OPINIÃO
'Covarde', 'pau-mandado': Nunes apanha de Boulos sem direito de resposta
Até pouquíssimo tempo atrás, durante os debates do primeiro turno, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pedia direito de resposta até sobre a fala de moradores convidados a fazer perguntas aos candidatos.
Foi o que ele fez no encontro do Flow Podcast ao ouvir Gisele da Silva, de Guaianases, se queixar dos serviços de transporte público de São Paulo e cravar: "Nem cachorro é tratado igual à gente".
Foram sorteados Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSOL) para comentar a pergunta. Nunes levantou a mão. E teve o direito de resposta negado.
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Corta a cena, e o hoje candidato favorito para ser reeleito em 27 de outubro já não parece tão preocupado com as críticas.
Da corda bamba, ele observa um colchão de 12 pontos de vantagem sobre Boulos na simulação de segundo turno divulgada na quarta-feira (16) pelo instituto Quaest.
A distância permitiu ao emedebista simplesmente não comparecer ao debate UOL / Rede TV! /Folha. Isso mesmo já tendo confirmado a presença —antes da divulgação da pesquisa que mostrou que, ao menos por enquanto, ele não foi assim tão afetado pelo apagão que na véspera ainda deixava no escuro dezenas de milhares de pessoas na capital.
Sem chance de retrucar, Nunes apanhou sozinho durante uma hora e meia do debate que virou sabatina.
A responsabilidade de Nunes e do aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos) pelo apagão —sobretudo da poda de árvores que derrubaram a fiação— dominou boa parte da conversa, mas não só.
Boulos aproveitou cada minuto de exposição para estocar o prefeito —e falar de sua trajetória e suas propostas entre uma bofetada e outra.
O candidato do PSOL disse acreditar que o debate seria um ponto de inflexão para reverter a vantagem de Nunes. Isso, segundo ele, porque a população de São Paulo não suporta covarde.
"A covardia dele vai repercutir nos próximos dias", disse o desafiante.
"Pau-mandado", "fraco", "ausente" foram só alguns dos adjetivos usados contra o prefeito.
Em certo momento, Boulos chamou Nunes de Tio Paulo porque "não tinha personalidade e vontade própria" e só obedecia às ordens de Tarcísio de Freitas, a quem atribuiu a decisão de faltar ao debate. Era uma referência ao idoso que foi levado morto para fazer um empréstimo por uma sobrinha no Rio.
Sobrou tempo para se desviar das acusações de que seria um invasor radical de casas em São Paulo ou que não seria capaz de articular projetos sem base ampla na Câmara dos Vereadores em uma eventual gestão.
Em sua defesa, o deputado disse que em Brasília aprendeu a conversar e buscar apoio de gente de partidos diversos, inclusive da oposição.
Boulos aproveitou o espaço para pedir votos aos que apoiaram Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno, em especial empreendedores e empresários de si mesmos das áreas periféricas que se desdobram em trabalhos como os de motoristas de aplicativo. E reforçou que seu número de legenda é 50, não 13 —quase 50 mil eleitores anularam o voto possivelmente pensando que o candidato era filiado ao PT de Lula, seu maior padrinho político.
Sobrou tempo até para falar da relação das filhas com o aparelho celular, ao responder a uma questão sobre se proibiria ou não o uso de aparelhos nas escolas públicas municipais.
Perguntado sobre como seria sua relação com Tarcísio depois de tantas críticas, Boulos prometeu abrir mão das desavenças e sentar com o governador bolsonarista no primeiro dia de gestão.
Segundo ele, quem nega acordos por "politicagem" é seu rival Ricardo Nunes, que não cedeu um terreno da prefeitura para a Universidade Federal de São Paulo e não assinou, entre outros projetos, uma parceria com o governo federal para a instalação de ônibus elétricos.
Nunes, se ouviu, ouviu calado. Sem direito de resposta desta vez. Por pura covardia —palavras do oponente.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL