Topo

Como a direção do PSB 'forçou' apoio a Boulos e outros nomes de esquerda no segundo turno

Boulos disputa o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo com Bruno Covas (PSDB) - Reprodução/Twitter
Boulos disputa o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo com Bruno Covas (PSDB) Imagem: Reprodução/Twitter

André Shalders

Da BBC News Brasil, em Brasília

20/11/2020 12h20

Na noite desta quinta-feira (19/11), o PSB (Partido Socialista Brasileiro) decidiu o apoio a Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno da disputa da prefeitura de São Paulo (SP).

A decisão foi sacramentada numa reunião em um hotel de Brasília, que adentrou a madrugada de sexta (20/11), e o apoio a Boulos será oficializado num evento na manhã desta sexta, no lançamento "frente democrática" liderada pelo candidato do PSOL. Márcio França (PSB) não deve comparecer.

Participaram do encontro o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e o candidato derrotado do partido à prefeitura, Márcio França - o apoio a Boulos foi decidido contra a vontade deste último, que disputou o eleitorado de esquerda com o candidato do PSOL durante a campanha.

Além disso, durante a reunião, a cúpula socialista confirmou o apoio a outros candidatos de esquerda no segundo turno: João Coser (PT) em Vitória (ES), e Edmilson Rodrigues (PSOL) em Belém (PA).

Ao longo da campanha, Boulos e França tiveram várias altercações. Durante um debate promovido pela revista Veja, no começo de setembro, França levantou dúvidas sobre o currículo de Boulos - que respondeu acusando o então adversário do PSB de espalhar boatos.

Além do próprio França, também resistiam a apoiar Boulos outros integrantes da campanha, como o ex-deputado federal Beto Albuquerque.

Com a decisão desta noite, o PSB se junta aos outros principais partidos de esquerda, que já haviam firmado apoio a Boulos em São Paulo. Nos últimos dias, anunciaram apoio ao líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) o PT, o PDT, a Rede Sustentabilidade liderada pela ex-senadora Marina Silva (AC) e o PC do B.

A reunião em Brasília teve a presença de outros dirigentes do PSB, como os governadores de Pernambuco, Paulo Câmara; do Espírito Santo, Renato Casagrande; e do ex-governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. O filho de Márcio França, o deputado estadual por São Paulo Caio França, também participou.

A decisão de apoiar Boulos em São Paulo não é um movimento isolado: nos últimos dias, a direção nacional vinha pressionando pelo apoio a nomes de esquerda, como Edmilson Rodrigues, João Coser e Manuela D'Ávila (PC do B) em Porto Alegre - neste último caso, o apoio ainda não está fechado.

Assim como no caso de Boulos, a decisão de apoiar Manuela em Porto Alegre enfrenta resistências - dirigentes locais do PSB preferem o apoio a Sebastião Melo (MDB).

"Sim (houve conflito, sobre Porto Alegre)". "(Decisões sobre alianças) Têm que levar em conta também a história do partido, que tem o seu campo bem delimitado (à esquerda)", disse Carlos Siqueira à BBC News Brasil, antes da reunião com França.

"Já o Márcio (França) é um companheiro da Executiva Nacional, a gente resolve tudo no diálogo. Não tem conflito com ele, não", disse Siqueira.

Aliados de França relataram desconforto com o fato de o PSOL ter decidido apoiar a candidatura de Marília Arraes (PT) em Recife, por exemplo, em detrimento de João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014). Siqueira nega que exista esse desconforto e lembra que o PSB também está apoiando candidatos do PSOL em outras cidades, como Edmilson Rodrigues, em Belém (PA).

Márcio França terminou a corrida em terceiro lugar em São Paulo, atrás de Boulos e de Bruno Covas (PSDB). O socialista teve quase 730 mil sufrágios, ou 13,6% dos votos válidos.

"Boa sorte pro Boulos e pro Bruno. Saúde para os dois, discernimento, paciência, e vamos para o segundo turno, que a democracia é assim: acaba uma eleição, começa outra", disse ele numa rede social, depois de apurados os votos. França foi vice-governador de São Paulo entre 2015 e 2018, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB. Quando Alckmin renunciou ao cargo para disputar a presidência da República, França assumiu o posto de governador.

Veto a bolsonaristas e poder para Executiva Nacional

Para defender o apoio do partido a Boulos e Manuela D'Ávila, Carlos Siqueira menciona uma resolução aprovada pela Executiva Nacional do PSB em março deste ano, e que determina que o partido feche alianças "preferencialmente com os partidos de esquerda e centro esquerda", e dá à Executiva Nacional o poder de decidir sobre o apoio a candidatos no segundo turno.

"Todas as deliberações (...) do PSB sobre formação de coligações e escolha de candidatos em capitais e cidades com possibilidade de segundo turno terão de ser submetidas à aprovação prévia da direção nacional, que poderá aprovar, alterar ou anulá-las em caso de desacordo com as orientações político eleitorais do PSB", diz o artigo 1º da resolução.

O documento também proíbe, de forma explícita, o apoio a "candidaturas e/ou candidatos que defendam o atual governo", referindo-se ao governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido).

Nacionalmente, o PSB priorizou a formação de chapas com o PDT, numa aliança que vinha sendo costurada desde 2019 e que mira a próxima disputa presidencial, em 2022. França, por exemplo, concorreu com um vice do PDT, Antonio Neto.

As duas siglas também estiveram juntas em outras cidades importantes. No Rio de Janeiro (RJ), Martha Rocha (PDT) teve como vice o produtor cultural Anderson Quack (PSB). Em Porto Alegre, a pedetista Juliana Brizola, neta do ex-governador do Rio Leonel Brizola, encabeçou a chapa com a socialista Maria Luiza Loose.

Da mesma forma, em Recife (PE), os pedetistas apoiaram a candidatura do socialista João Campos.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que constava no texto, João Campos é filho de Eduardo Campos, e não neto. A informação foi corrigida.