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ACM Neto fez primeiro registro como branco no TSE; campanha cita 'equívoco'

Foto de 2016 mostra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto de 2016 mostra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Do UOL*, em São Paulo

23/09/2022 10h09Atualizada em 23/09/2022 11h12

O ex-prefeito de Salvador e candidato ao governo da Bahia ACM Neto (União Brasil) se autodeclarou primeiramente como branco ao registrar sua candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mostra um registro cadastrado no sistema da corte.

"O(A) candidato(a) é brasileiro(a) nato(a), nascido(a) em SALVADOR - BAHIA, no dia 26/01/1979, do gênero masculino, cor/raça branca", diz o requerimento de registro de candidatura de ACM.

A campanha justificou ao UOL que se tratou de um "equívoco do departamento jurídico corrigido no mesmo dia ou no seguinte à publicação" e mantém que ACM Neto sempre se autodeclarou como pardo, questão que tem causado acusações de que ele teria buscado se beneficiar das cotas do fundo eleitoral.

Em 2020, o TSE decidiu que a distribuição dos recursos do FEFC (Fundo Especial de Financiamento de Campanha) e do tempo de propaganda eleitoral gratuita deve ser proporcional ao total de candidatos negros que o partido apresentar ao pleito.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, ACM acusou adversários de "falta de caráter" e "desespero" ao trazerem a questão à tona.

"Sempre me identifiquei como pardo. Veja que em 2016, quando não havia fundo eleitoral, não havia financiamento partidário e não havia definição de cotas, eu já me autodeclarava dessa forma. É assim que eu me identifico e a autodeclaração, entendo eu, que é resultado da sua identificação", disse.

A polêmica alcançou o ápice quando, em entrevista à TV Bahia, afiliada da Rede Globo, no último dia 12 de setembro, ACM Neto foi questionado sobre a autodeclaração.

"Eu me considero pardo. Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande. Negro não, jamais diria isso", declarou.

Ao ser explicado que pardos compõem a população negra segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o candidato reagiu: "Então o erro é do IBGE, não é meu. Simplesmente isso".

Internautas também apontaram que ele estava "bronzeado" na entrevista concedida à TV. Ao Estadão, o candidato negou ter passado por qualquer procedimento de bronzeamento artificial.

"Só quem pode ter feito esse comentário é quem vive dentro de gabinetes com ar condicionado. Porque eu vivo - e esses dias, principalmente - no chão, andando pelas ruas da Bahia, ou em cima de um carro em carreata", afirmou. "Esse tipo de comentário ou de questionamento é uma palhaçada. Inclusive, se quiser, mande examinar minha pele."

ACM também deu a entender que os questionamentos relativos a sua autodeclaração se dão por não ser um "político de esquerda".

"Quando você olha do lado dos meus adversários que estão me atacando, o atual governador da Bahia, Rui Costa, do PT, que tem uma cor de pele igual a minha, também se declarou pardo quando disputou a eleição em 2018. O candidato a vice-governador do PT que tem uma cor de pele igual a minha, também se declarou pardo agora nessa eleição, Geraldo Junior. A deputada federal Alice Portugal do PCdoB que é muito mais clara do que eu, tinha uma declaração anterior de branca e agora se declarou parda", declarou.

"Agora toda essa discussão acontece em torno de mim, por quê? Somente políticos de esquerda podem ser pardos ou se autodeclararem como pardos? Eu não entendo isso, não concordo e estou muito tranquilo em relação a isso", completou.

Adversário de ACM Neto cresce na última pesquisa Datafolha. Em meio ao desgaste gerado pelas contestações, o candidato vê sua vantagem na liderança ao Palácio de Ondina ser ameaçada. A terceira rodada da pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira (21), mostrou ACM Neto com 48% das intenções de votos e Jerônimo (PT) com 31%.

Na primeira rodada, em 24 de agosto, o ex-prefeito tinha 54% e, na semana passada, 49%. Já Jerônimo começou com 16% e passou a 28% e agora cresceu 3 pontos porcentuais.

*Com informações do Estadão Conteúdo