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Ao Senado Lula diz que Bolsonaro sequestrou 7/9 por 'vantagem eleitoral'

O ex-presidente Lula (PT) fala em encontro com trabalhadoras domésticas no ABC paulista - Marcelo Ferraz/UOL
O ex-presidente Lula (PT) fala em encontro com trabalhadoras domésticas no ABC paulista Imagem: Marcelo Ferraz/UOL

Do UOL, em São Paulo

08/09/2022 13h25Atualizada em 08/09/2022 13h56

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a atuação do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante as celebrações de 7 de Setembro, ontem, em uma carta enviada hoje ao Senado. O petista acusa o presidente de "sequestrar a data" em uma "tentativa escancarada de obter vantagem eleitoral".

Bolsonaro participou presencialmente de atos em Brasília e no Rio de Janeiro. Em discursos em tom eleitoral voltado a apoiadores, o presidente fez piadas machistas, criticou a esquerda, elogiou o próprio governo e mandou recados ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Endereçada ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para a comemoração do Bicentenário da Independência no Congresso, a carta deve ser lida nesta tarde pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) em nome de Lula. O ex-presidente foi convidado para o evento, mas cumpre agenda de campanha no Rio de Janeiro.

Para o Senado ou para o Planalto? Como se fosse uma carta aberta a Bolsonaro, a mensagem é dedicada a criticar o comportamento do candidato à reeleição ontem. Lula diz ter acompanhado as falas "com profunda indignação" pois diz que o presidente usou a data "para mais uma vez espalhar ódio, mentiras e ameaças à democracia".

Ele poderia ter se dirigido ao povo para falar de paz, de harmonia, de geração de emprego, de educação, de saúde, de combate à fome. Mas ele não tem nada a dizer sobre isso, porque não tem nada de positivo para apresentar, nessas ou em quaisquer outras áreas."

"O legado do atual presidente é o ódio aos negros, aos indígenas e aos pobres em geral. É o desprezo pelas mulheres", diz Lula.

Aproveitou a deixa. Lula também usou a mensagem para criticar a gestão de Bolsonaro e fazer comparativos entre sua gestão (2003-2010) e a atual, uma das principais estratégias da campanha, em especial nos assuntos econômicos e sociais.

O legado do atual presidente é a volta da fome, que nós havíamos banido deste país. É o desemprego, a inflação descontrolada, a devastação do meio ambiente."

"É o seu descaso criminoso para com a saúde, que levou à morte centenas de milhares de vítimas da covid.", completa Lula.

Corrupção. O ex-presidente voltou ainda a atacar o adversário ao levantar um tema que até pouco tempo atrás vinha evitando: a corrupção. Na carta, Lula diz que o governo atual teve "corrupção desenfreada", que Bolsonaro "tenta varrer para baixo dos sigilos de cem anos".

O presidente poderia ter aproveitado o espaço generosamente cedido pela mídia para explicar como sua família conseguiu comprar 107 imóveis desde que ele entrou na política, sendo que 51 deles foram pagos em dinheiro vivo."

O ex-presidente faz referência a uma reportagem do UOL, que revelou que desde os anos 1990 até os dias atuais, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram adquiridos total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo, segundo declaração dos próprios integrantes do clã.

Crítica recorrente. Lula já havia questionado a postura do presidente ontem, em vídeo divulgado nas redes sociais, e em reunião com o conselho de campanha, na última terça (6).

"Quando presidente da República, eu tive a oportunidade de participar de dois [feriados de] 7 de setembro, um em 2006 e o outro em 2010, em época eleitoral. Em nenhum momento, a gente utilizou um dia da Pátria, um dia do povo brasileiro, o dia maior do nosso país por conta da independência, como instrumento de política eleitoral", disse Lula.

Ontem, o PT optou por não disputar as ruas com o bolsonarismo, mas ficou monitorando as redes sociais para captar reações quanto às falas e ações de Bolsonaro.

7 de Setembro pró-Bolsonaro. O presidente transformou o Dia da Independência em comício nas três principais cidades do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Candidato à reeleição, ele se encontrou com apoiadores vestidos de verde e amarelo e fez discursos pedindo votos —também repetiu mentiras, criticou pesquisas eleitorais e Lula, seu principal concorrente, e puxou um coro de "imbrochável".

Ele apareceu isolado no primeiro compromisso —o desfile cívico-militar na capital federal. Não estiveram presentes os presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux; do Senado, Pacheco; e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seu aliado.

Logo depois, na frente de apoiadores, fez um pronunciamento em tom eleitoreiro e citou diretamente o primeiro turno das eleições presidenciais, em 2 de outubro. No Rio, mais tarde, após uma motociata, atacou a esquerda.

Críticas de opositores. Outros presidenciáveis também lamentaram a postura do presidente na data do bicentenário.

"Bolsonaro transformou o 7 de Setembro dos 200 anos da Independência no mais desavergonhado comício eleitoral já feito neste país. E houve outras transgressões políticas, institucionais e morais seríssimas. Os brasileiros cobram uma ação da justiça!", publicou Ciro Gomes (PDT), em seu Twitter.

Já a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse que se sente "envergonhada e desrespeitada" e que o chefe do Executivo mostrou sua "masculinidade tóxica e infantil", em referência às falas machistas de Bolsonaro.

"Vergonhoso e patético! No dia da Independência do Brasil, o Presidente mostra todo seu desprezo pelas mulheres e sua masculinidade tóxica e infantil. Como brasileira e mulher, me sinto envergonhada e desrespeitada", escreveu.