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Papa diz que nome foi inspirado por dom Cláudio Hummes e serve para lembrar dos pobres

Do UOL, no Rio

16/03/2013 07h18Atualizada em 16/03/2013 10h28

O papa Francisco afirmou neste sábado (16), em pronunciamento para 5.000 jornalistas, que escolheu o nome de São Francisco de Assis após ser lembrado pelo arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, que estava a seu lado no momento da eleição, de que era preciso se lembrar dos pobres.

SÃO FRANCISCO DE ASSIS

São Francisco de Assis (1182-1226) é o padroeiro dos humildes e um dos santos mais populares da Igreja Católica --provavelmente também é o melhor recebido entre os não-católicos ou não-cristãos.

Era filho de uma família de comerciantes ricos da Úmbria (centro da Itália), mas que decidiu de um dia para o outro "casar-se com a Senhora Pobreza", dedicar-se à pregação e ganhar seu pão com o trabalho manual ou esmolas. Desde então, é vinculado à paz e a um estilo de vida simples, de renúncia a privilégios terrestres. Foi o fundador da ordem dos sacerdotes e religiosos franciscanos, que administra escolas, hospitais e organizações de caridade ao redor do mundo.

“Quando os votos chegaram a dois terços, aconteceu o aplauso esperado, pois afinal eu havia sido eleito papa. E ele me abraçou, me beijou e disse: ‘não se esqueça dos pobres’. Eu lembrei imediatamente de Francisco de Assis”, contou, saindo do script para contar a história da escolha de seu nome.

Segundo o papa, seu desejo seria "uma igreja pobre, para os pobres". "O nome apareceu no meu coração. Para mim, o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e protege a criatura."

O papa comentou ainda que considera dom Cláudio Hummes um “grande amigo”. “Quando a coisa começou a ficar um pouco perigosa, ele começou a me tranquilizar”, contou.

Francisco ainda ressaltou o que para ele é a figura central da Igreja Católica: Jesus Cristo. “Cristo é o pastor da igreja, mas sua presença na histórica passa pela liberdade dos homens. Cristo está no centro, não o sucessor de Pedro. Sem ele, Pedro e a Igreja não existiriam. Em tudo que aconteceu, o protagonista é, em última instância, o Espírito Santo”, afirmou.

Após o pronunciamento e cumprimentos, o papa voltou ao microfone e abençoou os presentes, em espanhol: "Quero dar minha benção respeitando a consciência de cada um, mas sabendo que cada um de vocês é filho de Deus".

Amigo brasileiro

Em entrevista à rádio do Vaticano, dom Hummes disse que a eleição do papa representa os novos tempos da Igreja Católica Apostólica Romana. "É um papa da América latina, um argentino, nosso vizinho. Tudo isso era algo de forte, significativo, que indicava tempos novos para a Igreja, que tanto precisa neste momento. Tempos novos", ressaltou.

Segundo ele, acompanhar o papa no momento da saudação aos fiéis o deixou "um menino feliz". "Ele me convidou e me disse: 'Venha, esteja comigo, ao meu lado neste momento' e eu fui junto com o cardeal [Agostini] Vallini [vigário do Vaticano]", disse. "Eu era apenas "um menino feliz'." 

"Francisco é um nome que diz uma imensidade: programa de vida, programa de Igreja; é um programa para um papa, um programa maravilhoso porque é evangélico. Isto tudo dava uma alegria muito grande. Também para mim foi uma alegria enorme estar ao lado dele", afirmou Hummes.

O cardeal emérito reiterou que são negativas as informações sobre omissão e participação do papa Francisco na ditadura da Argentina. "Posso dizer que ele não tem absolutamente nada a ver com tudo isso. Nada. Ele é um homem absolutamente do povo, simples e que defende o povo como um pastor defende as suas ovelhas, que ama profundamente", disse.

Trabalho em Buenos Aires

Na capital argentina, o trabalho feito pelo novo papa enquanto era cardeal pode ser visto na periferia da cidade, que Jorge Bergoglio costumava visitar várias vezes por ano.

GESTOS DE HUMILDADE

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Seu espírito evangelizador está presente em cada um dos cantos do centro Padre Carlos Mugica, na Vila 31, aonde o pontífice ia para ouvir, consolar e ajudar os excluídos pela sociedade. "O papa esteve e está muito presente neste bairro, mas também nos demais e em todos os lugares mais escondidos e marginalizados da cidade de Buenos Aires", explicou o padre Eduardo Drabble, vigário da paróquia Cristo Operário, à qual pertence o centro.

O sacerdote lembrou que o papa Francisco ia às prisões e aos hospitais, lugares em que "ninguém quer estar, porque ninguém gosta de estar ao lado das drogas, dos meninos que as consomem ou vendo as pessoas morrerem".

Por isso, disse ele, é uma pessoa "que não só nos deu exemplos de humildade e austeridade, que é o que o caracteriza, mas também de ir sempre além, de ir a um lugar aonde ninguém vai e estar com quem mais precisa". "Ele veio, viu, nos motivou, nos entusiasmou o coração", ressaltou Drabble, que lembrou que há cinco anos o já arcebispo Bergoglio lavou os pés dos primeiros meninos de outro centro situado na Vila 21. "Ele foi o primeiro, e a partir daí as sementes seguiram dando frutos", assinalou.

O legado do papa Francisco nos bairros mais humildes é tão forte que quando se soube que ele fora eleito o sucessor de Bento 16, a Vila 31 explodiu em festa.

"Não podíamos acreditar, ninguém esperava. Os moradores do bairro festejavam, saíam às ruas, gritavam como quando vão ver um jogo do River Plate. Atiravam foguetes", contou Drabble. "Lembro que as pessoas vinham com as fotos que tinham com ele e me diziam: 'este é o papa, eu conheci o papa. Ele tomou mate na minha casa, a abençoou. Ele me deu a comunhão'. Era uma alegria que nascia de dentro", disse.

"Na quarta-feira, o mundo mudou, girou. Após séculos e séculos de papas europeus, de repente, a Igreja se abre a um papa latino-americano, e ainda por cima argentino. É uma virada impressionante, um novo caminho que procura o homem", avaliou. "Parece que hoje a Igreja diz: 'bom, venham à capela, à paróquia'. Isso é precisamente o que Francisco nos ensinou: saiam dos edifícios para as ruas, vão, busquem, saiam para pescar". (Com agências internacionais e Agência Brasil)