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Para Assange, asilo do Equador é "vitória histórica"; advogado quer recorrer à Corte Internacional

Julian Assange  - Miguel Medina/AFP
Julian Assange Imagem: Miguel Medina/AFP

Do UOL, em São Paulo

16/08/2012 13h35Atualizada em 16/08/2012 15h33

O ativista Julian Assange, 40, fundador do site Wikileaks, disse nesta quinta-feira (16) que considera uma "vitória histórica" o asilo político que o Equador lhe concedeu na embaixada do país em Londres, na Inglaterra (Reino Unido), durante declaração ao lado de Ricardo Patiño, ministro das Relações Exteriores equatoriano.

Para ele, o país é uma "valente nação independente latino-americana".

O chanceler do Reino Unido, William Hague, afirmou que o governo não permitirá a saída de Assange, da Inglaterra pois "não há base legal" para isso. Ele ainda descartou qualquer associação do processo de delitos sexuais com os vazamentos feitos pelo WikiLeaks ou com o desejo dos Estados Unidos de julgá-lo.

Já o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, atual advogado de defesa de Assange, assegurou que irá à Corte Internacional de Justiça se a Grã-Bretanha não deixar seu cliente sair do país. "O que o Reino Unido tem que fazer é aplicar as obrigações diplomáticas da Convenção do Refugiado e deixá-lo sair", declarou ao jornal "El País".

O australiano está refugiado desde o dia 19 de junho, em tentativa de evitar sua extradição à Suécia, onde é acusado de delitos sexuais. O Wikileaks é um portal de vazamento de documentos oficiais.

"Apesar de a decisão de hoje representar uma vitória histórica, nossos problemas acabam de começar. A investigação sem precedentes dos Estados Unidos contra o Wikileaks deve parar", disse ele, que será detido se abandonar a embaixada, pois violou as condições de prisão domiciliar no Reino Unido.

Assange ainda agradeceu "ao povo equatoriano, seu presidente Rafael Correa e seu governo" e lembrou de Bradley Manning, militar americano acusado de ser fonte do Wikileaks, detido a mais de 800 dias sem ter sido julgado.

Amigo do Equador

Patiño justificou a decisão de seu país de acordo com o direito internacional, por considerar que a vida de Assange corre perigo se ele for entregue aos EUA.

"Caso aconteça uma extradição para os Estados Unidos, o senhor Assange não terá um julgamento justo, poderá ser julgado por tribunais especiais ou militares e não é inverossímil que receba um tratamento cruel e degradante, e que seja condenado à prisão perpétua ou à pena capital, sem que seus seus direitos humanos fossem respeitados", disse.

Ele também anunciou a possibilidade de uma reunião de ministros dos países da Alba e da Unasul para debater a "ameaça" do Reino Unido.

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  • Reprodução

    Leia íntegra da carta recebida pela chancelaria do Equador

O presidente do Equadro, Rafael Correa, considera Assange um homem "perseguido, caluniado, linchado midiatiamente" após ter colocado os Estados Unidos "em xeque".

O receio de Assange é de que uma eventual deportação para a Suécia abra portas para uma nova deportação, desta vez para os EUA, onde responderia por acusações de espionagem, referentes às revelações de centenas de milhares de telegramas diplomáticos e documentos de Washington sobre as guerras do Iraque e Afeganistão.

Reforço policial

A polícia londrina reforçou a presença ao redor da embaixada do Equador, no bairro de Kensington, mas a rua não foi interditada.

Alguns manifestantes pró-Assange passaram a noite diante do local, após alerta do governo equatoriano de que a embaixada estava sob ameaça de invasão.

O WikiLeaks, condenou a ameaça britânica de invadir a embaixada equatoriana e chamou a eventual ação de "hostil e extrema".

Suécia e Reino Unido

Para Londres, a decisão do Equador não muda nada, ressaltou o Foreign Office (chancelaria britânica). "Estamos decepcionados com a decisão de Quito", afirma um comunicado. "Mas, de acordo com nossa legislação, as autoridades britânicas são obrigadas a extraditá-lo para a Suécia".

Em sua primeira reação, o governo da Suécia rejeitou qualquer acusação de que sua justiça não garante direitos de defesa. "Nosso sólido sistema jurídico e constitucional garante os direitos de todos", escreveu o ministro das Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, no Twitter.

Em um desdobramento da crise diplomática, a Suécia convocou o embaixador equatoriano em Estocolmo para pedir explicações sobre as acusações de parcialidade contra a justiça sueca. "O embaixador do Equador é esperado no ministério o mais rápido possível. As acusações são graves", declarou o porta-voz do ministério sueco das Relações Exteriores, Anders Jurle.

"Tenho a esperança de que as autoridades britânicas sejam suficientemente sensatas para não entrar na embaixada sem permissão, o que poderia prejudicar as relações diplomáticas em todo o mundo", disse a porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson.

Perseguido

Desde que se entregou à Scotland Yard, em dezembro de 2010, Assange sempre se apresentou como vítima de "perseguições" em seu combate para "libertar a imprensa" e "desmascarar os segredos e abusos de Estado".

Declarou-se "ameaçado de morte", denunciou um "boicote econômico", falou de um complô produzido pelas autoridades americanas para deportá-lo a Guantánamo, via Estocolmo.

Assange foi "Homem do Ano" para a revista americana Time, e recebeu prêmios de defensores dos direitos humanos. Mas a maioria dos meios de comunicação que o apoiaram divulgando suas informações se distanciaram.

Mudou várias vezes de advogados, se irritou com seu editor, que terminou por lançar uma autobiografia "não autorizada".

*Com agências internacionais.