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'O povo não quer radicalização, quer resultado', diz Temer

Do UOL, em São Paulo

30/11/2020 10h43

Dois anos depois das eleições de 2018, marcadas pela ascensão de alguns candidatos com discurso extremista, o ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou hoje ao UOL Entrevista que a população se cansou de "radicalização" e quer resultados. Para Temer, esse foi o principal recado das urnas em 2020.

O ex-presidente comentou ainda a reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB) em São Paulo, refutou termos como direita e esquerda e declarou apoio à reeleição dos presidentes da Câmara e Senado em um mesmo mandato.

"O eleitor percebeu isso, ele está cansado de qualquer radicalização", afirmou Temer. "Não significa que não possa dar uma radicalização em função de programas, mas essa radicalização programática não pode gerar uma de natureza pessoal, esta é indevida e até contrária a tradição solidária que sempre pautou a vida do brasileiro", disse.

O ex-presidente afirmou que os jargões políticos como "centrão, esquerda e direita" não são preocupações do povo.

Quem está preocupado com isso são grupos que querem impor forma ideológica. O povo quer resultado, se ele vier de alguém da chamada extrema-direita, extrema-esquerda ou centro, tanto faz, o povo quer resultado. O povo diz: 'não quero saber de centro, centrinho, centrão. Quero saber de resultados'
Michel Temer, ex-presidente do Brasil

"Hoje você tem 'brasileiros contra brasileiros', quando deveria ter 'brasileiro com brasileiro'. O povo, mais ou menos, instintivamente disse: 'vou aplicar a Constituição, quero paz, neste momento do Natal, que as luzes vêm vindo aí, espero que as luzes do fim do ano apaguem a escuridão de 2020 e gerem luminosidade para 2021."

Velha ou má política?

Questionado sobre a derrota da "nova política", pregada pela direita na eleição de 2018, Temer disse que o que existe é a "boa e a má política".

"Nunca concordei com essa expressão 'nova política', 'velha política'", disse. "É da velha política a redemocratização do país? (...) É da velha política o Plano Real? A lei de responsabilidade fiscal? Convenhamos, até os planos sociais que foram somados no governo do presidente Lula, com apoio do MDB, é da velha política isso de patrocinar os mais vulneráveis?"

"Você tem a boa e a má política, e a má é aquela que se conduz por caminhos inadequados, não faço essa distinção", disse Temer.

Covas, "um moço sério"

Temer, que votou em Covas no segundo turno, disse que o prefeito "é uma figura de tradição, neto do Mário Covas", que passou por uma avaliação plebiscitária, uma vez que já ocupava o cargo de prefeito.

"Um moço sério, equilibrado, sereno. O eleitor de São Paulo escolheu bem", afirmou.

Questionado sobre as chances de Covas chegar à Presidência da República no futuro, disse que "ser presidente é sempre destino".

"Uma vez eu ouvi do então presidente Tancredo Neves (...) que o destino te leva para isso", afirmou. "Depois que ele [Covas] cumprir o seu mandato, ele terá um papel significativo na política nacional, como todos os prefeitos de São Paulo."

Temer também elogiou o padrinho político de Covas, o governador João Doria, que "está fazendo um ótimo governo no estado". Para o ex-presidente, a disputa entre o governador e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se resume à vacina contra a covid-19.

"Não acho que o João Doria tenha feito isso de propósito, ou o Bolsonaro. É uma disputa em torno dessa matéria", disse.

Eleição no Congresso

Também advogado constitucionalista, Temer comentou sobre a possibilidade não prevista na Constituição de que os presidentes da Câmara e do Senado possam se reeleger no mesmo mandato. O tema foi levado ao STF (Supremo Tribunal Federal), uma vez que os presidentes das duas casas tentam viabilizar um novo mandato no ano que vem.

Depois de elogiar Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM), presidentes da Câmara e Senado, respectivamente, Temer disse achar "uma tese viável, adequada, não tenho objeção".

"Eu concordo. Agora, com toda franqueza, minha palavra é um palpite, a palavra final é do Supremo, vamos ver o que vai dizer no dia 4 de dezembro", afirmou.