Rivais provocam bolsonarista em Belém com peruca e tática dos Trapalhões
Zacarias era o personagem de Mauro Faccio Gonçalves no programa "Os Trapalhões". Careca, ele usava uma peruca que os companheiros de cena —Didi, Dedé e Mussum— adoravam arrancar de surpresa, para tirá-lo do sério.
Uma piada um tanto perucofóbica para os tempos pré-implante capilar.
Décadas depois, o espírito trapalhão parece ter tomado conta da eleição em Belém, onde o emedebista Igor Normando disputa o segundo turno contra o deputado federal bolsonarista Éder Mauro, do PL.
Em um ato de campanha, nesta terça-feira (22), o deputado conhecido pela postura incendiária na Câmara foi alvo indireto de uma troça promovida pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).
Primo de Normando, que foi seu secretário, Barbalho vestiu a fantasia de Didi Mocó ao balançar uma peruca em "homenagem" ao adversário. A cena aconteceu enquanto o prefeito de Recife, João Campos (PSB), recém-eleito com quase 80% dos votos na capital pernambucana, era chamado para reforçar o palanque do aliado —isso depois de passar por Natal e Fortaleza.
"Peruquinha" é o apelido de Éder Mauro entre os opositores. Barbalho, que no palanque prometeu "espalhar peruca para todo lado", é um deles.
No Congresso, Mauro é um dos mais extremistas deputados da base bolsonarista. O ex-delegado já se envolveu em confusão quando, por exemplo, gritou "Marielle acabou, porra" em uma sessão deste ano em homenagem à vereadora assassinada do Rio.
Em outra ocasião, ele chamou para a briga um ativista que pedia a prisão de Jair Bolsonaro, seu ídolo. "Vem me dizer na minha cara aqui, se tu é homem", disse o deputado.
As cenas seguintes foram dignas de rinha de galo, com o deputado empurrando o ofensor pela barriga e perguntando quem era o canalha. Um assessor do parlamentar ainda tentou dar dois tapas no cidadão.
A provocação de Barbalho e companhia tem o óbvio intuito de tirar o brigão do sério, mais ou menos como os Trapalhões faziam com Zacarias. Com a diferença de que, com ou sem a indumentária capilar, a postura do ex-delegado tem mais a ver com outro personagem da turma, o durão Sargento Pincel.
Mauro sentiu o golpe. Em uma campanha em que honestidade vira item de primeira necessidade em qualquer discurso, furado ou não, ser acusado de trapacear na foto 3 x 4 não é exatamente o melhor elogio.
Mas se no Congresso o delegado costuma resolver a parada na porrada, na campanha, ele assumiu a versão vítima. Mal tinha viralizado a cena de Barbalho e ele correu para as redes para positivar a provocação. "#BelemComPeruquinha" escreveu ele ao lado do desenho de uma cabeleira à la Zacarias.
Ele também compartilhou um vídeo em que um homem raspa o próprio cabelo e o da amiga que estava com câncer. "Belas atitudes merecem ser compartilhadas", dizia a postagem.
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Quero receberPor fim, ele levou ao ar uma reportagem sobre vítimas de escalpelamento —acidentes em que o cabelo enrosca no motor de barcos e provoca ferimentos graves no couro cabeludo— e que também usavam peruca no Pará.
"Por esses e outros motivos, repudiamos a postura do governador Helder Barbalho e do seu primo, candidato a prefeito Igor Normando, ao usarem perucas durante um comício", dizia a postagem, que acusava os rivais de "discurso de ódio".
Foi dessa forma que a peruca virou objeto de tanta discórdia na capital do Pará.
Com ou sem piadinha, o cabeludo Igor Normando é o favorito para se eleger no domingo, de acordo com as últimas pesquisas.
Ele tem 54,5% das intenções de voto no levantamento do instituto AtlasIntel. Mauro tem 41,4%.
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