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Cuba rejeita "retórica hostil" de Trump e diz que espera manter "diálogo respeitoso" com EUA

Yamil Lage/ AFP
Imagem: Yamil Lage/ AFP

Do UOL, em São Paulo

16/06/2017 21h43

Após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar o cancelamento do acordo do país com Cuba, o governo de Havana rejeitou a "retórica hostil" do magnata contra a ilha e reiterou sua vontade de que seja mantido o "diálogo respeitoso".

"Mais uma vez o governo dos Estados Unidos recorreu a métodos coercivos do passado, adotando medidas para intensificar o bloqueio em vigor desde fevereiro de 1962," disse um comunicado divulgado pelas autoridades através dos meios de comunicação estatais. "Qualquer estratégia para mudar o sistema político, econômico e social em Cuba, que se pretende alcançar por meio de pressões e imposições ou usando métodos mais sutis, está fadada ao fracasso", acrescentou a nota.

A declaração de Trump representa um recuo na aproximação entre os dois países, apesar de manter as relações diplomáticas. "Com efeito imediato, estou cancelando o acordo completamente unilateral do governo anterior com Cuba", declarou Trump durante um discurso em Little Havana, bairro em Miami onde vivem muitos imigrantes cubanos e da América Latina. Para o presidente, "o alívio das restrições sobre viagens e comércio, promovido pela gestão passada, não ajuda o povo cubano, apenas enriquece o regime".

Segundo a imprensa internacional, no entanto, Trump exagerou nas palavras. Em nota, o Departamento do Tesouro explica que as novas medidas não têm efeito imediato e que preveem apenas uma aplicação mais rigorosa das leis, afrouxadas quando Obama buscava uma aproximação. Trump anunciou que serão restabelecidas algumas restrições a Havana, envolvendo viagens de americanos à ilha e negociações entre empresas dos Estados Unidos e entidades militares cubanas.

Retomados em 2016 após mais de 50 anos de proibição, os voos comerciais entre EUA e Cuba serão mantidos, bem como a permissão para que americanos voltem para casa com produtos cubanos. As viagens, no entanto, devem ser dificultadas a cidadãos americanos, bem como proibidas as visitas para fazer turismo.

Com a mudança, autoridades dos EUA devem reforçar a averiguação dos motivos da viagem, checando se os viajantes realmente se enquadram em uma das 12 categorias autorizadas, em vigor desde o governo Obama. Elas incluem visitas familiares e atividades educacionais, por exemplo. A nova política também proíbe a maioria das transações comerciais entre companhias americanas e empresas ligadas às Forças Armadas Revolucionárias, que estão presentes em todos os setores da economia cubana.

Com suas novas restrições ao comércio e às viagens a Cuba, Donald Trump tenta atingir as finanças do regime de Raúl Castro, mas corre o risco de enfraquecer o nascente setor privado, muito dependente do turismo, alertam analistas. O retrocesso também preocupa muitas companhias americanas, como a rede de hotéis Starwood, que inaugurou há um ano um Sheraton em Cuba.

Especialistas preveem uma queda nos Estados Unidos nas reservas de passagens de avião, de cruzeiros e de hotéis para visitar a ilha. "Para a economia cubana e o setor privado essa mudança representa um duro golpe", avaliou Michael Shifter, presidente de Diálogo Interamericano, think tank com sede em Washington. "As novas medidas vão atacar as duas únicas fontes de crescimento que atualmente tem a economia cubana: o turismo e o setor privado", destacou o economista cubano Pabel Vidal, da Universidade Javeriana de Cali, Colômbia.

A decisão anunciada em Miami é a mais recente das tentativas de Trump de desmantelar o legado do ex-presidente Obama. Além de estar tentando substituir o chamado Obamacare, sistema de saúde americano criado pelo antecessor democrata, o mandatário anunciou no início deste mês que vai retirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima. 

Obama iniciou o processo de reaproximação com Cuba em dezembro de 2014, após mais de cinco décadas de relações diplomáticas rompidas. A embaixada americana em Havana foi reaberta oito meses mais tarde, e o ex-presidente adotou uma série de medidas para atenuar o embargo econômico imposto à ilha em 1962. Em março de 2016, Obama fez uma visita histórica a Cuba, a primeira de um presidente americano em 88 anos. Em agosto do mesmo ano, foram retomados os voos comerciais entre os dois países. (Com agências internacionais)