Crítica à comunidade internacional faz brasileiro ser afastado da OEA no Haiti
Leandro Prazeres
Especial para o UOL Notícias<br>Em Porto Príncipe
24/12/2010 22h03
O representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, o professor de Relações Internacionais brasileiro Ricardo Seitenfus, foi afastado do cargo nesta semana pelo secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza. Seitenfus diz que seu afastamento se deu por conta de declarações publicadas no último dia 20 no jornal suíço "Le Temps" em que critica a comunidade internacional e por seu posicionamento durante a crise política que se instalou no Haiti desde novembro.
Ao periódico europeu "Le Temps", Seitenfus disse que o “Haiti é uma prova da falha da ajuda internacional”. O ex-representante da OEA disse que o “Haiti paga, essencialmente, por sua grande proximidade dos Estados Unidos” e que a comunidade internacional quer que os haitianos permaneçam no Haiti. Ele foi além e criticou a forma como as principais potências mundiais se relacionam com o país caribenho, o mais pobre do Hemisfério Ocidental. “É a força que define as relações com o Haiti, nunca o diálogo”, prosseguiu Seitenfus.
Seitenfus também critica a presença de quase 10 mil militares de diversos países em solo haitiano. O comando militar da Minustah é do Brasil. “O Haiti não é uma ameaça internacional. Não estamos em guerra civil. Haiti não é o Iraque ou o Afeganistão”, disparou o ex-representante da OEA no Haiti.
Seitenfus disse que a formação de um governo provisório foi uma das propostas apresentadas na reunião realizada no dia 28 de novembro, quando 12 dos 19 candidatos à presidência do Haiti pediram a anulação das eleições devido as denúncias de fraude. A primeira proposta, diz o professor, foi ainda mais radical.
“No dia 28 de novembro, houve uma reunião da comunidade internacional em que foi aventado o encurtamento do mandato e a saída de Préval do país. Ou seja, iam repetir o que fizeram com o Jean Betrand Aristide em 2004. Quem liderou o consenso foi o embaixador representante do secretário-geral da ONU, Edmund Mulet”, afirmou Seitenfus.
O professor afirmou que a proposta só não foi aceita depois que ele e representante do governo brasileiro se mostraram contrários. “Nós conseguimos reverter o consenso que havia em torno dessa possibilidade reabrir o diálogo”, disse.
Seitenfus diz que sua demissão tem mais a ver com seu posicionamento diante da crise política haitiana que pela entrevista concedida no início da semana ao jornal suíço Le Temps. “O secretário-geral da OEA (José Miguel Insulza) me disse que foi por causa da repercussão da entrevista, mas ela foi apenas um elemento catalisador. Eu tive uma posição muito clara diante da crise. Tão clara que me pediram para ir embora”, diz o professor que deveria ficar no Haiti até o final de março de 2011.