Leia a carta de Edward Snowden divulgada pelo Wikileaks
O site do coletivo ativista Wikileaks divulgou nesta sexta-feira (12) a carta do ex-consultor de inteligência americano Edward Snowden, autor do vazamento de dados sobre o programa de grampos do governo dos EUA.
Confira a íntegra do documento:
"Olá. Meu nome é Ed Snowden. Há pouco mais de um mês, eu tinha família, uma casa no paraíso, e vivia em grande conforto. Eu também tinha a capacidade de, sem mandado algum, vasculhar, apreender e ler suas comunicações. A comunicação de qualquer um, a qualquer hora. Este é o poder de mudar o destino das pessoas.
Também é uma grave violação da lei. A 4ª e 5ª Emendas da Constituição do meu país, o Artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e diversos estatutos e tratados proibiram sistemas invasivos assim de vigilância, em larga escala. Enquanto a Constituição americana estabelece que estes programas são ilegais, meu governo argumenta que decisões judiciais secretas, que o mundo não está autorizado a ver, de algum modo legitimam um tema ilegal. Tais decisões simplesmente corrompem a mais básica noção de Justiça - cujo cuidado deve ser de assegurá-la.O imoral não pode ser moralizado por meio de uma lei secreta.
Acredito no princípio declarado em Nuremberg em 1945: "Indivíduos têm deveres internacionais que transcendem as obrigações de obediência nacionais. Assim, cidadãos têm o dever de violar leis domésticas para impedir crimes contra a paz e a humanidade de acontecerem."
Com base nisso, fiz o que eu julgava certo e comecei uma campanha para corrigir este erro. Não procurava enriquecer. Não quis vender secretos dos EUA. Não me aliei a nenhum governo estrangeiro para garantir minha segurança. Em vez disso, levei o que eu sabia para o público, de forma que aquilo que afeta todos nós possa ser discutido por nós todos à luz do dia, e pedi justiça ao mundo.
Esta decisão moral de contar ao público sobre a espionagem que atinge a todos nós foi custosa, mas era a coisa certa a se fazer, e eu não me arrependo.
Desde então, o governo e os serviços de inteligência dos Estados Unidos da América têm tentado fazer de mim um exemplo, um alerta a todos que, como eu, podem fazer revelações. Fui transformado em um apátrida e caçado por meu ato de expressão política. O governo dos Estados Unidos me colocou em listas de pessoas proibidas de voar. Cobrou de Hong Kong que me devolvesse à margem das leis deles, em uma violação direta do princípio de não-repulsão - a Lei das Nações. Ameaçou com sanções países que se levantassem pelos meus direitos humanos e o sistema de asilo da ONU. Tomou até mesmo a medida inédita de ordenar aliados militares de pousarem à força o avião de um presidente latino-americano na busca por um refugiado político. Estas perigosas escaladas representam uma ameaça não apenas à dignidade da América Latina, mas aos direitos básicos compartilhados por cada pessoa, cada nação, de viver livre de perseguições, e de buscar e gozar de asilo.
Mesmo diante de tal agressão historicamente desproporcional, países por todo o mundo ofereceram apoio e asilo. Estas nações, inclusas aí Rússia, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, têm minha gratidão e respeito por serem as primeiras a se levantar contra violações de direitos humanos levadas a cabo pelos poderosos, em vez dos desprovidos. Ao se recusar a aceitar os princípios deles diante das intimidações, eles ganharam o respeito do mundo. É minha intenção viajar a cada um destes países para cumprimentar pessoalmente sua população e seus líderes.
Anuncio hoje minha aceitação formal de todas as ofertas de asilo que me foram oferecidas, e todas as que me possam oferecer no futuro. Com a concessão de asilo do presidente Maduro, da Venezuela, por exemplo, minha condição de asilo é agora formal, e nenhum Estado tem base para limitar ou interferir em meu direito de desfrutar deste asilo. Como temos visto, porém, alguns governos na Europa Ocidental e de Estados norte-americanos demonstraram disposição de agir fora da lei, e este comportamento continua ainda hoje. Esta ameaça ilegal torna impossível para mim viajar à América Latina e desfrutar do asilo concedido lá de acordo com nossos direitos mútuos.
Esta disposição de agir extralegalmente por parte de Estados poderosos representa uma ameaça a todos nós, e não deve ser permitida. Por isso, peço seu auxílio em solicitar garantias de passagem segura por parte das nações relevantes na minha viagem à América Latina, além de solicitar asilo na Rússia até lá, enquanto estes Estados garantem que cumprirão a lei e minha viagem seja legalmente permitida. Vou submeter meu pedido hoje à Rússia, e espero que seja concedido.
Se vocês tiverem perguntas, vou responder o que puder.
Obrigado."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.