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Sobrevivente do naufrágio se arrepende de não salvar estudantes na Coreia do Sul

O motorista Eun-su Choi, um dos sobreviventes do naufrágio da balsa Sewol, na Coreia do Sul. Ele tentou salvar estudantes presos na parte interna do barco, mas não conseguiu. "Agora eu me arrependo", ele afirmou - Reprodução/BBC
O motorista Eun-su Choi, um dos sobreviventes do naufrágio da balsa Sewol, na Coreia do Sul. Ele tentou salvar estudantes presos na parte interna do barco, mas não conseguiu. "Agora eu me arrependo", ele afirmou Imagem: Reprodução/BBC

Do UOL, em São Paulo

22/04/2014 21h11

Um motorista de caminhão que estava entre os passageiros da balsa Sewol, que naufragou a 20 km da costa na Coreia do Sul no dia 16, afirmou que escolher entre salvar as vidas de alguns estudantes e tentar salvar a si mesmo foi a decisão mais difícil já tomada por ele. “Nós tentamos puxá-los para fora... mas era muito difícil. Então decidimos escalar até a parte mais alta da balsa. Mas agora eu me arrependo dessa decisão”, afirmou Eun-su Choi em entrevista à BBC.

Até o momento, as equipes de resgate retiraram 113 corpos da barca e das águas ao redor da área onde o barco afundou, próximo ao porto de Jindo. Mais de 190 passageiros ainda estão desaparecidos. Das 476 pessoas a bordo, 174 foram resgatadas.

Havia 325 estudantes do ensino médio a bordo, que saíam em viagem de quatro dias com seus professores, e faziam a rota Incheon-Ilha de Jeju. Muitos alunos ficaram presos, quando a balsa adernou, obedecendo às ordens passadas pelos alto-falantes para que ficassem em seus lugares, segundo informaram várias testemunhas.

Eun-su Choi fez a viagem muitas vezes. No dia do naufrágio, ele havia tomado café da manhã e foi fumar no deque. “De repente, o navio se inclinou e começou a afundar”, afirmou ele. “Os contêineres começaram a cair no mar e eu percebi que a balsa iria virar.”

“Eu me segurei na murada. Tentei salvar alguns estudantes na cafeteria. Eles estavam de joelhos, escorregando para o fundo”, disse. “Tentamos puxá-los com uma mangueira, mas era muito difícil. Então decidimos escalar para a parte mais alta. Agora eu me arrependo de não ter tentado mais.”

Choi afirmou que seu amigo conseguiu içar uma menina de seis anos, que foi passada de mão em mão por seus pais e outros passageiros. Eles foram engolidos pela água e não conseguiram se salvar. “São as pessoas mais corajosas que já vi”, disse.

O primeiro chamado de socorro não partiu da cabine de comando e sim de um menino que usou seu celular para avisar o que estava acontecendo, segundo autoridades informaram à agência Reuters. O pedido teria sido seguido por mais 20 ligações de emergência feitas por estudantes a bordo.

De acordo com jornais e TVs sul-coreanas, um tripulante informou que as tentativas de lançar os botes salva-vidas fracassaram porque a embarcação estava muito inclinada. Apenas dois barcos dos 46 disponíveis foram lançados ao mar.

A tripulação da balsa tem sido imensamente criticada por não socorrer os passageiros. O capitão e outros quatro tripulantes foram presos e são acusados de negligência por não seguir as normas de segurança e ajudar a evacuar a embarcação, durante o naufrágio.

A presidente Park Geun-hye afirmou na segunda-feira (21) que os atos da tripulação equivaleram a um “assassinato”.