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Partilha da Palestina é 'obra inacabada', diz indicado para embaixada em Israel

Gorette Brandão

Da Agência Senado

23/05/2013 18h37

Aprovado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) para o cargo de embaixador em Israel, nesta quinta-feira (23), o diplomata Henrique da Silveira Sardinha Pinto reconheceu na sabatina que a criação do país, em 1947, foi uma das grandes obras da comunidade internacional imediatamente depois da criação da Organização das Nações Unidas.

A partilha da região da Palestina, no entanto, permanece uma obra “inacabada”, sem uma solução para que também seja definitivamente fundado o Estado da Palestina, assinalou.

"A sua conclusão interessa não somente ao povo palestino, que busca legitimamente a construção de seu Estado, mas também a Israel, para que possa viver em paz e em cooperação com seus vizinhos", disse.

A mensagem da presidente Dilma Rousseff com a indicação seguirá agora ao Plenário, para exame final, assim como o nome de Eduardo Botelho Barbosa, também aprovado pela CRE nesta quinta, para representar o Brasil na Argélia.

Os dois receberam aprovação unânime, em votação secreta, como prevê regra constitucional relativa ao exame de autoridades pelo Senado.

Henrique Sardinha fez questão de não deixar dúvida quanto ao posicionamento do Brasil em relação conflito e seu desenlace: o país se opõe à ocupação de territórios palestinos e defende um Estado palestino independente dentro das fronteiras anteriores à data de 4 de junho de 1967, que antecede a chamada Guerra dos Seis Dias, um dos marcos do conflito árabe-israelense.

O diplomata assinalou que não há espaço para uma visão “ingênua”, mas considerou que a recente visita a Israel por parte do presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, deixou alguns sinais promissores em relação ao avanço das negociações de paz. Ele considerou, porém, que as conversações não podem continuar circunscritas ao quarteto representado pelos Estados Unidos, Rússia, União Europeia e ONU, sendo conveniente a entrada de novos atores.

Prosperidade

O indicado para o posto em Israel destacou que o país se tornou um Estado “moderno, próspero e com enorme capacidade criadora” no campo científico e tecnológico. Henrique Sardinha observou que a relação com o Brasil é madura, diversificada e rica, mas ainda merece ser reforçada.

Nesse sentido, destacou que há uma agenda bilateral positiva que vem recebendo atenção dos dois governos, especialmente com a troca de visitas de ministros de Estado. Entra as áreas de cooperação mencionadas pelo diplomata estão as indústrias farmacêutica e espacial, a medicina e a agroindústria.

Apesar de o Brasil ser tradicionalmente deficitário no balanço das trocas comerciais, com uma diferença ao redor de US$ 700 bilhões anuais a favor de Israel, Henrique Sardinha destacou que nos últimos meses os números estão se apresentando mais positivos. Ele observou que, se a tendência persistir, até o final deste ano haverá uma redução importante do atual deficit.

Henrique Sardinha lembrou que, por conta de duas diásporas, a judaica e a árabe, o Brasil ganhou um “rico patrimônio” representado pela ampla presença dos dois povos. Depois de salientar a convivência pacífica entre as duas comunidades aqui no país, ele destacou projeto do Itamaraty, chamado de Lado a Lado, para estimular ainda mais a aproximação, inclusive no campo acadêmico, o que considera um “potencial” do Brasil para promover um diálogo.

"Não há que ser ingênuo aqui, pois evidentemente não pretendemos que iniciativas como essa possam decidir e resolver um conflito, mas é uma forma de contribuição nesse sentido", assinalou.

Argélia

Já Eduardo Barbosa, indicado para a Argélia, país situado ao norte da África, na chamada região do Magreb, assinalou que as duas sociedades, a brasileira e a argelina, compartilham visões de política internacional, aspirações similares de desenvolvimento, características socioeconômicas e, além da “paixão pelo futebol”. Também destacou que o país é o maior da África em termos territoriais e o segundo parceiro comercial do Brasil naquele continente

"Há muitos espaços comuns para o diálogo entre os dois países, como espero convencê-los", disse aos senadores.

Em relação ao panorama político do país, ele ressaltou que o país enfrentou quase dez anos de conflitos internos, mas que desde 1999 teve início um processo de inclusão e reconciliação. Por conta disso, assinalou, a Argélia se distingue dos demais países árabes que entraram em ebulição e conflitos civis nos últimos tempos.

"Assim, alguns comentaristas locais avaliam que seu país já passou pela Primavera Árabe", muito antes dos movimentos registrados em 2011", destacou.

O diplomata disse que o processo de abertura política está em andamento, na direção de uma ordem democrática e um Estado laico, num cenário acompanhado com interesse pela comunidade internacional e demais países árabes. Há eleições marcadas para o próximo ano, mas os islamitas radicais continuam impedidos de participar do processo.

Ele lembrou ainda que a economia argelina depende muito do setor de gás e petróleo, que representou em 2012 mais de 30% do PIB do país e 95% das receitas de exportação. É o sexto maior exportador de gás do mundo, tendo a Europa como principal comprador. Do lado das importações, depende de bens de capitais, semimanufaturados e produtos alimentícios.

O diplomata observou que o país, apesar de sua forte inserção no comércio internacional, permanece apenas como observador na organização mundial de Comércio (OMC). O Brasil apoia sua candidatura como membro efetivo.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) lembrou que a Argélia, durante os anos da ditadura militar no Brasil, foi a terra de exílio para muitos perseguidos políticos. O primeiro a ser recebido pelo governo argelino foi o então governador Miguel Arraes, de Pernambuco, cassado e preso em 1964. O arquiteto Oscar Niemeyer projetou obras para o país, onde também trabalhou o ex-senador Darcy Ribeiro, outro cassado.

"Queria lembrar isso porque faz parte do legado do relacionamento entre os dois povos", destacou.