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Produtores de maconha colombianos temem caos quando guerrilhas debandarem

Christian Escobar/Efe
Imagem: Christian Escobar/Efe

Matthew Bristow

14/07/2015 18h20

Nas profundezas das montanhas dos Andes no sudoeste da Colômbia, onde os rebeldes marxistas reinaram por décadas, crianças em idade escolar carregam bandeiras brancas para poderem passar durante tiroteios que estouram com o Exército.

Enquanto os militares do país patrulham as plantações de açúcar ao redor da cidade do vale, Cali, as guerrilhas mantêm o domínio nas fazendas e povoados acima, impondo impostos e normas aos muitos produtores de maconha.

Por isso, seria de esperar que os agricultores das montanhas, sob fogo cruzado, estivessem torcendo pelas históricas conversas de paz entre o governo e os rebeldes agora que as negociações entram em sua fase final.

Mas, ao contrário, eles estão assustados.

Os guerrilheiros, dizem eles, serviram como autoridades a vida inteira e sua retirada talvez não traga paz, mas um vazio de poder e o caos.

"Outras pessoas pegarão em armas com novos nomes e as coisas podem ficar ainda piores", diz Vladimir Bueno, um líder da comunidade perto da cidade de Corinto, na província de Cauca, pensando no que pode acontecer se o governo abandonar a região depois da debandada dos rebeldes.

Grupo armado

Adam Isacson, especialista em Colômbia no Escritório de Washington para a América Latina, disse que essa preocupação é legítima. "Haverá uma janela quando o governo conseguir entrar naquela zona sem ter que atirar, porque não existe outro grupo armado realmente estabelecido lá", disse ele. "Essa janela irá se fechar rapidamente em todo o país".

Durante quase três anos, o governo do presidente Juan Manuel Santos manteve negociações com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), buscando um ponto final para esta insurgência que começou nos anos 1960. As conversas parecem próximas de uma conclusão, mas o que acontecer depois irá determinar se zonas dominadas por rebeldes como Cauca poderão funcionar.

A região, que depende fortemente da maconha vendida no mercado interno, será claramente um desafio para governar. Alguns moradores temem uma onda de crimes depois que os guerrilheiros debandarem.

"Se eles chegarem a um acordo de paz, essa área pode sofrer uma terrível deterioração porque haverá pessoas das guerrilhas sem nada para fazer e que poderão formar gangues", disse um produtor de maconha da área, que falou sob a condição de anonimato.

Substituição de cultivo

Um dos objetivos das conversas de paz é substituir o cultivo ilegal, mas não está claro se o governo tem os meios para isso.

No ano passado, o governo alcançou um acordo com os negociadores das Farc para cooperarem na luta contra as drogas ilegais, incluindo por meio de substituição de cultivo.

O governo colombiano simplesmente pode não ter dinheiro para implementar a reforma agrária e os programas de substituição de cultura que negociou, de acordo com Isacson. Sem estradas, programas de irrigação, crédito para produtores rurais e títulos de propriedade de terras, tudo isso com um custo de bilhões de dólares, grande parte da zona rural permanecerá dependente dos cultivos ilegais e dominada pelo crime organizado, disse ele.