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Direto do Chile
  • 11/03/2010
  • 23h05

    Infidelidade canina

    Com o atraso de Sebastián Piñera em mais de uma hora para chegar ao Palácio De La Moneda, os canais chilenos enrolavam ao vivo direto da sede de governo. Tanto é assim que a TVN transmitiu ao vivo e em cores um cão urinando no tapete vermelho pelo qual o novo presidente entraria no palácio. No centro de Santiago é comum uma coletividade de cachorros zanzando pelas ruas, a maioria são vira-latas de raça, com fisionomia de pastor alemão e labrador. O comentarista do canal brincou: "Ele está demarcando seu território. Piñera terá que negociar com ele para tomar o poder."

  • 18h24

    Videocracia

    No centro de imprensa montado para a posse do novo presidente chileno, um dos dois telões está constantemente transmitindo as imagens da Chilevisión, o canal de Sebastián Piñera. Por essa propriedade, o mandatário chileno já foi comparado com o italiano Silvio Berlusconi, também empresário de mídia - já o baixinho Piñera prefere se comprar com o francês Nicolas Sarkozy. Mas o novo presidente chileno também é dono da companhia de aviação LAN. Vencedor no segundo turno em janeiro último, ele tinha prometido vender suas ações da empresa aérea antes de tomar o poder. Depois do terremoto, Piñera disse que o mercado estava muito alterado para vender e adiou o negócio.

  • 17h28

    Ilustre lustre

    Agora entendo porque as autoridades ficaram olhando assustadas para cima no Congresso do Chile, na hora do tremor durante a posse de Sebastián Piñera. Chego ao centro de imprensa montado para a cerimônia em um hotel de Santiago. Na escada, parte do teto caiu com os terremotos de hoje. Sento em uma bancada, ligo o computador e começa a tremedeira. Em cima de mim, um lustre de dois metros de diâmetro e centenas de cristais balança. Os outros jornalistas olham risonhos: aquele lugar estava vago justamente porque era uma zona de catástrofe. Eram 5h12.

  • 15h31

    Os assustados

    O presidente colombiano, Álvaro Uribe, pulou de sua cadeira e saiu correndo. A argentina Cristina Kirchner se levantou e fez cara de susto. O paraguaio Fernando Lugo olhava espantado as lâmpadas do Congresso Nacional balançarem no teto. O príncipe Felipe, da Espanha, ficou pálido e continuava assim na entrada do almoço posterior à posse de Sebastián Piñera. O novo presidente faltou à comilança para viajar para a cidade de Rancagua, a mais atingida pelo tremor desta quinta. Os mandatários estrangeiros pareciam querer voltar para seus países o antes possível.

  • 15h15

    A natureza falou mais alto

    Com as fortes réplicas de terremoto antes da posse, o presidente Sebastián Piñera trocou seus planos. A primeira decisão foi o alerta de tsunami e decretar estado de catástrofe na região de O'Higgins, epicentro dos sismos de hoje. Além disso, trocou a visita ao balneário de Constitución por uma viagem a Rancagua, a cidade mais atingida pelo movimento desta quinta-feira. Houve pane na rede de celulares no Chile por conta das pessoas que queriam notícias de seus familiares após os novos terremotos.

  • 13h48

    Querem me tirar o chão

    Na recepção dos líderes estrangeiros após a posse, o comentário geral era que o terremoto durante a cerimônia. "Acho que é uma manobra de oposição para puxar o meu tapete", brincou Sebastián Piñera para o mandatário paraguaio, Fernando Lugo. Na conversa com o novo presidente chileno, a argentina Cristina Kirchner manteve o bom humor também: "Que posse mais movimentada. Até as flores da decoração balançavam".

  • 13h04

    Tensão na cerimônia

    Os sorrisos e as solenidades da posse deram lugar à preocupação quando minutos antes da cerimônia tremeu por três vezes a terra. Entre os mais temerosos estava o príncipe Felipe da Espanha, convidado que saiu sem dar entrevista do Congresso Nacional do Chile, em Valparaíso. "O piso se movimentou, e os nossos corações também", disse o novo ministro da Economia, Juan Andrés Fontaine.

  • 11h52

    Posse "tremida"

    Apenas 15 minutos antes da posse de Sebastián Piñera como presidente, uma forte réplica do terremoto se fez presente em Santiago e assustou também os presentes na cerimônia no Congresso, em Valparaíso. Alguns jornalistas correram e as autoridades se surpreenderam. Em Rancagua, a intensidade foi de 7 graus na escala de Mercalli, que mede o quanto a terra se movimentou num lugar específico (www.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u618540.shtml). Foi a réplica mais forte desde o megaterremoto de 27 de fevereiro: chegou a 7,2 na escala Richter, que mede a magnitude do tremor. O epicentro foi na região de O`Higgins, ao sul de Santiago. No hotel onde escrevo, na capital, a janela trepidou e as rachaduras da parede rangeram. Durou mais de um minuto. Em Concepción, cidade mais atingida pelo megaterremoto de duas semanas atrás, houve pânico, porque objetos caíram das casas. Houve um segundo tremor dez minutos depois, também forte, com a mesma intensidade. Nem Piñera nem Bachelet estavam no Congresso no momento do primeiro tremor. No segundo sismo, Bachelet estava em carro aberto saudando o público, enquanto o presidente eleito estava já dentro do Congresso, que só teve algumas lâmpadas derrubadas (os parlamentares olhavam constantemente para cima, afinal, o prédio ficou com rachaduras após o megaterremoto). Na cidade de Constitución, atingida pelo tsunami no mês passado, as pessoas correram para os morros. Presente no Chile, o presidente do Peru, Alan García, brincou com a situação. "Deu para dançar um pouco com esse balançar". Uma terceira réplica, mais leve, aconteceu às 12h10, quando Bachelet já estava no Congresso. As autoridades esperaram o movimento diminuir e começaram os discursos solenes.

  • 11h40

    Esquerda também no poder

    Com a posse de Sebastián Piñera, a direita volta ao poder desde a saída do ditador Augusto Pinochet, em 1990. Mas nesta quinta-feira (11) também os comunistas voltam à cena política depois de 37 anos de banimento. Três deputados do PC chileno foram eleitos e assumiram seus cargos no Congresso, em Valparaíso. Os comunistas estavam ilegais desde a ditadura, e as forças militares pressionavam para que não voltassem à legalidade, mas os partidos de sustentação de Michelle Bachelet, os socialistas e democratas-cristãos, aprovaram a volta do PC.

  • 11h37

    Déjà-vu

    Uma das críticas que se fez nas horas posteriores ao terremoto e ao maremoto foi que as forças armadas deveriam ser acionadas antes para controlar os saques. Mas essa presença militar teve também seu preço. A Marinha chilena investiga agora quem matou o catador David Riquelme, 45, encontrado morto em um campo de futebol na cidade de Hualpén, no sul do Chile. Testemunhas dão conta que ele foi levado por cinco fuzileiros por burlar o toque de recolher durante a noite na região. Um amigo dele voltou ferido da repressão e denunciou o fato. Na frente da casa do morto há uma pichação protestando: "Queremos justiça: nunca mais tortura militar".

  • 09h51

    Despedida agridoce

    Três centenas de populares gritavam "Michelle volverá" na frente da sede de governo enquanto a presidente chilena fazia sua última foto oficial no Palácio de La Moneda. Os jornalistas não puderam não perguntar sobre uma possível volta nas eleições de 2014, afinal, Michelle Bachellet sai do poder com 84% de popularidade, mesmo após as críticas com a atuação nas primeiras horas do terremoto. "Não façam ficção, rapazes", foi a resposta da mandatária que ficou conhecida pelo bom-humor. O jornal popular "Las Últimas Noticias" publicou em sua capa a foto de Michelle com a frase "Hasta la vista, baby", lembrando o gracejo que ela fez em discurso ao lado de Arnold Schwarzenegger, o governador californiano.

  • 04h29

    Literatura premonitória

    A volta da direita ao poder no Chile em 2010, após 20 anos de democracia, é abalada por um terremoto. Este é o enredo do livro "Está Temblando" (em português, está tremendo), do comentarista político e escritor Hermóneges Perez de Arce, publicado em 2007. Mas o próprio autor diz que não é vidente. "No livro, o terremoto acontece no próprio dia da posse. E o presidente eleito é um sujeito mais a direita que [Sebastián] Piñera. Meu personagem é um pinochetista, um ex-ministro da ditadura", explica o escritor. Piñera tem uma posição contraditória em relação a Augusto Pinochet. Se por um lado ele apoiou o plebiscito para tirar o ditador do poder em 1990, por outro criticou a prisão de Pinochet em Londres por conta de processo na Espanha.

  • 04h29

    Casa da mãe Joana

    A vida de ONG não é coisa fácil. O prefeito de Arauco, uma das cidades mais atingidas pelo tsunami no Chile, proibiu que se construíssem casas de madeiras para albergar os flagelados, como queria a campanha "Um Techo Para Chile" (em português, um teto para o Chile). Ele não deixou que universitários montassem casas de 18 metros quadrados em um campo de futebol da localidade. "As famílias precisam de algo maior, com 30 metros quadrados. Depois, isso não os protege do frio", argumentou Maurício Alarcón, o mandatário local.

  • 10/03/2010
  • 15h13

    Sono pesado

    Ela já enfrentou três megaterremotos. E o último, dez dias atrás, acordou assustada, mas, como viu que nada caiu no seu quarto, encostou a cabeça no travesseiro e dormiu. Vitória Esparza, 89, mora em Concepción e só ficou sabendo da proporção do sismo quando acordou de manhã. Então, viu que não havia água e luz e saiu à rua. Ela já tinha experimentado o terremoto de 1939, o de 1960 e encarou com tranquilidade o de 2010. "Fiquei tranquila e dormi", relatou.

  • 15h09

    Tremendo aplicativo

    No Chile, os aplicativos para iPhone mais baixados nestes dias são chamados de Seismometer e Epicentre. Nem precisa explicar a serventia deles. Depois das redes de relacionamento se transformarem no principal meio de comunicação nas ruas, nos dias seguintes ao terremoto, os geeks agora cultuam esses dispositivos para ter informações de sismos. O valor é baixo: 510 pesos (U$ 0,99). Eles prometem que no máximo em dois minutos vão aparecer no seu celular o epicentro e a magnitude do tremor.

  • 15h04

    Opostos se atraem

    Um dos homens mais procurados da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) está lado a lado com os militares na ajuda aos atingidos da cidade de Lota. Vassily Carillo, 53, foi um dos líderes da Frente Patriótico Manuel Rodríguez (FPMR), guerrilha que bateu de frente com o regime e tentou várias vezes matar o ditador. Vassily, com intensa vida sindical, está coordenando com os militares a distribuição de água na cidade mineradora de carvão.

  • 15h01

    Turistas de rapina

    Muitos se alistaram como voluntários na ajuda aos atingidos na cidade balneária de Constituición após o tsunami. Mas há os que se aproximam do local só para tirar fotos para postar no Facebook ou blog particular. "Fico com raiva, eles não mexem uma palha e ainda atrapalham a chegada de ajuda vinda de carro até aqui e obstruindo as ruas", se queixou Carlos Fuentes, pedreiro de 36 anos que perdeu sua casa com o maremoto.

  • 06h48

    Rondo a cidade durante as noites

    São 21h na segunda maior cidade do Chile, mais de dois milhões de habitantes, e as ruas estão desertas. Isso porque começou o horário do toque de recolher. Como consegui meu salvo-conduto do Exército por exercer o sacerdócio do jornalismo, posso passear pelas ruas tranqüilas e devastadas de Concepción. Cruzo com um grupo de voluntários da Cruz Vermelha, que, assim como funcionários públicos e taxistas, também têm seus motivos para manter a liberdade noturna, tirada à população local. Um gato atravessa a rua. Um grupo de cães persegue a fêmea de sua espécie. Os animais, até segunda ordem, não precisam de salvo-conduto. Até os mendigos não se arriscam na calçada. Dois deles estão bêbedos e cantando em um baldio, mas nada de se aproximar da luz pública. O som mais alto é o das gaivotas, afinal, estamos próximos do mar. Pela janela, vejo que uma família joga cartas na sala para matar as 11 horas contínuas de reclusão (das 21h até as 10h). Dobro uma esquina e escuto vozes jovens e barulho de copos brindando. Quase posso ver uma miragem de um bar cheio e aberto, como um oásis na solidão. Mas não. É um grupo de adolescentes que está na sacada de um apartamento matando o tédio com cerveja e conversa ao celular com outros detidos longe dali. Pouco depois, sou parado por uma dupla de carabineros, como são chamados os policiais militares do Chile. Pedem o salvo-conduto e documento, e me deixam passar. Um quarteirão depois é um soldado com metralhadora em mão e um cão que vem na minha direção. É um moleque fardado de 18 anos. O pastor alemão ao seu lado na verdade é um cão de rua e vem mendigar comida. O bichinho parece mais esfomeado que os saqueadores que levaram eletrodomésticos e eletrônicos do comércio local nas horas posteriores ao terremoto e colocaram a cidade nessa situação. Passo no regimento do Exército e peço para usar a internet por lá. ¿Aqui é uma área de segurança, cara. É melhor você tentar no hotel que está dois quarteirões para lá¿, responde o soldado de sentinela. O hall do apart-hotel Germânia virou uma espécie de centro de imprensa, com jornalistas hóspedes ou não lotando a rara ¿zona wi-fi¿ (os chilenos pronunciam uifi). Depois da internet solidária, tenho que voltar à pensão que foi a única forma de hospedagem que encontrei em Concepción. Novamente, sou parado pelo soldado, que me reconhece, e pelos carabineros, que querem puxar papo para se distraírem. Perguntam até do Carnaval da Bahia. Brinco e digo que em Salvador tem bem mais gente nas ruas durante a festa.

  • 06h45

    Vinho com sabor de escapamento

    A única via de comunicação dos civis entre o sul devastado e Santiago é a rodovia 5, afinal, só os militares podem usar o espaço aéreo, para deslocamento de tropas e mantimentos. Pego a estrada para retornar a Santiago. O motorista do ônibus promete que chegamos em sete horas na capital. O pneu fura, e a parada de meia-hora no borracheiro acaba com o planejado. Mas o pior vem adiante. Na altura da cidade de Curicó há um bloqueio por conta de uma ponte que caiu. Ficamos parados diante de uma placa apontando que Santiago está a 198 km por uma hora. Antes do rio com uma ponte só, um congestionamento de cinco horas mantém o veículo preso em um espaço de apenas dois quilômetros de asfalto em meio a parreiras recheadas de uva esperando a colheita para virar vinho.

  • 08/03/2010
  • 21h21

    Mãe coragem

    Uma das histórias que mais comoveram o Chile foi a de Denisse Quezada. Na hora do terremoto, ela estava em Santiago, mas seu filho único, Matias, 8, estava na casa dos avós no balneário de Curanipe. Sem comunicação por telefone ou computador, a jovem mãe se lançou na estrada até a cidade litorânea com um pouco de dinheiro que um vizinho emprestou. Pedindo carona e caminhando mais de 15 quilômetros, ela chegou lá e encontrou seu filho e seus pais em um morro das proximidades. Denisse foi recebida pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, como mostra do reconhecimento de seu esforço. "Fiz o que qualquer mãe desesperada faria", resumiu.

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