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Assessor de Lula nega "condescendência" do Brasil com Cuba ou Irã

Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República - Brizza Cavalcante/Agência Câmara
Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República Imagem: Brizza Cavalcante/Agência Câmara

Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

27/04/2010 17h24

Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, negou nesta terça-feira (27) que o Brasil seja condescendente com os governos de Cuba ou do Irã, e defendeu que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva acredita na efetividade das “negociações discretas”.

Questão "Irã"

Durante seu depoimento à comissão, o assessor mencionou a visita do chanceler Celso Amorim à Teerã, onde se encontrou hoje com o presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Para Garcia, a visita é um exemplo de ação da política externa brasileira das “ações discretas”.

Segundo o assessor de Lula, a intenção do Itamaraty era convencer a República Islâmica a adotar o comportamento do Brasil, ou seja, obedecer as regras da Agência Internacional de Energia Atômica e renunciar ao uso bélico das armas atômicas

“O Brasil não tem nenhuma afinidade com o Irã diferente da que tem com qualquer outro país”, acrescentou. “Muito pelo contrário, é um governo de caráter religioso, uma religião com a qual a maioria dos brasileiros não tem afinidade, ocupa posições no âmbito internacional distintas das nossas”.

Contudo, explicou Garcia, Irã está evolvido em questões globais e não pode ser ignorado pelo governo se o Brasil tem ambição de fazer “política externa de verdade”.

As afirmações de Garcia foram feitas em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional na Câmara, que cobrou explicações sobre uma declaração do assessor a respeito da morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo.

Segundo o autor do requerimento, deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), Garcia teria afirmado que “em todos os países há desrespeito a direitos humanos” ao comentar a greve de fome que levou Tamayo à morte.

“Não podemos admitir essa afirmação feita por alguém em cargo importante, sob pena de acharmos que o desrespeito aos direitos humanos é algo normal”, justificou Thames em sua convocação.

“Não lhe concedo o monopólio da consciência cívica. O respeito aos direitos humanos é compartilhado por muitos”, afirmou Garcia à comissão, em resposta ao deputado, defendendo que ele próprio é um defensor da liberdade de expressão, com experiência pessoal de prisão e exílio.

“O Itamaraty tem informações sobre os direitos humanos em todos os países, posso lhe dizer que essas informações são em muitas circunstâncias contraditórias”, afirmou.

“O que eu disse é que em todos os países, ou quase todos os países, há denúncias de violações dos direitos humanos. Na Suécia talvez não, mas na Suíça há”, respondeu Garcia, citando a restrição contra mesquitas neste país europeu, norma acusada de violar a liberdade religiosa individual.

Garcia mencionou ainda repressão contra a mulher em países árabes, violência contra imigrantes na Europa e as denúncias contra Israel nas ações sobre a Faixa de Gaza. O assessor lembrou que tais denúncias não impediram que o Brasil visitasse Israel e assinasse acordos com o país.

“[A situação dos direitos humanos no mundo] é uma questão complexa, muito fácil de atacar”, acrescentou, lembrando que ele próprio criticou a presidência de Fernando Henrique Cardoso quando o Brasil reconheceu a eleição do peruano Alberto Fujimori, acusada de irregularidades.

Sobre a política concreta do Brasil para defender os direitos humanos e a estabilidade mundial, Garcia respondeu que as ações se baseiam em duas linhas: em primeiro lugar, as “ações discretas”, de convencimento, que segundo ele seriam mais eficientes que as “denúncias borbulhantes”; e, em segundo lugar, o encaminhamento das questões comprovadas aos fóruns multilaterais competentes.