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Hillary diz que confia na democracia brasileira e que seguirá eleições presidenciais

UOL Notícias*

Em São Paulo

03/03/2010 21h35

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou nesta quarta-feira (3) que confia na democracia brasileira e que acompanhará as eleições presidenciais no Brasil.

“A próxima eleição [no Brasil] vai ser excitante e quem quer que ganhe terá boa relação com os EUA”, disse Hillary em um “encontro-entrevista” com jovens, representantes de ONGs e do governo na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo.

“Acredito que os EUA e o Brasil são os países mais parecidos do mundo. Ambos são grandes, dinâmicos e felizes a maior parte do tempo”, disse Hillary.

A visita da secretária ao Brasil faz parte de um giro diplomático pela América Latina. Antes do evento em São Paulo, a secretária encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com chanceler brasileiro, Celso Amorim, em Brasília.

A primeira pergunta direcionada à secretária no encontro em São Paulo foi sobre o programa nuclear iraniano. Hillary voltou a dizer o mesmo que havia dito horas antes em Brasília.

Segundo ela, tanto o Brasil como os EUA querem evitar que o Irã produza uma bomba nuclear, fato constantemente negado pelo regime de Teerã. “Às vezes precisamos colocar pressão para conseguir um diálogo sincero”, disse referindo-se às sanções defendidas pelos EUA.

Questionada se o Brasil deveria seguir a mesma política internacional dos norte-americanos, respondeu que "o Brasil é um ator global com mente independente, ele pensa nos seus próprios interesses econômicos e de segurança, assim como os Estados Unidos. Mas a questão principal é o que fazer com o Irã. Esperamos apoio para uma ação úncia contra o país"

Hillary também afirmou que os EUA querem apoio do Conselho de Segurança da ONU para dar uma mensagem ao Irã de que o país persa pode ter energia nuclear, mas não tem direito a armas nucleares.

"Eles têm direito de manter um programa nuclear, mas não de fabricação de armas nucleares. Os países do Oriente Médio vão pensar: 'Se o Irã me ameaça e tem armas nuclares, também preciso ter'", explicou.

 América Latina
Sobre a América Latina, a secretária disse acreditar que o presidente norte-americano, Barack Obama, tem trabalhado para melhorar as relações entre a região e os EUA, afetadas na gestão George W. Bush.

 “Acredito que o Obama já mudou [a relação América Latina-EUA]. As pessoas esquecem que as mudanças são difíceis. Se fosse fácil, qualquer um faria”, justificou. “Acreditamos que o presidente Obama já mudou muito na forma como os EUA são vistos [pelo mundo]”, concluiu.

 Hillary, inclusive, minimizou a polêmica em torno da criação de uma entidade regional sem a presença dos EUA e Canadá para se contrapor à OEA (Organização dos Estados Americanos), criada no fim de fevereiro por 32 países da região reunidos no México. “Os EUA são à favor de blocos quando os países se juntam para fazer coisas boas’, comentou.

 “Existe a necessidade de os países se reunirem. Os EUA não encaram essa situação como uma ameaça”, afirmou recordando, ainda que os EUA também formam parte de um bloco que inclui apenas México e Canadá.

 Quando foi questionada sobre a Venezuela, entretanto, Hillary foi mais dura e não poupou criticas ao presidente venezuelano, Hugo Chávez. “Queremos ter uma boa relação com a Venezuela, mas sob as atuais circunstâncias é difícil”, afirmou.

 “Há muitas coisas que acontecem hoje em dia na Venezuela que nos preocupam. Aqui no Brasil vejo a imprensa livre, vi a participação da imprensa hoje em Brasília. Já o presidente Chávez tenta coibir a imprensa”, disse.

“Haver corte de energia em um país com petróleo não faz sentido”, cutucou a secretária em referência aos cortes de energia que têm atingido a Venezuela nos últimos meses.

 Em Brasília
Horas antes, em entrevista coletiva concedida no Palácio do Itamaraty, em Brasília, Hillary afirmou que o governo brasileiro ainda acredita numa resposta positiva às tentativas de diálogo com o Irã em prol da não produção de armas nucleares.

Políticas afirmativas

Para a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, “as políticas afirmativas ajudam combater vestígios de segregação”. Na Faculdade Zumbi dos Palmares, Hillary contou que, quando era professora de direito, teve alunos talentosos que entraram na universidade por meio de políticas afirmativas. Ela ressaltou, entretanto, que o estudante tem de ser ajudado depois de entrar universidade. Para o diretor da faculdade, Edílson Antônio Miranda, a presença da norte-americana é um momento “histórico” para a instituição. Segundo ele, a Unipalmares é voltada, principalmente, para alunos afro-descendentes, com o objetivo de sanar “uma divida histórica que o Brasil tem com o negro”.

“Eu acho que o Brasil acredita que há espaço para negociação. Nós achamos que a negociação e o esforço de boa-fé não parecem bem-recebidos pelo Irã”, defendeu a secretária.

“O que observamos é que o Irã vai para o Brasil, China e Turquia e conta histórias diferentes para evitar as sanções. Nós continuaremos a discutir essas questões”, afirmou. Hillary lembrou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito, há mais de um ano, tentativas de diálogo com o país asiático, e que, além dos 20% do urânio enriquecido, eles estariam atuando de forma velada, escondendo da comunidade internacional o real tamanho de sua produção nuclear.

Já o chanceler Amorim reforçou o posicionamento brasileiro de dar mais tempo ao governo de Ahmadinejad para evitar sanções. “A questão é de saber qual o melhor caminho para chegar lá ou se estão esgotadas as possibilidade de negociação. Nós acreditamos que ainda há oportunidade de se chegar a um acordo, talvez exija um pouco de flexibilidade de parte a parte”, disse o chanceler.

“Nós pensamos com a nossa própria cabeça. Nós queremos um mundo sem armas nucleares, certamente sem proliferação”, afirmou Amorim, ao lado da secretária de Estado. “Não se trata de se curvar simplesmente a uma opinião que possa não concordar [no caso do grupo liderado pelos Estados Unidos]. Nós não podemos ser simplesmente ser levados.”

*Com informações de Thiago Chaves-Scarelli, em São Paulo