OPINIÃO
Marçal se vestiu de cordeiro para soltar o lobo na reta final do debate
Colunista convidado
24/09/2024 00h02
Pablo Marçal (PRTB) prometeu que deixaria para trás a versão incendiária que marcou os primeiros debates entre candidatos e candidatas à Prefeitura de São Paulo.
Passou longe disso no encontro promovido nesta segunda-feira pelo Flow Podcast.
Já na chegada bateu boca com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
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Na saída, precisou ser expulso pelo apresentador Carlos Tramontina por não ter "hombridade" e querer transformar a fala final em circo.
Tomava a bronca enquanto um membro de sua equipe batia no marketeiro do prefeito.
Entre um momento e outro, Marçal se vestiu de cordeiro e bancou o candidato propositivo.
Sem os apelidos, o boné e os gritos dos primeiros embates, ficou ainda mais nítido que ele não tem ideia do que fazer na cidade.
Quer ver? A certo momento Marçal foi questionado sobre a questão da mobilidade urbana. Saiu-se com essa: "Nos Estados Unidos todo mundo para no 'Pare'". Sim, porque no Brasil a área tem sido usada como quadras de beach tênis.
Marçal propôs atacar a causa e não a consequência do trânsito caótico da cidade. Como? Mudando "mentalidade" — mantra que se tornou uma espécie de Aerotrem do candidato do partido fundado por Levy Fidelix. É puro samba de uma nota só.
Disso se desdobram projetos como, por exemplo, ensinar normas de direção já no ensino público — geralmente povoado por crianças que ainda não aprenderam a andar de bicicleta sem rodinha.
Outra ideia é fazer com que empresas promovam cursos de reciclagem de trânsito aos seus colaboradores. Como se todo mundo que tem trabalho tivesse carro. E como se todo mundo que tem carro tivesse trabalho (spoiler: a cidade tem 499 mil pessoas desempregadas).
No meio da resposta, Marçal deu um jeito de provocar José Luiz Datena (PSDB) e dizer que a certeza de impunidade no trânsito faz com que as pessoas briguem, percam o controle emocional e arremessem cadeiras em candidatos. Foi a primeira chamada para a briga.
Não teve quem não segurou o fôlego quando eles ficaram lado a lado para responder a uma pergunta ao estilo "fala povo" feita por um imigrante. A tensão era explicável: a direção do programa evitou parafusar banquetas contando com o bom comportamento dos coleguinhas.
Ao fim das respostas, um passou pelo outro sem contato visual. (Minutos depois, Datena o chamou de "ladrão de banco" ao ser acusado, indiretamente, de abafar um caso de assédio na TV. O apresentador contra-atacou com direito de resposta. Sem banqueta).
Aos poucos Marçal foi se desfazendo da fantasia ao responder a uma pergunta sobre poluição e emendar um conjunto de trocadilhos sobre pessoas que "cheiram" o ar de São Paulo. Era uma provocação a Guilherme Boulos (PSOL), o oponente escolhido para falar do mesmo tema. O empresário acusa sem provas o candidato de ser usuário de cocaína.
Boulos desviou das provocações. Fez isso quando o rival tentou associá-lo a invasões de casas. O postulante do PSOL disse que invadiria, isso sim, a cabeça vazia de Marçal, com ideias e propostas.
Contrariado, o ex-coach aproveitou a brecha para tirar da cartola uma piada homofóbica e dizer que São Paulo não podia "dar marcha a ré" nem "ré no quibe". Tum Tuntz.
Mas o lobo só sairia de vez da fantasia na fala final, quando empilhou uma série de ofensas a Ricardo Nunes, a quem prometia levar à prisão.
Foi advertido uma vez pelo mediador.
Bateu o pé, esperneou. Ao retomar o tempo, foi novamente repreendido.
Após a segunda advertência, ficou em silêncio durante boa parte da fala final.
Faltando dez segundos, retomou os ataques. E, dessa vez, precisou ser expulso de campo.
A reprimenda de Tramontina era a fagulha sobre um rastilho de pólvora instalado por todo o estúdio.
A expulsão foi aplaudida pelos adversários. E respondida com agressão, que levou o programa a ser interrompido.
A segunda pancadaria em um pouco mais de uma semana de debates em São Paulo.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL