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Aos 87 anos, homem espera por décadas pela execução do assassino de sua mulher

Norman Stout ao lado do retrato de sua mulher, Mary Jane Stout, morta em 1984 durante um assalto - Andrew Welsh-Huggins/ AP
Norman Stout ao lado do retrato de sua mulher, Mary Jane Stout, morta em 1984 durante um assalto Imagem: Andrew Welsh-Huggins/ AP

Andrew Welsh-Huggins

Em New Concord, Ohio (EUA)

15/06/2017 11h56

Aos 87 anos, Norman Stout pode não ter muito tempo ainda para testemunhar a execução do homem que matou sua mulher há mais de três décadas. Mas ele está determinado para que isso seja possível.

"Eu quero ter certeza que [a execução] finalmente será realizada", diz.

O Estado norte-americano de Ohio quer que a execução aconteça também e diz que enfim tem os meios para executar o assassino condenado John Stumpf depois de anos tentando obter drogas letais.

Apesar da combinação de três drogas letais usada na execução seja constitucional, é uma  apelação na corte federal que irá decidir como será a execução de Stumpf, agendada para novembro do ano que vem.

Stumpf foi condenado à morte em 1984 por matar Mary Jane Stout, com quatro tiros na casa do casal em New Concord, Ohio.

Com mais de 20 presos de Ohio com datas de execução definidas, Stumpf ficou em uma posição mais distante no corredor da morte -- com mais de 12.000 dias de espera. Seis presidentes americanos passaram pela Casa Branca nesse período. Mais de 30 novos países surgiram. E a população dos EUA cresceu um terço.

A situação de Stumpf não é única. Seis presos do Alabama estiveram no corredor da morte por mais de 30 anos, incluindo um preso que foi condenado em 1979. O Estado do Texas conta com mais de dez presos que foram condenados à morte há mais de três décadas.

Assim como acontece em todos os casos, a apelação na Justiça e a luta do Estado de Ohio para encontrar drogas letais ajudaram para atrasar a execução de Stumpf. Além disso, a renúncia do governador John Kasich em maio fez a execução de Stumpf ser adiada de janeiro do ano que vem para novembro para permitir que mais argumentos legais sejam incluídos no processo da nova injeção letal que será usada em Ohio.

Na quarta-feira (14), a corte de apelação em Cincinnati ouviu os argumentos contra e a favor sobre o processo e deve definir sobre o caso em breve. A primeira execução em Ohio em mais de três anos deve correr no próximo mês.

Aparentemente as infinitas apelações e as idas e vindas de regras são as características das sentenças de morte nos EUA, frustrando aqueles que acham que a execução de pena de morte é muito lenta para assegurar justiça. No entanto, oponentes desses argumentos dizem que as apelações são direitos constitucionais dos suspeitos e que às vezes ajudam a libertar inocentes.

Para complicar, produtores e distribuidores colocaram as drogas usadas por décadas fora dos limites, desencadeando disputas para encontrar alternativas e geralmente atrasando execuções enquanto eles pesquisam e argumentam na Justiça.

Imagem sem data de John Stumpf (esq.) e Clyde Wesley - Ohio Department of Rehabilitation and Correction via AP - Ohio Department of Rehabilitation and Correction via AP
Imagem sem data de John Stumpf (esq.) e Clyde Wesley
Imagem: Ohio Department of Rehabilitation and Correction via AP

Uma dessas questões em Ohio é a ineficácia do primeiro das três drogas usadas, um sedativo chamado midazolam que foi usado em execuções problemáticas em Arizona, Arkansas e Ohio em que os presos não pareciam totalmente sedados antes da segunda e terceira drogas fazerem efeito.

"Mais política", diz Norman Stout sobre o mais novo adiamento da execução.

Stout espera pela conclusão do crime de 14 de maio de 1984, que ele relata como se tivesse acontecido ontem. Ele e sua mulher, Mary Jane, tinham acabado de jantar quando dois homens bateram na porta perguntando se poderiam usar o telefone. Uma vez dentro de casa, eles anunciaram o assalto. Enquanto Stumpf mantinha o casal na mira de uma arma, Clyde Wesley saqueava a casa, segundo os dados da corte.

Quando Norman Stout se moveu em direção a Stumpf, o atirador disparou duas vezes na cabeça dele. Cinco fragmentos de bala ainda permanecem em seu corpo.

Após Stout recobrar os sentidos, ele ouviu duas vozes masculinas na sala ao lado e quatro tiros que mataram sua mulher. Stumpf foi condenado a morte apesar de sempre defender que Wesley foi o autor dos tiros.

Wesley cumpre prisão perpétua. O motorista do carro naquele dia, Norman Edmonds, cumpriu 10 anos de prisão antes de receber liberdade condicional em seu Estado natal, o Texas.

No julgamento de Wesley, os promotores argumentaram que Wesley atirou em Mary Jane, enquanto Wesley diz que foi Stumpf quem atirou. Wesley foi condenado à prisão perpétua com possibilidade de liberdade condicional. Sua próxima audiência será em 2027.

Stumpf, hoje com 56 anos, não tem apelações pendentes, disse David Stebbins, seu defensor público.

"Não consigo imaginar a dor de minha mulher quando foi baleada", diz Stout. "Eu quero que ele sinta a mesma dor".

Norman conheceu sua mulher quando servia na força aérea em Nova York. Depois de um período dando aulas em Rochester, o casal se mudou para Ohio, onde Norman Stout foi um operador de equipamento pesado até o dia do crime.

Mary Jane era uma colecionadora de objetos de "Holly Hobbie". Norman ampliou a coleção em memória da mulher. Agora ele mantém uma galeria em New Concord com centenas de objetos de Holly Hobbie.