Conheça cinco grandes controvérsias do Nobel da Paz
Do UOL, em São Paulo
08/10/2015 06h00
Entre os anos de 1901 e 2014, o prêmio Nobel da Paz foi entregue 95 vezes, a 128 laureados (entre indivíduos e organizações). O Comitê Internacional da Cruz Vermelha já foi premiado três vezes, por exemplo, e o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), duas vezes.
O prêmio foi criado para atender a um desejo de Alfred Nobel após sua morte. Em seu testamento, o químico nascido na Suécia deixou boa parte de suas posses para que fosse estabelecida uma premiação em reconhecimento “aos que, durante o ano anterior, conferiram um grande benefício à humanidade”.
Surpresos com o que determinava o documento, sua família e aqueles já indicados pelo cientista sueco se opuseram a seguir o que estava no testamento. Somente cinco anos mais tarde foi entregue o primeiro prêmio Nobel, em 1901, em Oslo (Noruega).
O objetivo é homenagear os que se destacaram em cinco áreas definidas por Nobel: física, química, medicina, literatura e “pela fraternidade entre nações, pela abolição ou redução de Exércitos permanentes e pela manutenção e promoção da paz”.
No quesito paz, há dúvidas sobre o acerto na escolha de alguns dos premiados nas últimas décadas. Veja na lista abaixo exemplos entre os mais polêmicos.
Cinco controvérsias no Prêmio Nobel da Paz
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Imagem: John McConnico/Pool/Reuters Imagem: John McConnico/Pool/Reuters 2009: Barack Obama
Em foto de 2009 em Oslo (Noruega), o presidente dos EUA, Barack Obama (à direita), recebe a certificação do prêmio Nobel da Paz de Thorbjorn Jagland (ex-primeiro-ministro da Noruega e atual integrante do comitê da premiação). O norte-americano foi premiado "por seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre povos". Reeleito em 2008, Obama vivia um momento de alta popularidade quando recebeu o Nobel da Paz, mas a escolha foi avaliada por muitos críticos como prematura e politicamente motivada. Em 2015, o então diretor do Instituto Nobel norueguês, Geir Ludestad, chegou a declarar que se arrependia de ter entregado a condecoração e que o comitê que elege os ganhadores "pensou que isso fortaleceria Obama, e isso não teve este efeito". Decisões do presidente para temas espinhosos como a prisão de Guantánamo (Cuba), a presença de soldados dos EUA no Afeganistão, o uso de drones no Oriente Médio e a guerra civil na Síria têm sido amplamente questionadas.
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Imagem: Bendiksby/EFE Imagem: Bendiksby/EFE 2004: Wangari Muta Maathai
Em foto de 2004, a queniana Wangari Muta Maathai, vencedora do Nobel da Paz naquele ano. Foi a primeira mulher africana a receber o prêmio, "por sua contribuição com o desenvolvimento sustentável, democracia e paz". Citada internacionalmente como ambientalista, defensora das mulheres e dos direitos humanos, Maathai foi acusada por um jornal africano de ter comparado a Aids a uma arma biológica e de divulgar que a doença havia sido criada por cientistas de mente má para controlar a população africana. A ativista se defendeu dizendo que suas falas foram mal contextualizadas. Ela morreu em 2011, aos 71 anos de idade, em Nairóbi, vítima de câncer.
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Imagem: Folhapress Imagem: Folhapress 1994: Iasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin
Em foto de 1994, da esquerda para a direita: Iasser Arafat (líder palestino), Shimon Peres (chanceler israelense) e Yitzhak Rabin (premiê de Israel) seguram suas medalhas e certificados conferindo aos três o prêmio Nobel da Paz. O trio foi premiado "por seus esforços para criar a paz no Oriente Médio". Vinte anos depois, ainda está longe de chegar ao fim o impasse entre palestinos e israelenses sobre a criação de dois Estados. Na Assembleia Geral da ONU de 2015, o palestino Mahmoud Abbas afirmou que não mais cumprirá os acordos com Israel e acusou o país de violá-los. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, disse, em resposta, que os palestinos desistiram da paz. Em 2014, cerca de 2.000 palestinos morreram em confrontos com o Exército de Israel na faixa de Gaza.
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Imagem: Michel Lipchitz/AP Imagem: Michel Lipchitz/AP 1973: Henry A. Kissinger e Le Duc Tho
Em foto de 1973, os ganhadores do prêmio Nobel da Paz: Henry A. Kissinger (esq), secretário de Estado dos EUA, e Le Duc Tho, líder do Vietnã do Norte. Os dois homens facilitaram o acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietnã. Críticos apontaram, no entanto, que bombardeios por parte dos EUA continuavam no Camboja no ano em que o prêmio foi entregue, além de acusarem Kissinger, entre outras coisas, de crimes de guerra pelo fornecimento de armas e apoio a ditadores sul-americanos na Operação Condor, que matou milhares de pessoas como repressão ao comunismo no Brasil, na Argentina, na Bolívia, no Chile, no Paraguai e no Uruguai. Le Duc Tho se recusou a receber o prêmio, afirmando que a paz ainda não havia sido restaurada na parte sul do Vietnã.
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Imagem: Max Desfor/AP Imagem: Max Desfor/AP Mohandas Gandhi (Mahatma Gandhi)
Em foto de 1946, Mohandas Gandhi (ou Mahatma Gandhi), líder pacifista indiano (à direita), conversa com Jawaharlal Nehru em Bombaim (Índia). No ano seguinte, Nehru tornou-se premiê da Índia. Gandhi liderou o movimento popular que colocou fim a quase dois séculos de dominação colonial britânica na Índia e também o introdutor da resistência pacífica, da desobediência civil e da não-violência. Gandhi nunca recebeu o Nobel da Paz, embora tenha sido indicado cinco vezes entre 1937 e 1948. O Comitê do Nobel, décadas mais tarde, declarou seu arrependimento. "A maior omissão nos nossos 106 anos de história é, sem dúvida, que Mahatma Gandhi nunca tenha recebido o prêmio Nobel da Paz", disse Geir Lundestad, secretário do comitê norueguês, em 2006. "Gandhi poderia ficar sem o prêmio Nobel, mas a questão é se o comitê do Nobel pode ficar sem Gandhi."