Para contar essa história, é preciso voltar um pouco no tempo. Era uma vez, os amigos Dodô Nascimento e Osmar Macedo que moravam na Cidade Baixa, em Salvador, estudavam música e gostavam de brincar com amplificadores. No carnaval de 1950, eles tiveram uma ideia maluca e colocaram na prática: saíram a bordo de um carro carinhosamente apelidado de "fobica" tocando no instrumento que eles mesmos inventaram os frevos de que mais gostavam.

A loucura foi um sucesso e o tal instrumento que se chamava "pau elétrico" virou "guitarra baiana". A dupla ganhou mais um integrante, dando origem ao "trio elétrico" e desde então, todos os veículos que passavam pelo circuito com amigos tocando a bordo eram chamados pelo mesmo nome. Mal sabiam eles que estavam transformando a história do carnaval e da cultura da cidade para sempre.

O carro virou caminhão para aguentar carregar os amplificadores, a carroceria virou palco para os músicos e cantores começaram a fazer parte do show. Tudo isso aconteceu enquanto cresciam os filhos de Dodô e Osmar, entre eles o garoto Armando Macedo que desde muito pequeno ganhava concursos nas rádios tocando guitarra. Aos 21 anos, ele decidiu se unir aos irmãos Betinho, Aroldo e André e homenagear os criadores do trio. Nascia assim o trio elétrico e, quase junto com ele, a banda Armandinho, Dodô e Osmar.

Além das influenciadoras, a Devassa levou um time feminino potente para cima do trio. Composta por 25 mulheres musicistas, a Orquestra 100% Mulher veio diretamente de Recife para tocar os frevos de que tanto gostavam os saudosos Dodô e Osmar. Pouco antes da saída do trio, a maestrina Carmen confessou que estava sentindo um frio na barriga ao estrear no carnaval de Salvador.

"O convite da Devassa nos deixou ansiosas porque esse é um momento mágico. Nunca imaginamos trazer nosso frevo aqui para Salvador para comemorar os 70 anos do trio com Armandinho. Como sou pesquisadora da cultura, já conhecia e pra mim foi maravilhoso, estamos muito honradas", disse.

A Orquestra 100% Mulheres contou ainda com o reforço luxuoso da percussionista baiana La Lan. "Foi um convite maravilhoso! Imagine para uma baiana, percussionista, 30 anos de carreira encontrar meu irmão e mestre Armandinho e os irmãos Macedo nesse trio que fez toda a história do carnaval da Bahia, do carnaval do Brasil, nesse momento especial de celebração dos 70 anos e acompanhada por essas mulheres maravilhosas?", contou. Ela estava há dois anos sem vir ao trio de Armandinho e voltou em uma participação especial acompanhada pela esposa Nanda Costa.

Os frevos e guitarradas continuaram até Ondina, onde os mais de 30 músicos em cima do trio entoaram "O Hino do Homem da Meia-Noite" em um momento histórico. No chão, baianos e pernambucanos iam ao delírio enquanto de lá de cima, Dodô e Osmar deviam estar comemorando orgulhosos.