Covas, hoje próxima dos 100%.

"Isso vai tornar a nossa candidatura altamente competitiva, que a gente tenha condições reais de, no segundo turno, ganhar as eleições em São Paulo", diz Boulos.

A quantidade de debates deve afetar as agendas de rua do candidato, já que as campanhas costumam reservar um tempo para descanso e preparação antes dos encontros. "Eu vou fazer agenda de rua. Estando no segundo turno, não tem como não fazer. E, um pouquinho antes do debate, me recolher, para me preparar. Mas é possível conciliar."

agendas - 3.nov.2020 - Suamy Beydoun/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo - 3.nov.2020 - Suamy Beydoun/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
Erundina e Boulos devem dividir agendas de rua na campanha de segundo turno
Imagem: 3.nov.2020 - Suamy Beydoun/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo

Rua dividida

Uma tática das últimas duas semanas deve se repetir nas próximas duas: agendas independentes para ele e para a sua candidata a vice. "Enquanto eu estava no Campo Limpo, a Erundina estava em São Mateus. Tinha demanda para ir para os dois lugares", relatou Boulos, lembrando o que aconteceu na última quinta-feira (12). "O que a gente tem feito é aproveitar melhor a agenda".

Mas há também um motivo por trás. O eleitorado de Erundina está principalmente na periferia, que ainda tem memória de sua gestão à frente da prefeitura paulistana entre 1989 e 1992. E também para reforçar a campanha junto aos idosos, que viveram durante a administração da parlamentar há três décadas. Os paulistanos mais velhos não estavam se identificando com a campanha de Boulos, mais próximo dos jovens, segundo as pesquisas de opinião.

"No segundo turno, nós não vamos sair das ruas. E vamos falar mais diretamente para determinadas comunidades que já nos conhecem, que já vivenciaram nosso governo, que são as pessoas mais velhas", diz Erundina, de 85 anos de idade, que faz um apelo para que os idosos "votem em nós mesmos [mais velhos]."