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Obama mentiu sobre operação que matou Bin Laden, diz jornalista; Casa Branca nega

Do UOL, em São Paulo

11/05/2015 12h19

O jornalista Seymour Hersh, que recebeu o Prêmio Pulitzer em 1970, afirmou que os Estados Unidos mentiram sobre a operação que matou Osama Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, em 2011.

Citando uma fonte anônima – “um aposentado oficial da inteligência” –, Hersh afirmou na revista “London Review of Books” que, ao contrário do divulgado pelo presidente Barack Obama na época, Osama Bin Laden já era um prisioneiro “inválido” das forças paquistanesas desde 2006, tendo sido mantido refém para forçar a interrupção das atividades dos extremistas no Paquistão e no Afeganistão.

Os agentes teriam contado para os americanos sobre o paradeiro de Bin Laden em troca de parte da premiação de US$ 25 milhões pela captura do líder da Al-Qaeda e fecharam um acordo para que encobrir a história. Segundo o jornalista, os oficiais paquistaneses também receberam a garantia de que manteriam “boas relações” com os Estados Unidos. Hersh alega que os paquistaneses ainda colaboraram com a missão norte-americana ao cortar a energia do local.

De acordo com a versão oficial da Casa Branca, divulgada na época, Bin Laden foi descoberto pela inteligência norte-americana e morreu em uma missão secreta, que não era de conhecimento dos agentes paquistaneses. Ele teria sido morto após uma intensa troca de tiros – a versão oficial da Casa Branca sustentou que Bin Laden seria levado vivo se tivesse se rendido.

Hersh, no entanto, afirma que o assassinato foi “absolutamente premeditado” e que os agentes americanos receberam autorização para matá-lo. “A verdade é que Bin Laden era um inválido”, teria dito a fonte ao jornalista, dizendo que o alvo norte-americano não mais exercia um posto de liderança na Al-Qaeda. “A Casa Branca teve de dar a impressão de que Bin Laden ainda era importante operacionalmente. Senão, por que motivo matá-lo?”

“Sem fundamento”

A Casa Branca negou na manhã desta segunda-feira (11) a reportagem de Hersh e disse que a reportagem “não tem fundamento”. “Há muitas incorreções e afirmações sem fundamento nessa história para esclarecer cada uma”, disse Ned Price, porta-voz da Casa Branca.

Segundo ele, “a noção de que a operação que matou Bin Laden não foi uma missão unilateral norte-americana é falsa”. “Como dissemos na época, o conhecimento dessa operação foi restrito a um pequeno grupo de oficiais veteranos dos Estados Unidos. O presidente logo decidiu não informar nenhum outro governo, incluindo o do Paquistão, que não foi avisado até depois da operação”, afirmou Price. “Éramos e continuamos a ser parceiros do Paquistão no nosso esforço conjunto para destruir a Al-Qaeda, mas aquela foi uma operação americana do começo ao fim.”

Polêmica

Antes da negativa da Casa Branca, o artigo já havia causado repercussão e polêmica na imprensa norte-americana. Apesar de ser considerado um jornalista de renome – ele ganhou o Pulitzer por uma reportagem sobre o massacre de My Lai durante a Guerra do Vietnã –, Hersh também é alvo de críticas pelo uso de fontes anônimas em seus artigos.

O analista de segurança da “CNN” Peter Bergen, por exemplo, refutou a história e disse que a reportagem era “sem sentido, desmentida por várias testemunhas, fatos inconvenientes e simples senso comum”. Ele também consultou o general paquistanês Assad Durrani, hoje aposentado. Durrani foi a única fonte citada nominalmente na reportagem e teria indicado ao jornalista que a história estava correta. Ao falar com Bergen, no entanto, Durrani disse que não havia “qualquer evidência” de que as forças paquistanesas soubessem que Bin Laden estava escondido em Abbottabad, mas ressaltou que isso era “plausível”.

Entrevistado ao vivo na “CNN” na manhã desta segunda, Hersh foi questionado sobre ter ouvido apenas uma fonte para publicar o artigo. O jornalista negou e disse ter conversado com outras pessoas antes de revelar a história, se responsabilizando pelas consequências dessa divulgação. (Com "Ansa", "The Independent" e "CNN")