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Lugo não reconhece autoridade política de Franco e anuncia "gabinete paralelo" no Paraguai

Guilherme Balza

Do UOL, em Assunção

25/06/2012 09h12Atualizada em 25/06/2012 11h52

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (25), Fernando Lugo, presidente deposto do Paraguai, recusou reconhecer Federico Franco como novo mandatário e anunciou um “gabinete paralelo” no país para voltar ao poder. Ele ainda acrescentou que “não é possível definir o que vai acontecer no Paraguai nos próximos meses”.

Com isso, a postura de Lugo, que logo após sua deposição -- ocorrida na última sexta-feira (22) -- reconheceu o novo presidente, sofre uma reviravolta.

"Federico Franco -- não o chamo de presidente -- não tem autoridade para convocar o presidente Lugo para ser o mediador dos conflitos internacionais”, afirmou o ex-bispo, referindo-se às declarações de Franco, que disse que o procuraria para tentar resolver os problemas diplomáticos pós-destituição.

“Aqui houve uma quebra institucional do processo democrático, e esta quebra é reconhecida pela maioria da comunidade internacional”, continuou, em alusão aos países latino-americanos que não reconheceram seu impeachment.

“Nós nos submetemos ao julgamento político, mas não vamos dar o gosto aos promotores da morte, que provocaram a morte de camponeses e policiais”, acrescentou, assinalando que o ambiente em frente ao Congresso pode ter causado enfrentamentos, feridos e mortos.

As declarações de Lugo foram dadas em Assunção, na sede do Partido País Solidário (PPS), que integra a Frente Guasú. O ex-presidente esteve reunido no local com ministros que também foram depostos, além de apoiadores, em uma espécie de gabinete de governo paralelo.

O ex-bispo confirmou que tentará estar na Cúpula do Mercosul, na próxima quarta-feira (27), em Mendoza. “O presidente Lugo está solicitando a presença na reunião para explicar pormenorizadamente o que aconteceu aqui”, disse, fazendo autoreferência.

Ele também voltou a dizer que aceitou a destituição para evitar um massacre, mas afirmou que mudou de postura por conta de “um descontentamento nacional e internacional.”

Sobre a possibilidade de antecipar as eleições paraguaias, marcadas para abril de 2013, Lugo diz que isso cabe à Justiça Eleitoral. “Isso não depende do presidente Lugo.”

A reunião entre Lugo e seus conselheiros foi convocada para articular o que o ex-presidente chamou de restauração da democracia. Na prática, a ideia é alinhavar de maneira objetiva seu retorno ao poder. Deputados e senadores aliados de Lugo tentam buscar maneiras de reverter o quadro político atual.

A criação do gabinete paralelo ocorre em um momento no qual as pressões externas ao Paraguai se intensificam. Argentina, Equador e Venezuela retiraram seus embaixadores do país; Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia convocaram os seus representantes no Paraguai para consultas.

Vários outros países da América Latina, inclusive a vizinha Bolívia, não reconhecem o governo de Franco. No domingo (24), Hugo Chávez, presidente venezuelano, suspendeu as provisões de petróleo ao Paraguai.

O Mercosul decidiu suspender o Paraguai da próxima cúpula, a se realizar a partir de quarta-feira (27) em Mendoza, na Argentina. Lugo, por sua vez, afirmou que irá ao encontro. A Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que se reúne na semana que vem no Peru, também suspendeu o Paraguai.

Preocupado com o isolamento, Franco afirmou que iria procurar Lugo para obter ajuda no diálogo com os países vizinhos, mas o ex-bispo disse que não atenderá o pedido. “É um governo falso. Os cidadãos não aceitam um governo que rasgou a institucionalidade da República. Não se pode colaborar com um governo que não tem legitimidade dos cidadãos”, afirmou.

(Com ABC Color)

Veja as cinco acusações que levaram ao impeachment de Lugo

Mau uso de quartéis militaresA primeira acusação é o ato político ocorrido, com a autorização do Lugo, no Comando de Engenharia das Forças Armadas em 2009. Grupos políticos da esquerda se reuniram no local, usaram bandeiras e cantaram hinos ideológicos. Segundo o deputado José López Chávez, no ato, as Forças Armadas foram humilhadas, além de terem sido hasteadas outras bandeiras, num desrespeito a um símbolo nacional.
Confronto em CuruguatyNum dos piores incidentes sobre a disputa de terras no Paraguai, Lugo mandou 150 soldados do Exército para desocupar uma propriedade rural numa área de fronteira com o Brasil. No confronto com agricultores, ocorrido na última sexta-feira (15), ao menos 17 pessoas morreram. Das vítimas, sete eram policiais.
ÑacundayOutro ponto está relacionado às invasões de terras na região de Ñacunday, distrito localizado no departamento (equivalente a Estado) do Alto Paraná, a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai. O deputado Jorge Avalos Marín acusa Lugo de gerar instabilidade entre os camponeses na área ao incentivar os próprios “carperos”, como são chamados os que acampa sob lonas pretas, as ditas “carpas”, encarregados da demarcação de terras.
InsegurançaOs parlamentares acusaram ainda o presidente Lugo de não ter sido eficaz na redução da insegurança que assola o país, embora o Congresso Nacional tivesse aprovado mais recursos financeiros. Além disso, eles criticam os gastos com a procura por foragidos do grupo criminoso EPP (Exército do Povo Paraguaio). Segundo o deputado, nunca na história o EPP (Ejercito del Pueblo Paraguayo), o braço armado do Partido de Izquierda Patria Libre, fez tantas vítimas entre integrantes da Polícia Nacional. Apesar disso, a conduta do presidente teria permanecido inalterada, o que teria dado mais poder ao grupo.
Protocolo de Ushuaia 2A assinatura do polêmico documento Protocolo de Usuaia 2 é visto como um atentado contra a soberania da República. Segundo a acusação dos parlamentares, o presidente não foi transparente sobre a assinatura desse documento já que até a presente data não havia encaminhado uma cópia do Congresso. A oposição a Lugo afirma que a assinatura do protocolo poderia resultar no corte do fornecimento de energia ao Paraguai, além de atentar contra a população e ter um claro perfil autoritário. Eles alegam ainda que Lugo tentou incluir medidas para fechar as fronteiras.