Com Lula, Tarcísio terá que se equilibrar entre bolsonarismo e pragmatismo
Eleito governador de São Paulo ontem, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) comandará o estado mais rico do país com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência. Lula derrotou, na disputa pelo Planalto, o aliado de Tarcísio, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição. Agora, o ex-ministro terá que se equilibrar ente o bolsonarismo e o pragmatismo.
Apesar do protagonismo de um papel que antes pertencia ao PSDB —o antagonismo ao PT em São Paulo—, Tarcísio disse ontem que pretende ter uma "relação republicana" com o presidente eleito.
"Para que a gente possa trazer políticas públicas para o estado, vai ser fundamental um alinhamento, um entendimento com o governo federal", disse Tarcísio em entrevista após a vitória. "A partir do momento em que houver convocação para uma conversa [com Lula], nós estaremos lá, e vamos sempre buscar o melhor para o estado de São Paulo".
O bolsonarismo, no entanto, não deverá ser deixado de lado. Embora Tarcísio já tenha declarado que o governo será seu, sem a interferência do atual presidente, e que trabalhará para montar um secretariado "absolutamente técnico", a ala bolsonarista deverá ter participação em importantes pastas da gestão do novo governador.
Sem problema. Embora tenha passado a campanha destacando que um alinhamento entre governo federal e governo estadual traria benefícios a São Paulo, Tarcísio indicou que não teria problema para dialogar com outro presidente.
Questionado na terça-feira passada (25), ainda durante a campanha, sobre a possibilidade de ele e Lula serem eleitos, o então candidato afirmou que ainda apostava numa virada de Bolsonaro nas urnas, mas que sempre esteve aberto a dialogar com todas as pessoas.
Sempre tive relação republicana com todo mundo. Se você pegar o Ministério da Infraestrutura, tive relação republicana com os governadores de estado que eram de oposição ao presidente. Sempre dialoguei com todos, fizemos obras e convênios, nunca tive problema nenhum
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de São Paulo
Corda bamba. Ao longo da campanha, Tarcísio foi o principal cabo eleitoral de Bolsonaro em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, onde deu sinais de alinhamento e independência em relação ao presidente e seus aliados.
Ele se esforçou para se apresentar como candidato de um perfil moderado e defender, ao mesmo tempo, o bolsonarismo e a conquista por eleitores mais refratários a radicalismos.
Quando Bolsonaro dizia, sem provas, desconfiar das urnas, Tarcísio afirmou "confiar no sistema". Ontem, ele voltou a defender respeito ao resultado das urnas. "Entendo que o resultado das urnas é soberano. A gente teve uma eleição dura, uma eleição apertada, uma das mais apertadas de todos os tempos, uma diferença muito pequena", declarou.
O novo governador também se vacinou contra a covid-19 apesar de não defender a obrigatoriedade da medida. Já o presidente diz não ter se imunizado contra a doença.
Em seu site de campanha, o novo governador destacava seu perfil técnico e o fato de feito parte das gestões Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) antes de ser alçado pelo presidente a ministro da Infraestrutura.
Ao mesmo tempo, Tarcísio critica o uso das câmeras nas fardas de policiais, medida que diminuiu a letalidade policial, em um aceno à base bolsonarista ligada à segurança pública e defende a redução da maioridade penal, assunto de âmbito federal.
Composição do governo. O ex-ministro afirmou que seu governo vai privilegiar técnicos de carreira nas posições de comando. Pessoas próximas a Tarcísio disseram que a ideia dele de dar pistas sobre seu secretariado ainda durante a campanha —alvo de críticas de aliados de Haddad— foi uma espécie de antídoto para atrair os eleitores moderados.
Ele citou, na ocasião, nomes como o do empresário e político Guilherme Afif (PSD) e do médico Eleuses Paiva. O vice-governador eleito, Felicio Ramuth (PSD), deve ocupar alguma pasta, mas ela ainda não foi definida
Aliados especulam que Tarcísio e ala bolsonarista ficarão com a indicação para importantes secretarias, como as de Governo, Segurança Pública e Saúde e não descartam que pessoas que integraram o governo Bolsonaro possam fazer parte da gestão paulista diante da derrota do presidente à reeleição. Os nomes, no entanto, não são adiantados porque essas fontes dizem que cabe a Tarcísio fazer os anúncios.
Questionado ontem após a vitória sobre nomes, Tarcísio não quis adiantar e afirmou que agora o foco será a transição, que deve ser coordenada por Afif. Sobre a possibilidade de Bolsonaro ter algum cargo em sua gestão, o governador eleito disse que ainda não tinha conversado com o presidente e que ainda não sabe "os planos de voo" dele, mas que ele é presidente da República e não se tornaria secretário estadual.
Para a Segurança Pública, conforme mostrou o UOL Notícias, ele estuda ao menos três linhas para a pasta a partir de 2023:
- optar por uma ala bolsonarista,
- uma mudança para atuação mais independente das polícias Civil e Militar
- ou apostar na continuidade da gestão anterior.
Pessoas próximas ao novo governador também dizem que o presidente do PSD, Gilberto Kassab, um dos grandes articuladores da campanha, terá influência no governo, por conhecer bem o funcionamento da máquina pública e ser um importante articulador político.
Na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), o novo governador não deverá enfrentar problemas —a Casa será composta, em sua maioria, por deputados de partidos que o apoiaram na campanha, como o PL, com 19 parlamentares.
Passado com PT e gratidão a Dilma. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, Tarcísio já esteve próximo ao PT no passado. Servidor público de carreira, ascendeu na hierarquia do Executivo federal em 2011, quando passou a ser coordenador-geral de auditoria da área de Transportes da CGU (Controladoria-Geral da União) no governo Dilma Rousseff (PT).
Contrariada com sucessivos episódios de corrupção no Ministério dos Transportes, à época sob o comando de Valdemar da Costa Neto (PL), Dilma pediu a Bernardo Figueiredo, então diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes), sugestões de nomes para diretores do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes), vinculado à pasta.
Figueiredo indicou Tarcísio, que, meses antes, o havia impressionado ao apresentar um diagnóstico que havia traçado sobre o setor. Ele passou a chefiar uma diretoria-executiva e assumiu a direção do órgão em 2014.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo neste mês, apesar de criticar a gestão de Dilma e dizer que ela não percebeu ou coibiu "a corrupção acontecendo embaixo do nariz", Tarcísio afirmou ter gratidão à petista.
Por que não teria? Ela foi muito correta. Não quer dizer que eu ache o governo dela um bom governo. Não acho que ela tenha acertado como presidente
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador eleito de São Paulo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.