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Governo e oposição trocam acusações sobre mortes em protesto na Venezuela

Do UOL, em São Paulo

13/02/2014 11h58Atualizada em 13/02/2014 12h03

O governo e a oposição trocaram acusações na Venezuela, nesta quinta-feira (13), por causa das três mortes registradas no mais violento protesto desde a apertada vitória eleitoral do presidente Nicolás Maduro, no ano passado.

Quase um ano depois da morte do líder socialista Hugo Chávez, os incidentes da quarta-feira (12) voltaram a demonstrar a polarização e desconfiança que predominam na nação petroleira.

Três pessoas foram mortas a tiros durante passeatas paralelas pró e contra o governo. Maduro disse que uma quarta vítima está em estado grave.

"Lamentável o assassinato de um membro combativo da Revolução Bolivariana perto da Praça Candelária [a 200 metros de onde os opositores protestavam]. Foi assassinado de forma vil pelo fascismo", havia dito mais cedo Diosdado Cabello, presidente da Câmara, em um ato transmitido pela televisão oficial, ao anunciar o primeiro morto dos protestos.

A primeira morte foi de um simpatizante do chavismo, identificado como morador do bairro popular 23 de Janeiro, reduto do governo.

"Calma e prudência, esta é uma provocação da direita (...) Até quando vamos continuar registrando mortes?", disse Cabello, que não deu detalhes sobre as circunstâncias em que o ativista do chavismo morreu durante a manifestação.

Um manifestante do município opositor de Chacao teve sua morte anunciada na página do Twitter do prefeito da cidade, Ramón Muchacho.

O presidente Maduro culpou "pequenos grupos fascistas" que teriam se infiltrado pela violência nos protestos.

"Querem derrubar o governo pela violência", disse Maduro na TV estatal. "Eles não têm ética, não têm moral... Não vamos permitir mais ataques."

O site de notícias La Patilla, que faz oposição ao governo, acusou agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) de disparar contra estudantes durante os protestos.

Segundo um vídeo divulgado no site, agentes uniformizados apontaram uma escopeta na direção dos manifestantes. Outro estaria usando uma pistola calibre 9mm.

Uma fonte governamental disse que 23 pessoas ficaram feridas, 25 foram presas, quatro veículos da polícia foram queimados e alguns órgãos públicos sofreram vandalismo. Alguns manifestantes da oposição, muitos deles com os rostos cobertos, atiraram pedras e queimaram pneus nas ruas.

Sob o lema "a saída" - a de Maduro do cargo -, grupos radicais da oposição vem promovendo pequenos protestos em todo o país nas últimas duas semanas, queixando-se da criminalidade, da corrupção e do aumento do custo de vida.

Oposicionista tem prisão decretada

A inteligência venezuelana recebeu ordem para prender o líder oposicionista Leopoldo López,na madrugada desta quinta-feira.

A juíza Ralenys Tovar ordenou ao Serviço Bolivariano de Inteligência a detenção de López, acusado de homicídio, lesões graves e associação para delinquir, informa o site do jornal "El Universal", que publicou uma imagem da ordem apreensão 007-14.

Uma porta-voz de López afirmou que não tinha informações a respeito.

López, que convocou seus partidários para irem às ruas, disse à Reuters que o governo planejou a violência para tentar desacreditar seu movimento pacífico.

"O governo está jogando a cartada da violência, e não é a primeira vez", disse López após os disparos.

"Eles estão colocando a culpa em mim sem provas... Sou inocente. Tenho a consciência limpa, porque pedimos paz", afirmou, acrescentando que as manifestações serão mantidas. "Não vamos recuar e não podemos recuar, porque se trata do futuro, dos nossos filhos, de milhões de pessoas."

Além de López, os outros dois líderes do movimento oposicionista são o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e a deputada Maria Corina Machado, que tem imunidade parlamentar.

A tática da oposição nas ruas rendeu acusações de golpismo e divergências com outros opositores, como o ex-candidato presidencial Henrique Capriles.

Os três dirigentes ratificaram a estratégia na noite de quarta-feira (12).

"Diante de uma tirania a resposta é a rua e a mobilização", disse a deputada Maria Corina Machado, que chama o governo de ditadura Castro-Comunista".

"Seguiremos com nossa agenda de luta nas ruas", completou o prefeito Ledezma.

Maduro relembra 2002

Maduro, herdeiro político de Chávez, diz que a oposição tenta repetir a situação de 2002, quando enormes protestos levaram a um breve golpe de Estado contra o dirigente socialista. Desta vez, no entanto, não há sinais de que os tumultos poderão derrubar Maduro.

Maduro foi eleito em abril de 2013 por pequena margem de 1,5% ante Henrique Capriles. Mas oito meses depois, nas eleições municipais de dezembro de 2013, os candidatos do governo receberam 55% dos votos.

Canal de notícias colombiano é retirado do ar na Venezuela

TV é retirada do ar

Por causa dos protestos, o canal colombiano de notícias NTN24 foi retirado da grade das principais empresas de TV por assinatura da Venezuela.

"Não estamos mais na DirecTV nem na Movistar", afirmou a jornalista Claudia Gurisati.

O governo não quis justificar a retirada do canal, mas afirmou que todos os vículos que "promovam a violência" poderão sofrer sanções.

Um grupo de pessoas usando símbolos chavistas roubou uma câmera que pertencia à equipe de jornalistas da France Presse que cobria as manifestações em Caracas contra o governo.

A unidade de polícia procurada pelos jornalistas se recusou a prestar ajuda e se limitou a dizer que a equipe não deveria estar no local.

"Vocês deveriam saber o perigo que estavam correndo quando vieram para cá", disse o coronel da Guarda Nacional Bolivariana D. González às jornalistas Patricia Clarembaux e Mariana Cadenas.

Na câmera roubada estavam gravadas imagens que registram o uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes, prisões e golpes dados por homens uniformizados contra seis estudantes. Havia também o relato de uma jovem que contava o que tinha acontecido. (Com Reuters e France Presse)

Agentes do serviço secreto disparam contra manifestantes