Dois anos após terremoto, reconstrução do Chile ainda é lenta
Mesmo passados dois anos do terremoto de magnitude 8,8 e do tsunami que destruíram parte do Chile, a reconstrução do país ainda parece estar longe de acabar. As obras, segundo os jornais locais, caminham lentamente. A tragédia de 27 de fevereiro de 2010, que devastou seis regiões litorâneas, foi a pior da história recente chilena e deixou 525 mortos, 25 desaparecidos e cerca de 800 mil desabrigados.
Em um relatório publicado recentemente, o governo chileno sustentou que os trabalhos mostram um progresso de 68% em nível global, embora em matéria de habitação o nível de cumprimento seja de 47%. A presidente do PPD (Partido pela Democracia, da oposição), Carolina Tohá, no entanto, disse ao jornal "La Tercera", que o governo "maquiou dados", apesar de reconhecer os avanços.
Um relatório divulgado nesta segunda-feira (27) pela Concertación, a coalizão da oposição, aponta que o avanço da reconstrução é de 29%, com apenas 11% de progresso no caso dos imóveis. "Houve falta de transparência por parte do governo nos dados entregues", disse o presidente do Partido Socialista, Osvaldo Andrade.
Os números do governo também são contraditórios aos apontados por uma reportagem realizada pelo jornal "El Mercúrio", que afirma que apenas 14% dos 36 projetos de reconstrução do município de Constituición, um dos mais atingidos pela tragédia, foram concluídos. Outros 5% estão em andamento.
A proposta inclui obras de infraestrutura urbana e de espaços públicos, como ciclovias, praças, uma biblioteca municipal, um teatro e um museu náutico. Também está prevista a construção de um parque de mitigação em toda a costa do município como proteção contra futuras catástrofes.
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Mas, ainda que, segundo a reportagem do "El Mercúrio", a maior parte dos setores do município tenham se recuperado, Jorge Araneda, subgerente de Assuntos Públicos, prevê que a reconstrução total da cidade deve ser finalizada apenas em 2015. A lenta reconstrução, principalmente de imóveis, também foi criticada pelo prefeito de Constitución, Hugo Tillería, que disse que "as pessoas já estão absolutamente cansadas".
Em contrapartida, o presidente chileno, Sebastián Piñera, afirmou que 73% dos estabelecimentos educacionais prejudicados pela tragédia estão reconstruídos, durante discurso realizado nesta segunda em homenagem às vítimas do terremoto. Ele também enfatizou, segundo o jornal "Prensa Escrita", os avanços nas obras de estradas, instalações de saúde e de casas. "Esta é uma reconstrução não para reconstruir o que tinha, mas para reconstruir melhor."
Ele disse que o governo conseguiu reconstruir e reparar dois terços dos edifícios e infraestruturas danificados pelo terremoto. "É algo objetivo, que pode ser demonstrado com números", disse. "Fixamos o prazo de quatro anos para reconstruir 100% do que foi destruído (...) É uma missão muito exigente e ambiciosa", manifestou.
Piñera reconheceu, no entanto, que ainda há um longo caminho a percorrer: "há um terço do projeto para concluir e ainda existem centenas de chilenos esperando por um lar". "Estamos trabalhando na construção de um país que todos sentimos que temos como contribuir para esse desenvolvimento, mas também que podemos ser beneficiados por este desenvolvimento", concluiu.
Protestos
No último domingo (26), os chilenos saíram às ruas vestidos de preto para protestar contra a lentidão do governo no processo de reconstrução da região. As manifestações mais intensas ocorreram nas regiões de Talca e Dichato, além de Concepción e Bío-Bío.
"Aqui [no Oeste do Chile] tivemos que recuperar mais de 2.000 casas. O governo prometeu restaurar as casas e até agora nada aconteceu”, disse o senador Andres Zaldivar, que participou dos protestos. O prefeito da cidade de La Poza, Ricardo Hormazabal, disse que a região de Concepción é prioridade do governo federal e que a área será reconstruída.
Mas, de acordo com dados do governo, o processo de reconstrução evolui e as metas estão sendo alcançadas. Ontem, inclusive, o ministro da Habitação, Rodrigo Perez Mackenna, entregou 91 novas casas para os sobreviventes do terremoto.
Precauções
O governo do Chile afirmou nesta segunda que os organismos de emergência do país estão agora mais bem preparados para enfrentar uma emergência como o terremoto de dois anos atrás que teve danos avaliados em US$ 30 bilhões.
O Escritório Nacional de Emergência "está mais preparado para enfrentar uma tragédia dessa magnitude", garantiu o porta-voz do governo, Andrés Chadwick. Segundo ele, na época, o escritório "estava completamente ou muito abandonado, pouco profissionalizada e sem planos e protocolo de contingência", enquanto hoje está "em melhores condições."
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