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Impeachment transfere poder de um partido envolvido em escândalo para outro nas mesmas condições, diz "NYT"

Do UOL, em São Paulo

31/08/2016 16h24

O jornal norte-americano "The New York Times" noticiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff destacando que ela "continua a ser uma raça rara no Brasil: uma líder proeminente que não foi acusada de enriquecimento ilícito", ao contrário de muitos políticos que a expulsaram do cargo.

A nota diz ainda que a saída da presidente representa muito mais do que um juízo de culpa, e sim um veredicto sobre sua liderança e a crise econômica que atinge o maior país da América Latina.

"O impeachment coloca um fim definitivo aos 13 anos de governo liderados pelo esquerdista Partido dos Trabalhadores, uma era em que a economia do Brasil foi impulsionada, levando milhões de pessoas para a classe média e elevando o perfil do país no cenário global", diz o texto.

Em outro trecho, a reportagem diz que "para muitos críticos de Dilma, o impeachment foi uma queda apropriada para uma líder arrogante no comando de um movimento político que tinha perdido o seu caminho. Mas Rousseff e seus simpatizantes afirmam que sua queda é um golpe que mina a jovem democracia do Brasil".

O autor, o correspondente Simon Romero, reporta ainda que o impeachment "pode não restaurar a confiança pública nos líderes do Brasil ou diminuir a corrupção que permeia a política do país". "Pelo contrário, como muitos brasileiros notam, ele transfere o poder de um partido envolvido em escândalos para outro" nas mesmas condições, referindo-se ao PMDB de Michel Temer.

"Desde que se tornou presidente interino em maio, Temer tem taxas de aprovações próximas das de Rousseff. Mudando o governo para a direita, nomeou um gabinete sem quaisquer ministras ou negros, ultrajando muitos em um país onde quase 51% das pessoas se definem como negros ou pardos, de acordo com o censo de 2010."

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O texto afirma ainda que vários dos homens nomeados por Temer já renunciaram por envolvimento em escândalos, incluindo o seu ministro anticorrupção e seu ministro do Planejamento, em meio a alegações de que eles estariam tentando bloquear as investigações sobre a corrupção envolvendo a empresa nacional de petróleo, a Petrobras.

 

Além disso, o jornal destaca ainda que Temer foi considerado culpado por violar os limites de financiamento de campanhas, condenação que o tornaria inelegível por oito anos. "Além disso, um executivo de uma construtora disse sem testemunho que Temer era o beneficiário de um suborno de US$ 300 mil, afirmação Temer contesta."

"O esforço para o impeachment dividiu a nação e exaltou paixões dos dois lados. Dos quatro presidentes brasileiros eleitos desde que a democracia foi restabelecida na década de 1980, Rousseff é a segunda a ser retirada do cargo pelo processo de impeachment. Em 1992, Fernando Collor de Mello renunciou perante o Senado que poderia condená-lo por corrupção".