Topo

Itamaraty investiga fraude na emissão de vistos em embaixada no Paquistão

Embaixada do Brasil em Islamabad, capital do Paquistão. Itamaraty abriu investigação sobre denúncias de fraude na emissão de vistos envolvendo servidores do órgão - Google Maps/Reprodução
Embaixada do Brasil em Islamabad, capital do Paquistão. Itamaraty abriu investigação sobre denúncias de fraude na emissão de vistos envolvendo servidores do órgão Imagem: Google Maps/Reprodução

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

11/04/2017 04h00

O MRE (Ministério das Relações Exteriores) investiga, desde maio de 2016, indícios de que servidores que atuavam na embaixada do Brasil em Islamabad, capital do Paquistão, teriam concedido vistos de entrada no Brasil de forma ilegal durante a Copa do Mundo de 2014. O caso é conduzido de forma sigilosa, mas foi confirmado pelo Itamaraty ao UOL.

Uma comissão composta por funcionários do ministério foi designada para apurar o caso e tem até o próximo dia 10 de maio para finalizar as investigações.

A apuração começou em maio de 2016 após uma denúncia anônima. Uma sindicância investigativa e um processo administrativo disciplinar (PAD) foram instaurados desde então. A maior parte dos telegramas diplomáticos referentes ao caso foi classificada como “reservada”, cuja divulgação só será feita em aproximadamente cinco anos.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a reportagem obteve cinco telegramas diplomáticos que fazem referências ao caso. Os documentos mostram que diplomatas brasileiros foram enviados a Islamabad para tomar o depoimento dos servidores suspeitos e que a CISET (Secretaria de Controle Interno) do MRE enviou para a capital paquistanesa um relatório sobre o caso em fevereiro deste ano.

O UOL apurou que o caso envolve dois servidores que atuavam na embaixada no Paquistão e que atualmente se encontram no Brasil.

A denúncia, feita somente em 2016, indicava que esses servidores teriam cobrado propina para emitir vistos a cidadãos paquistaneses com destino ao Brasil durante o período da Copa do Mundo, em 2014. Como o país se situa em uma região com ação de grupos terroristas, o governo brasileiro decidiu apurar o caso.

O Paquistão faz fronteira com países como Afeganistão e Irã. Especialistas em segurança afirmam que algumas áreas do país sofrem forte influência das milícias do Taleban, que atuam mais fortemente no Afeganistão. Em janeiro de 2016, por exemplo, um ataque reivindicado pelo Taleban do Paquistão resultou na morte de 21 pessoas. 

Fontes ouvidas pelo UOL afirmaram que as pessoas que supostamente teriam obtido os vistos de forma fraudulenta entraram e saíram do país normalmente. Não há informações de que o caso tenha sido encaminhado a outras autoridades como a Polícia Federal ou o MPF (Ministério Público Federal).

Caso semelhante ocorreu em Nova York

O caso investigado em Islamabad é semelhante ao que aconteceu no consulado brasileiro em Nova York.

Em 2015, o governo brasileiro demitiu três funcionários contratados do consulado em Nova York suspeitos de terem causado um prejuízo de ao menos US$ 500 mil. Segundo as investigações conduzidas na ocasião, o trio desviava o valor de taxas consulares pagas por pessoas que buscavam obter vistos de entrada no Brasil.

No caso da investigação em Islamabad, não há informações sobre qual seria o tamanho do prejuízo supostamente causado pela dupla de servidores.

Procurado, o MRE disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que o ministério “não comenta processos em andamento”. A reportagem tentou contato com a embaixada do Paquistão em Brasília entre os dias 5 e 7 de abril, mas as ligações não foram atendidas.