Milton Leite lança Silvão e Silvinho como seus sucessores na Câmara de SP
Após sete mandatos, o vereador Milton Leite (União Brasil) não disputará a reeleição em São Paulo (SP). Apesar disso, o presidente da Câmara Municipal escolheu dois candidatos de seu partido para tentarem ser herdeiros de seus votos. São eles: Silvio Antônio de Azevedo e Silvio Pereira dos Santos.
O que aconteceu
Aumentativo e diminutivo diferenciará xarás. Silvio Antônio de Azevedo é chefe de gabinete de Leite, preside a escola de samba Estrela do 3º Milênio e será apresentado como Silvão Leite. Já Silvio Pereira dos Santos foi chefe de gabinete na subprefeitura do M'Boi Mirim e exibirá o nome Silvinho nas urnas.
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Silvinho postou foto com Milton Leite no Dia dos Pais. Apesar do fato, ele não é filho do vereador. Em outra oportunidade, o candidato participou de uma partida de truco com Leite no Jardim São Luís. As publicações reforçam o vínculo entre Silvinho e o padrinho, que é essencial para transferência de votos.
"Milton Leite é Silvão", postou candidato. Na publicação de 14 de julho, Silvão diz que tem a "confiança" do presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Além disso, o líder comunitário divulgou fotos com o padrinho e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, na convenção do União Brasil.
Candidatos atuam em diferentes regiões da Zona Sul. Silvão é mais forte em Parelheiros, Grajaú, Cidade Ademar e outras áreas do extremo sul paulistano. Por outro lado, a região da Estrada do M'Boi Mirim, reduto histórico de Milton Leite, é o campo onde a atuação de Silvinho é mais forte.
Procurados, Milton Leite e os dois Silvios alegaram "perseguição política" por parte do UOL. O vereador afirmou que o portal produziu uma sequência de matérias com o único objetivo de manchar sua reputação em ano eleitoral. Já Silvão e Silvinho não responderam às perguntas enviadas, em função da suposta perseguição.
Transferência de votos é desafio
Milton Leite foi o segundo vereador mais votado de São Paulo em 2020. Com mais de 130 mil votos, ele ficou atrás apenas de Eduardo Suplicy (PT), que teve o apoio de quase 170 mil eleitores. A votação do atual presidente da câmara respondeu por 30% dos votos recebidos pelo Democratas, seu partido à época.
"Transferência não é algo automático", afirma especialista. Para cientista político Marco Antônio Teixeira, o fenômeno já aconteceu com a Família Tatto, ligada ao PT e com presença forte na zona sul. Segundo ele, o desafio em casos assim é transferir um número de votos que permita a eleição dos herdeiros.
"Com muitos serviços entregues, a atuação localizada desses grupos transmite a ideia de que, sem eles, a população ficaria desamparada", diz Teixeira. Em publicação nas redes para promover Silvão e Silvinho, Milton Leite seguiu exatamente por esse caminho. "O que acontecerá com nossas periferias?", escreveu ele.
"Herdeiros" nunca disputaram eleições. O primeiro declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 3,3 milhões em imóveis, aplicações financeiras, cotas de empresa e um carro. O segundo disse possuir R$ 986 mil em bens do mesmo tipo. Nenhum dos dois responde a processos que possam deixá-los inelegíveis.
Silvão já foi absolvido em casos de furto e improbidade administrativa. A decisão ligada ao processo por furto foi proferida em 1982. Já a denúncia por improbidade data do fim dos anos 1990 e envolve a construção de conjuntos residenciais na região de Interlagos, onde o candidato foi administrador regional.
Quem é Milton Leite?
Milton Leite exerce o quinto mandato como presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Eleito vereador pela primeira vez em 1996, ele é apontado por várias pessoas nos bastidores da política paulistana como uma espécie de primeiro-ministro dos últimos prefeitos e o homem mais poderoso de São Paulo hoje.
Vereador ganhou poder nas gestões de João Doria (PSDB). O então tucano teria dado a Leite o poder de indicar aliados para órgãos como SPTrans, Setram (Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito) e CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) quando estava à frente da Prefeitura de São Paulo (2017-2022) e no DER (Departamento de Estradas e Rodagem) e na STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos) ao se tornar governador (2019-2022).
Ministério Público de São Paulo aponta "estreito relacionamento" entre Leite e a Transwolff, empresa de ônibus acusada de lavar dinheiro para PCC. Baseada em mais de mil páginas de documentos, uma reportagem do UOL mostrou que vereador é citado em e-mails e mensagens dos investigados na Operação Fim de Linha.
"Desconheço os documentos mencionados pela reportagem", disse Leite à época. Ele também afirmou que desconhece qualquer tipo de relação das pessoas mencionadas no texto com os crimes que lhes são imputados e lembrou que foi arrolado como testemunha (e não como suspeito) no caso em questão.
O que dizem os envolvidos
Diante da sequência de matérias feitas com o único objetivo de manchar minha reputação, em pleno ano eleitoral em que sequer sou candidato, não me pronunciarei. Há tempos o UOL não faz jornalismo e sim perseguição política a meu respeito
Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara Municipal de São Paulo
Diante da perseguição politica feita ao vereador Milton Leite pelo UOL, não vou comentar
Silvio Antônio de Azevedo, candidato a vereador em São Paulo (SP) pelo União Brasil
O vereador Milton Leite tem sofrido perseguição política deste veículo. Diante disso, não responderemos.
Silvio Pereira dos Santos, candidato a vereador em São Paulo (SP) pelo União Brasil
Transferência de votos não é algo automático, mas que já aconteceu na periferia. Um exemplo é a Família Tatto, que começou com um nome só, hoje tem vários e tem em comum com Milton Leite a atuação muito localizada na zona sul. Em geral, essa transferência não é de 100%. A questão é quanto será transferido
Marco Antônio Teixeira, cientista político e professor-adjunto do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo