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Atentado deixa 21 mortos em campus no Paquistão; membro do Taleban reivindica ato

20.jan.2016 - Equipe médica transfere homem ferido para um hospital depois de ataque a uma universidade no norte do Paquistão. Homens armados invadiram o local e deixaram vários mortes e feridos - Hasham Ahmed/AFP - Hasham Ahmed/AFP
Equipe médica transfere homem ferido para hospital da região
Imagem: Hasham Ahmed/AFP

Do UOL, em São Paulo

20/01/2016 07h52Atualizada em 20/01/2016 14h26

Um ataque nesta quarta-feira (20) contra uma universidade da região noroeste do Paquistão deixou dezenas de mortos em um albergue no campus da universidade de Bacha Khan, em Charsadda (a 170 km da capital Islamabad). A polícia confirma pelo menos 21 vítimas, mas o número pode ser maior.

"Houve três explosões de granadas que deixaram 21 mortos confirmados, incluindo professores e estudantes", afirmou o chefe de polícia regional, Saeed Wazir. Quatro terroristas foram mortos na ação, segundo o Exército.

De acordo com o jornal inglês “The Guardian”, um secretário provincial disse que já são 30 mortos no atentado, mas testemunhas disseram que o número é maior. “Eles atiraram diretamente na cabeça dos estudantes”, disse Naseer, um estudante de 23 anos, que relatou ter visto pelo menos 56 corpos.

O ataque começou às 9h30 (2h30 em Brasília), na Universidade Bacha Khan de Charsadda, na província de Khyber Pakhtunkhwa. O vice-reitor, Fazal Rahim, disse à agência Efe que pelo menos quatro guardas de segurança e um policial morreram.

De acordo com a polícia, quatro homens entraram na universidade com fuzis AK-47 e granadas e efetuaram disparos e explosões. Há relatos de que os terroristas usavam coletes com explosivos e se aproveitaram da densa neblina da manhã para pular os muros sem serem imediatamente notados. Em seguida, as forças de segurança, apoiadas por veículos blindados, isolaram o perímetro da instituição e trocaram tiros com os agressores.

O Exército confirmou que as buscas no campus terminaram por volta das 15h30 locais.

O primeiro-ministro paquistanês, Muhammad Nawaz Sharif, lamentou “profundamente” o ataque. “Estamos determinados e compromissados a limpar a ameaça de terrorismo de nossa terra.” Imran Khan, líder da oposição, também condenou o atentado. “A nação se mantém unida e compromissada contra o terrorismo”, disse Khan.

Facção do Taleban reivindica autoria; grupo condena

Segundo a imprensa local, Omar Mansoor, militante do principal grupo Taleban paquistanês, o TTP, reivindicou o ataque à universidade, afirmando que ele serviu como retaliação pela morte de pelo menos 3.500 militantes do Taleban pelas forças de segurança paquistanesas nos últimos meses.

No entanto, Muhammad Khurasani, apontado como porta-voz do TTP, condenou "fortemente" o ataque, dizendo que ele contrariou os preceitos islâmicos. 

Charsadda está a cerca de 40 km da capital provincial, Peshawar, onde em dezembro de 2014 o TTP lançou outro ataque contra uma escola que deixou 151 mortos, entre eles 125 crianças.

A província faz fronteira com a região de Khyber, onde em 2014 o Exército paquistanês iniciou uma ofensiva contra os insurgentes ali e na área tribal do Waziristão do Norte.

Evento de poesia em universidade era alvo em potencial

Mais de 3.000 estudantes e 600 visitantes eram esperados para um evento de poesia dentro da universidade, segundo a rede de TV paquistanesa Geo. Outros relatos na imprensa sugeriam que a maior parte dos estudantes e dos funcionários ainda não havia chegado no momento do ataque.

Um professor assistente na universidade, que se identificou como Shakoor, disse à BBC que se afastou do portão principal da instituição após ser informado sobre o ataque.

Ele disse que a maioria dos estudantes e professores ainda não deveria ter chegado quando o ataque começou e relatou ter visto pessoas deixando o local pela entrada principal, porque aparentemente os agressores teriam entrado pelos fundos do campus.

O professor afirmou suspeitar que o ataque possa ter tido como alvo o evento de poesia, marcado para homenagear o líder político e espiritual Bacha Khan (1890-1988), da etnia pasthun, que dá nome à universidade.

Nacionalistas como Bacha Khan, representados pelo partido ANP, se opuseram à resistência islâmica e talebã durante a invasão da União Soviética ao Afeganistão nos anos 1980. Dai o possível valor simbólico do ataque para militantes islâmicos radicais.

A universidade fica em uma área aberta, cercada por plantações, e é um alvo relativamente fácil.

Recentemente, autoridades fecharam escolas em Peshawar em meio a informações sobre possíveis ataques. (Com Guardian, BBC, AFP e EFE)