Ex-diretor do FBI tentou se esconder em cortinas da Casa Branca para evitar contato com Trump
O presidente Donald Trump telefonou para o diretor do FBI (a polícia federal americana), James B. Comey, semanas após tomar posse e lhe perguntou quando as autoridades federais divulgariam que o próprio Trump não estava sob investigação, de acordo com duas pessoas informadas sobre o telefonema.
Segundo essas pessoas, Comey disse ao presidente que, se quisesse detalhes sobre as investigações do órgão, ele não deveria contatá-lo pessoalmente, mas sim seguir os procedimentos apropriados e fazer com que o advogado da Casa Branca enviasse quaisquer solicitações ao Departamento de Justiça.
Após explicar para Trump como as comunicações com o FBI deveriam transcorrer, Comey acreditou ter traçado uma linha após uma série de encontros que ele teve com o presidente e outros membros da Casa Branca, que ele sentiu que ameaçavam a independência da instituição. Na época, Comey estava supervisionando a investigação dos elos entre associados de Trump e a Rússia.
Esses contatos incluíram um jantar no qual associados de Comey disseram que Trump lhe pediu para que jurasse lealdade e uma reunião no Salão Oval, em que Trump lhe disse que esperava que ele encerrasse a investigação envolvendo seu ex-conselheiro de segurança nacional, Michael T. Flynn. Trump nega ter feito o pedido.
Um dia após a conversa sobre Flynn, Reince Priebus, o chefe de gabinete da Casa Branca, pediu a Comey que ajudasse a rebater as reportagens na mídia de que associados de Trump estiveram em contato com membros da inteligência russa durante a campanha.
Comey descreveu todos seus encontros com o presidente e a Casa Branca (incluindo o telefonema de Trump) em memorandos detalhados que escreveu na ocasião e entregou a seus assessores.
Os investigadores do Congresso requisitaram cópias dos memorandos que, segundo as duas pessoas que os leram, fornecem retratos do relacionamento tenso entre um presidente tentando conquistar e influenciar um diretor do FBI, e alguém que construiu sua reputação afirmando sua independência, às vezes de forma dramática.
Sean Spicer, o secretário de imprensa da Casa Branca, disse em uma declaração que "o depoimento juramentado" tanto de Comey quanto de Andrew G. McCabe, o diretor em exercício do FBI, "deixam claro que nunca houve nenhuma tentativa de interferir nessa investigação. Como o presidente declarou anteriormente, ele respeita as investigações em andamento e continuará trabalhando para cumprir suas promessas ao povo americano".
Não está claro se em todos os seus contatos, Comey respondeu à pergunta de Trump ou lhe disse que ele estava sob investigação. Na carta que Trump enviou a Comey na semana passada, lhe informando que estava demitido, Trump disse ao diretor do FBI: "Eu aprecio enormemente que tenha me informado, em três ocasiões separadas, que não estou sob investigação".
O diretor que esteve à frente do FBI por mais tempo, J. Edgar Hoover, teve relacionamento estreito com vários presidentes. Mas, no FBI moderno, os diretores buscam manter um relacionamento de certa distância com os presidentes aos quais servem e seguem as diretrizes do Departamento de Justiça, que definem que a Casa Branca deve ter contato limitado com o FBI.
Essas diretrizes, que também cobrem o FBI, proíbem conversas com a Casa Branca sobre investigações criminais em andamento a menos que sejam "importantes para o desempenho dos deveres do presidente e apropriadas segundo o ponto de vista da manutenção da lei". Quando essas conversas são necessárias, apenas o secretário de Justiça ou o vice-secretário de Justiça podem iniciar essas discussões.
Comey falou de forma privada sobre suas preocupações de que os contatos por parte de Trump e seus assessores eram impróprios e como se sentia compelido a resistir a eles.
"Ele teve de fazer alguns arremessos de intimidação contra o governo", disse Benjamin Wittes, um amigo de Comey, em entrevistas.
Wittes, um membro sênior da Instituição Brookings, editor-chefe do blog Lawfare e crítico frequente de Trump, lembra de um almoço que teve com Comey em março, no qual este lhe disse que tinha passado os dois primeiros meses do governo Trump tentando preservar a distância entre o FBI e a Casa Branca, além de instruí-la sobre a forma apropriada de interagir com o órgão.
Segundo Wittes, ele nunca teve a intenção de discutir publicamente suas conversas com Comey. Mas após o "New York Times" ter noticiado neste mês que, logo após sua posse, Trump pediu a Comey que jurasse lealdade, Wittes disse que via o comportamento de Trump de forma "mais ameaçadora" e decidiu falar.
Wittes contou que Comey lhe disse que, apesar das tentativas de Trump de desenvolver um relacionamento pessoal, ele não queria ser amigo do presidente e considerava impróprias quaisquer conversas com ele ou contatos pessoais.
A conversa entre eles ocorreu após o telefonema do presidente para Comey, disse Wittes, e Comey lhe disse que seu relacionamento com o presidente e com o pessoal da Casa Branca agora estava no modo correto.
"'Acho que conseguimos instruí-los'", Comey teria lhe dito, segundo Wittes.
Mas ele disse que Comey também descreveu outros encontros com o presidente que o incomodaram.
Um deles ocorreu na Casa Branca em 22 de janeiro, apenas dois dias após a posse. Naquele dia, Trump realizou uma cerimônia em homenagem aos agentes da lei que realizaram a segurança da posse.
Wittes contou que Comey lhe disse que, inicialmente, não queria ir, porque o diretor do FBI não deve ter um relacionamento estreito com a Casa Branca. Mas Comey foi porque queria representar a agência.
A cerimônia ocorreu no Salão Azul da Casa Branca, onde muitas importantes autoridades de manutenção da lei, incluindo o diretor do Serviço Secreto, estavam reunidas. Comey (que tem 2 metros de altura e estava vestindo um terno azul escuro no dia) disse a Wittes que tentou se misturar com as cortinas azuis no fundo da sala, na esperança de que Trump não o notasse nem o chamasse.
"Ele achou que conseguiria passar desapercebido e que poderia ir embora sem um contato pessoal", disse Wittes.
Mas Trump viu Comey e o chamou.
"Oh, lá está o Jim", disse Trump. "Ele ficou mais famoso do que eu."
Com uma expressão embaraçada em seu rosto, Comey foi até Trump.
"Comey disse que, enquanto atravessava a sala, ele estava determinado que não haveria um abraço", disse Wittes. "Um aperto de mão já seria ruim o bastante. Como Comey tem braços longos, ele disse que estendeu a mão antecipadamente para apertar a mão do presidente. Mas Trump o puxou para um abraço, sem reciprocidade de Comey. Se você assistir ao vídeo, verá que é uma pessoa dando um aperto de mão e a outra abraçando."
Comey contou a Wittes sobre outro encontro, em 1º de março, que também o incomodou.
Wittes disse que Comey recebeu um telefonema da Casa Branca e foi informado de que "o presidente precisa falar com você urgentemente".
"Ele está prestes a entrar no helicóptero, então não entra", disse Wittes. "E quando a chamada do presidente entra, ele só quer bater papo."
Wittes disse que Comey lhe disse ter considerado a chamada de Trump como que "tentando atraí-lo para a equipe e viu aquilo sob o prisma de sua recusa em jurar lealdade".
"Trump ainda estava tentando aliciá-lo", disse Wittes.
Wittes contou que, em outra conversa, o presidente disse a Comey que estava encorajado pelo fato de que o Senado provavelmente confirmaria Rod J. Rosenstein, um promotor federal veterano, como seu vice-secretário de Justiça.
Para sua surpresa, Comey não concordou plenamente com ele.
"Ele disse: 'Eu não sei. Tenho algumas preocupações. Ele é bom, é sólido e também um sobrevivente, mas você não sobrevive tanto tempo sem fazer algumas concessões, e estou preocupado com isso'."
Semanas após sua confirmação, Rosenstein escreveu um memorando que foi citado inicialmente por Trump como justificativa para a demissão de Comey. Rosenstein disse aos membros do Senado, na quinta-feira, que Trump já tinha decidido demiti-lo quando ele o escreveu.
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