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Suco de sapo é a mais recente droga para cavalos de corrida

Dermorfina é encontrada na pele de uma rã nativa da América do Sul - Divulgação Editora Neotropica
Dermorfina é encontrada na pele de uma rã nativa da América do Sul Imagem: Divulgação Editora Neotropica

Walt Bogdanich e Rebecca R. Ruiz

The New York Times

20/06/2012 16h46

Os comissários de turfe continuavam ouvindo relatos: treinadores estavam dando aos seus cavalos uma poderosa poção para melhora do desempenho, extraída das costas de um tipo de rã da América do Sul.

Mas, por meses, os testes pós-corridas não encontravam a substância, um analgésico mais poderoso que a morfina. Então um laboratório na área de Denver ajustou seu procedimento de teste e, nas últimas semanas, mais de 40 cavalos de quatro Estados apresentaram resultado positivo para a substância, dermorfina, que é suspeita de ajudar os cavalos a correrem mais rápido.

Nenhum treinador foi acusado formalmente, apesar dos comissários esperarem que isso ocorra em breve. Por causa de sua potência e habilidade de afetar o resultado de uma prova, o uso da dermorfina é considerado uma das violações de drogas mais sérias do setor.

"Nós já ouvimos sobre algumas coisas bem exóticas", disse Steven Barker, que dirige o laboratório de testes da Universidade Estadual da Louisiana. "Suco de sapo –isso é exótico."

A descoberta ocorre em um momento em que as corridas de cavalo estão lutando contra a percepção de uma cultura de drogas disseminada. De fato, a dermorfina é a mais recente de uma longa lista de drogas ilegais para melhora do desempenho que chegaram aos hipódromos. Veneno de cobra também já foi usado por treinadores para aliviar a dor e permitir que cavalos com lesões possam correr. Ele funciona como um bloqueador nervoso local, diferente da dermorfina, um supressor de dor mais amplo que é 40 vezes mais poderoso que a morfina, disse Barker.

Se os cavalos não podem sentir suas lesões, dizem os veterinários, é maior a probabilidade deles correm mais do que correriam caso contrário.

Craig W. Stevens, um professor de farmacologia da Universidade Estadual de Oklahoma, que tem estudado a dermorfina, disse que a substância deixa os animais "hiper".

"Para um cavalo de corrida, seria benéfico", ele disse. "O animal não sentiria dor e teria sensações de excitação e euforia."

Stevens disse que a dermorfina é encontrada na pele de uma rã chamada Phyllomedusa sauvageii, que é nativa da América do Sul.

Barker disse suspeitar que grande parte da dermorfina foi sintetizada artificialmente. "Há muito disso por aí e seria preciso uma quantidade enorme de rãs para tamanha extração", ele disse, acrescentando, "mas há muitos químicos desempregados por aí".

Outras drogas para melhora do desempenho encontradas em cavalos de corrida incluem as usadas para engordar artificialmente o gado e os porcos antes do abate.

"Essa é uma questão difícil", disse Edward J. Martin, presidente da Racing Commissioners International, uma associação dos comissários de turfe. "É um jogo de gato e rato. Assim que você expõe a dermorfina, eles passarão para algo novo. É uma batalha diária e contínua."

Ainda não se sabe com que frequência a dermorfina é usada no turfe –muitos Estados não têm capacidade para testá-la –mas até o momento laboratórios a encontraram na Louisiana, Oklahoma e Novo México. Também há suspeita de seu uso no Texas. Alguns dos resultados foram divulgados no site nola.com, do jornal "The Times-Picayune" de Nova Orleans.

"Essa coisa toda realmente nos pegou de surpresa", disse Charles A. Gardiner 3º, diretor executivo da Comissão de Turfe da Louisiana. "Não poderia ter ocorrido em um momento pior. Nós estamos lutando para evitar uma intervenção federal. Nós estamos sob ataque e perdendo nossos fãs. Os fãs acreditam que o esporte é sujo, que só há trapaça. E aqui temos uma tentativa óbvia de trapaça."

Na Louisiana, disse Gardiner, 11 cavalos, tanto quarto de milha quanto puro sangue, apresentaram positivo para dermorfina. Ele disse que dois cavalos quarto de milha, em particular, receberam grandes premiações. "Muito dinheiro precisará ser devolvido", ele disse.

Quatro cavalos puro sangue apresentaram positivo, com três terminando em primeiro e um em segundo, todos em corridas em maio. "Eu tenho certeza que há mais positivos por todo o país", disse Gardiner. "Não é incomum algo passar sem ser detectado."

Barker, do laboratório da Estadual da Louisiana, disse que 15 cavalos em Oklahoma deram positivo para dermorfina. As autoridades em Oklahoma se recusaram a comentar, assim como os comissários de turfe no Texas.

Vince Mares, diretor executivo da Comissão de Turfe do Novo México, disse que um laboratório da Califórnia encontrou dermorfina em seis exames pós-corrida no Novo México. Um consultor do setor disse que outra dúzia de testes positivos no Novo México está aguardando confirmação.

O Industrial Laboratories, nos subúrbios de Denver, foi o primeiro laboratório a identificar com sucesso a dermorfina em exames pós-corrida. Não foi fácil.

Petra Hartmann, diretora dos serviços de exames diretos da empresa, disse que os clientes informaram sobre os rumores de que uma secreção das costas de sapo estava sendo usada, e posteriormente alguns materiais apreendidos comprovaram ser dermorfina.

"Nós identificamos a dermorfina", disse Hartmann. "Nós sabíamos que ela estava sendo usada." Mas, ela disse, o exame do laboratório não conseguia identificar a droga nos cavalos após as corridas.

Após os comissários de turfe insistirem que a substância estava sendo usada, "nós voltamos para a prancheta", disse Hartmann. O cientista chefe do Industrial acabou desenvolvendo um teste mais sensível, especificamente para esse composto, ela disse.

"Não há descanso neste ramo", ela disse. "Você está sempre correndo atrás de algo, tentando determinar o que é rumor e o que é real."

Hartmann disse que não acredita que o uso da dermorfina seja disseminado. "A grande maioria dos donos de cavalos não submeteria seus cavalos a esse tipo de experimentação química", ela disse.

* Joe Drape contribuiu com reportagem