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Em vídeo, chefe da Al Qaeda no Iêmen reivindica ataque a 'Charlie Hebdo'

Do UOL, em São Paulo

14/01/2015 08h36Atualizada em 14/01/2015 10h42

O grupo terrorista AQPA (Al Qaeda na Península Arábica), braço da organização consagrada por Osama bin-Laden baseado no Iêmen, assumiu nesta quarta-feira (14) a autoria do atentado cometido há uma semana contra a sede da revista satírica francesa "Charlie Hebdo", que deixou 12 mortos em Paris.

Em um vídeo divulgado em fóruns jihadistas na internet, Nasr bin Ali al Anesi, um dos líderes da organização, afirmou que a "bendita invasão de Paris" foi planejada pela cúpula da organização a partir de uma ordem de "seu chefe supremo", o egípcio Ayman al-Zawahiri, que substituiu Bin Laden no comando da facção, e em vingança pelas ofensas contra o profeta Maomé. "Os heróis foram recrutados e agiram", declarou.

"Nós, a Organização da Al Qaeda Al Jihad na Península Arábica, assumimos a responsabilidade por essa operação como vingança pelo mensageiro de Deus", disse Anasi. "Fomos nós que escolhemos o alvo, financiamos a operação e recrutamos o chefe". "A operação foi realizada por ordem de nosso emir Ayman al-Zawahiri e de acordo com a vontade póstuma de Osama bin-Laden", acrescentou.

O texto lido tinha como título: "Vingança para o profeta de Alá: mensagem sobre o bendito ataque de Paris", e o vídeo, de quase doze minutos de duração e realizado pela produtora da organização, a Al Malahem Media, mostra Al Anesi em primeiro plano e atrás imagens do atentado e dos irmãos Kouachi, autores do ataque.

Um dos irmãos Kouachi, apontados como os autores do atentado e mortos depois pela polícia, disse pertencer ao grupo terrorista pouco depois de invadir a redação. Said recebeu treinamento militar no Iêmen em 2011, segundo informações governamentais.

"Estes heróis se levantaram para cumprir as promessas que tinham feito a Deus, curaram a ira dos fiéis muçulmanos e apagaram o fogo de raiva que tinham", disse Anasi. "É um ponto de inflexão (o ataque) na história da luta contra os inimigos de Deus", continuou, convocando toda a nação muçulmana a "se levantar e se sacrificar como vingança pelo sangue derramado e a dignidade violada".  

Anesi também disse que "os chefes da apostasia" estão impactados e se uniram para "fortalecer sua fraqueza e tentar curar suas feridas", mas advertiu que "estas feridas não se curaram nem se vão se curar, nem em Paris, nem em Nova York, nem em Washington, nem em Londres e nem na Espanha".  

No dia 10 de janeiro, um funcionário religioso da AQPA afirmou que a organização realizaria mais atentados como o registrado em Paris "contra os infiéis que insultam Maomé", mas não assumiu diretamente a autoria do atentado. "Não estarão seguros enquanto combaterem Alá, seu mensageiro e os fiéis", declarou Harith al-Nadhari.

O semanário satírico francês lançou hoje uma edição especial com uma nova charge de Maomé, desta vez com o profeta chorando com um cartaz escrito "Je suis Charlie" (eu sou Charlie) sob a frase "Tout est perdonné" (tudo está perdoado). 

Estado Islâmico reage à edição da "Charlie"

A rádio da organização jihadista Estado Islâmico (EI) considerou nesta quarta-feira extremamente "estúpida" a publicação de novas caricaturas de Maomé na "Charlie Hebdo".

"A Charlie Hebdo publicou novamente caricaturas que ofendem o profeta e isso é um ato extremamente estúpido", afirmou o boletim da rádio Al-Bayan do EI, que controla uma quantidde considerável de territórios entre o Iraque e a Síria.

Uma semana depois do ataque jihadista que dizimou a redação, a Charlie Hebdo lançou nesta quarta-feira um novo número com o profeta Maomé na capa, chorando e segurando um cartaz com a frase "Je suis Charlie".

Muitos jornais de todo o mundo publicaram esta capa sem esperar nem mesmo o lançamento desta edição excepcional, com uma tiragem que alcançará os cinco milhões de exemplares.

Irã também condena nova edição

O Irã também condenou a publicação, classificando-a de "insultante" e prejudicial "aos sentimentos dos muçulmanos".  

"Condenamos o terrorismo em todo o mundo (...) mas ao mesmo tempo condenamos este gesto insultante da revista", afirmou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Marzieh Afkham, após a publicação do primeiro número da revista após o atentado. O desenho "fere os sentimentos dos muçulmanos" e pode "desencadear um novo círculo vicioso de terrorismo", acrescentou.

"O abuso da liberdade de expressão, disseminado atualmente no Ocidente, não é aceitável e deve ser impedido", disse a porta-voz.  

O presidente moderado iraniano, Hassan Rohani, condenou na semana passada a violência e o terrorismo, e especulou que o atentado contra a revista provocará uma onda de islamofobia.

A publicação na capa de um desenho do profeta, com uma lágrima nos olhos e carregando um cartaz com a frase "Je suis Charlie", também foi criticada pela imprensa iraniana, que a considera insultante para os valores do Islã. (Com agências internacionais)