'Só é provocação quando desenhamos Maomé', disse diretor do 'Charlie Hebdo'
Do UOL, em São Paulo
08/01/2015 13h55
O diretor do semanário francês "Charlie Hebdo", Stéphane Charbonnier, o Charb, um dos 12 mortos no atentado terrorista ocorrido na sede da revista, em Paris, na quarta-feira (7), declarou ao jornal espanhol "El País", em setembro de 2012, que o veículo "não fez nada de extraordinário" ao publicar uma ilustração satírica com a imagem do profeta Maomé.
Na ocasião, o jornalista --que já vivia sob escolta policial-- defendeu a liberdade de imprensa e rechaçou a possibilidade de uma autocensura. "Fazemos caricaturas de todo mundo e só quando sai o Maomé é uma provocação", disse.
“Se nos fizermos a pergunta: temos direito de desenhar ou não Maomé, é perigoso ou não publicar, a questão que virá depois será se podemos representar os muçulmanos no jornal, e depois nos perguntaremos se podemos mostrar seres humanos... E no final, não publicaremos mais nada, e o punhado de extremistas que se agitam no mundo e na França terão ganhado", declarou Charb ao "El País".
Em 2012, o diretor de "Charlie Hebdo" criticou o então primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, ao afirmar que ele "deveria defender a liberdade de imprensa e a República em vez de ficar impressionado pelos palhaços que se manifestam”. Na ocasião, o semanário recebeu críticas de setores do governo por conta das capas polêmicas.
“É a mesma provocação de todas as semanas. Tivemos 14 disputas com a extrema direita católica e só uma com o Islã. Qual é o problema na França, o Islã ou a extrema direita católica? Estamos de acordo com apelar para a calma. Se alguém tem problemas conosco, que faça o que é feito na República. Apresentem uma denúncia, vamos ao tribunal e depois jogamos a partida tranquilamente, no marco da lei", argumentou Charb.
O jornalista também ironizou o fato de que, por conta das ameaças recebidas, vivia sob escolta policial. “Se esta é a condição para se expressar livremente na França, seremos protegidos pela polícia. Prefiro ter dois agentes ao meu lado durante um tempo, assim não se dedicam a expulsar ciganos”, brincou.