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Tentativa de golpe na Turquia termina com ao menos 265 mortos e 2.800 militares detidos

Do UOL, em São Paulo

16/07/2016 04h09Atualizada em 16/07/2016 15h44

O primeiro-ministro turco anunciou neste sábado (16) o fracasso da tentativa de golpe militar nesta sexta-feira, que deixou pelo menos 265 mortos, mas o presidente Recep Tayyip Erdogan pediu a seus partidários para que permaneçam nas ruas prontos para qualquer "nova onda".

A situação está "completamente sob controle", garantiu o primeiro-ministro Binali Yildirim à imprensa, citando um balanço humano trágico após uma noite de confrontos violentos em Ancara e Istambul.

A tentativa de golpe de Estado fez 161 mortos e 1.440 feridos, sem contar os golpistas (104 mortes), declarou Yildirim, indicando que 2.839 militares foram presos em conexão com esta tentativa que ele chamou de "mancha" na democracia turca.

"Estes covardes vão sofrer o castigo que merecem", insistiu o chefe de governo. Pouco antes, o chefe do Exército havia informado sobre 104 golpistas mortos.

Clima de tensão permanece

Sinal de que a situação ainda não foi completamente normalizada, o consulado francês apelou neste sábado aos seus cidadãos em Istambul a "permanecerem em casa".

Nas primeiras horas da manhã, oito homens a bordo de um helicóptero militar turco que aterrissou no aeroporto de Alexandroupolis, no leste da Grécia, pediram asilo político e foram detidos.

O helicóptero Black Hawk pousou pouco depois do anúncio em Ancara do fracasso da tentativa de golpe militar contra o governo islâmico-conservador turco. Segundo a televisão ERT TV, os homens a bordo estavam uniformizados, exceto um. A Turquia imediatamente pediu à Grécia a extradição dos oito.

Assim como o presidente Recep Tayyip Erdogan, Yildirim acusou o pregador exilado nos Estados Unidos Fethullah Gulen de estar por trás desta iniciativa sangrenta.

O regime turco considera que Gulen, um ex-aliado de Erdogan, lidera uma "organização terrorista". Ancara já pediu a Washington a expulsão do clérigo, o que os americanos recusaram.

"O país que ficar ao lado de Fethullah Gülen não é nosso amigo", disse Yildirim, sem mencionar diretamente os Estados Unidos, aliados de Ancara no âmbito da Otan.

"Eu rejeito categoricamente essas acusações", reagiu o imã Fethullah Gülen em um comunicado. "Sofri vários golpes de Estado militares nos últimos 50 anos e considero insultante ser acusado de ter alguma ligação com esta tentativa".

Uma nova onda é possível, afirma presidente

Pouco antes de Yildirim, o general Ümit Dündar, chefe interino do Exército, anunciou que "a tentativa de golpe foi frustrada". Apesar desta declaração, a presidente Erdogan, muito criticado nos últimos anos por suas tendências autoritárias, escreveu em seu Twitter que "devemos continuar a ser os donos das ruas (...) porque uma nova onda é possível".

Os confrontos, com aviões e tanques, resultaram em cenas de violência sem precedentes em Ancara e Istambul em décadas. A violência foi travada entre os rebeldes e as forças legalistas, bem como dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas do país.

Dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais agitando bandeiras turcas, enfrentaram os soldados rebeldes, subindo nos tanques implantados nas ruas ou recebendo Erdogan no aeroporto de Istambul.

Um pouco antes da meia-noite (18h de Brasília), um comunicado das "forças armadas turcas" anunciou a proclamação da lei marcial e um toque de recolher em todo o país, após a mobilização de tropas em Istambul e na capital Ancara.

Os líderes do golpe justificaram a "tomada do poder", pela necessidade de "garantir e restabelecer a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos e as liberdades e deixar a lei prevalecer".

Militares têm muita influência na Turquia

As Forças Armadas turcas, as mais numerosas da Otan depois dos Estados Unidos, têm um longo histórico de ingerência política e protagonizaram três golpes de Estado, em 1960, 1971 e 1980, além de forçar um governo de inspiração islâmica a deixar o poder, em 1997.

Na maioria dos casos, os golpes foram liderados pela cúpula militar, mas o movimento iniciado nesta sexta-feira (15) não contou com o apoio das maiores patentes das Forças Armadas.

Os principais comandantes militares - habitualmente discretos e reservados - se alternaram nas redes de televisão para denunciar o "ato ilegal" e pedir o retorno de seus companheiros aos quartéis.

O último golpe fracassado na Turquia ocorreu em 1963 e seu líder, um coronel, foi executado, pouco antes da Turquia abolir a pena de morte.

(Com agências internacionais)