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Trump prepara ordem para endurecer a entrada de muçulmanos e refugiados, diz imprensa

25.jan.2017 - O presidente Donald Trump, acompanhado do vice Mike Pence, do secretário de Segurança Interna, John F Kelly, e outros, exibe ordem executiva sobre imigração e que ordena construção de muro na fronteira com o México, em Washington - Pablo Martinez Monsivais/AP
25.jan.2017 - O presidente Donald Trump, acompanhado do vice Mike Pence, do secretário de Segurança Interna, John F Kelly, e outros, exibe ordem executiva sobre imigração e que ordena construção de muro na fronteira com o México, em Washington Imagem: Pablo Martinez Monsivais/AP

26/01/2017 08h46Atualizada em 26/01/2017 08h47

Ao assinar nessa quarta-feira (25) ordem executiva para iniciar a construção de um muro ao longo da fronteira dos Estados Unidos com o México, o presidente Donald Trump deu apenas o primeiro passo para uma ambiciosa política de controle da imigração. A imprensa americana está anunciando que Donald Trump deve tornar público um plano visando a reprimir a entrada de refugiados sírios por prazo indeterminado e de refugiados de outros países por 120 dias.

O jornal The New York Times informa que obteve o esboço de um documento do governo que prevê que, após o prazo de 120 dias, os refugiados de outras origens serão novamente admitidos em território norte-americano, mas em número bem menor do que os que vinham ingressando no país até agora.

O jornal informa ainda que o governo pretende suspender por no mínimo 30 dias qualquer tipo de imigração proveniente de países predominantemente muçulmanos, como o Irã, Iraque, a Líbia, Somália, o Sudão, a Síria e o Iêmen. Juntamente com isso, as autoridades vão endurecer os já rigorosos procedimentos de triagem. O objetivo é eliminar a entrada de potenciais terroristas.

Este projeto de decreto presidencial se chama "Proteger a nação de ataques terroristas pelos estrangeiros" e também prevê suspender durante quatro meses a admissão de refugiados procedentes de países em guerra.

Dos milhões de sírios que fugiram de seu país em guerra, apenas 10.000 foram aceitos nos Estados Unidos em 2016. Com este projeto, sua entrada estaria totalmente proibida.

O novo presidente americano, eleito após uma campanha isolacionista que defendia a luta contra o "terrorismo islâmico radical", quer dividir por dois o número de refugiados acolhidos em 2017, segundo este projeto de decreto.

O governo do ex-presidente Barack Obama havia estabelecido o objetivo de receber pouco mais de 100.000 refugiados neste ano, mas a nova administração reduziria este total a um máximo de 50.000 pessoas, segundo o projeto.

No plano interno, as autoridades federais, estaduais e municipais vão trabalhar em conjunto, inclusive trocando informações, para retirar dos Estados Unidos imigrantes ilegais. O número de imigrantes ilegais em território norte-americano pode chegar a 11 milhões, segundo cálculos mencionados na imprensa.

"O mundo é um caos completo"

O novo presidente defendeu estas medidas na quarta-feira à noite no canal de televisão ABC, alegando que é preciso agir em um mundo repleto de "raiva" que se converteu em "um caos completo".

"Não se trata de um bloqueio contra muçulmanos, mas que envolve países onde há muitos casos de terrorismo", disse Trump em uma entrevista.

"Eu não quero terrorismo no país", acrescentou, enquanto se negou a divulgar a lista de países que seriam afetados pela medida.

De acordo com o documento reproduzido pelo jornal Washington Post, a medida envolveria Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.

Trump também expressou sua convicção de que a Europa cometeu "um enorme erro" ao autorizar "milhares de pessoas a entrar na Alemanha e em outros países".

Ao ser consultado se a medida pode gerar mais "raiva" no mundo muçulmano, Trump não deixou dúvidas.

"Raiva? Já há uma quantidade enorme de raiva! Como poderia haver mais?", disse.

De acordo com Trump, "o mundo está um caos completo. O mundo está com raiva. Não deveríamos ter ido ao Iraque. E não deveríamos ter nos retirado da forma como fizemos. O mundo é um caos completo".

Antes que o decreto seja assinado oficialmente, vários grupos de defesa dos direitos humanos criticaram a medida.

"Dar as costas aos refugiados vulneráveis não vai proteger os Estados Unidos", afirmou o ex-chefe do centro nacional antiterrorista, Michael Olsen, atualmente membro da associação Human Rights First.

Pelo contrário, "isto alimentará o falso discurso da (organização extremista) Estado Islâmico segundo a qual nós estamos em guerra contra os muçulmanos, e não contra os grupos terroristas", advertiu.

Para o ex-embaixador dos Estados Unidos no Iraque e na Síria Ryan Crocker, "proibir a admissão de refugiados sírios contraria os valores dos Estados Unidos e enfraquece sua liderança".

Em Manhattan, mais de mil pessoas protestaram na noite de quarta-feira para denunciar as medidas anti-imigração do novo presidente, ao grito de "Não à proibição! Não ao muro! Nova York é de todo o mundo".

Contrariando mais uma vez as previsões, que acreditavam em uma queda dos mercados após a chegada de Trump ao poder, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York superou na quarta-feira pela primeira vez em sua história a barreira dos 20.000 pontos. (Com Agência Brasil e agências internacionais)