Topo

Quais armas a Coreia do Sul quer para enfrentar a Coreia do Norte

Míssil balístico Hyunmoo II é disparado durante exercício militar na Coreia do Sul - Ministério da Defesa da Coreia do Sul via AP
Míssil balístico Hyunmoo II é disparado durante exercício militar na Coreia do Sul Imagem: Ministério da Defesa da Coreia do Sul via AP

Kim Tong-Hyung

Da Associated Press, em Seul (Coreia do Sul)

05/09/2017 12h37

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, assumiu o cargo há quatro meses com planos de se aproximar da Coreia do Norte de uma maneira que seus antecessores não tentaram na década anterior. Depois de dois lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) e um teste nuclear, Seul está reforçando suas defesas, e algumas autoridades até consideram pedir que os EUA tragam de volta ao país armas nucleares táticas, uma década após sua remoção da península coreana.

O novo interesse de Seul por armas mais potentes recebeu um impulso na terça-feira (5), quando o governo Trump concordou em remover as restrições anteriores aos mísseis sul-coreanos.

Mas a fome da Coreia do Sul por poderio militar vai além de meros mísseis. As autoridades também querem que o país tenha submarinos movidos a energia nuclear. E o ministro da Defesa de Seul disse que a ideia de trazer de volta as armas táticas nucleares dos EUA deve ser "profundamente considerada" pelos aliados.

Essa mudança à direita pelo liberal Moon salienta a profunda inquietação de que a expansão do arsenal nuclear da Coreia do Norte prejudique a aliança de décadas do país com os EUA. Pyongyang poderá em breve aperfeiçoar um ICBM capaz de atingir o território continental dos EUA.

Veja algumas das capacidades militares que a Coreia do Sul pretende ter em breve:

coreia do sul missil - Ministério da Defesa da Coreia do Sul via AP - Ministério da Defesa da Coreia do Sul via AP
Coreia do Sul faz exercício militar em local não identificado
Imagem: Ministério da Defesa da Coreia do Sul via AP

Mísseis balísticos

A Coreia do Sul diz que mísseis mais potentes são cruciais para a chamada "cadeia da morte", capacidade de ataques preventivos que quer usar contra a Coreia do Norte. Um ataque preventivo à liderança de Pyongyang seria difícil de realizar, mas é amplamente considerado a mais realista das opções militares limitadas que Seul tem para negar um ataque nuclear de sua rival.

Em agosto, a Coreia do Sul realizou o último voo de teste agendado de um novo míssil com alcance de 800 km. Ele logo entrará para a família "Hyunmoo" de mísseis balísticos que atualmente têm um alcance máximo de 500 km.

Os militares de Seul dizem que seus mísseis são atualmente capazes de eliminar estruturas norte-coreanas em terra, mas que ogivas mais pesadas são necessárias para visar as instalações subterrâneas e casamatas da Coreia do Norte.

Depois do segundo teste pelo Norte de um ICBM em julho, Moon ordenou que seus militares agendassem negociações com os EUA para aumentar os limites de peso das ogivas nos mísseis sul-coreanos. O gabinete de Moon não anunciou mudanças no limite de alcance na terça-feira (5).

Os desenvolvimentos de mísseis sul-coreanos têm sido restritos por uma diretriz bilateral entre os aliados desde o final dos anos 1970, quando Washington tentou conter o desenvolvimento de mísseis por Seul sob o ditador militar Park Chung-hee, um firme anticomunista que governou a Coreia do Sul nos anos 1960 e 70. As restrições foram atenuadas ao longo dos anos.

Entenda o programa de mísseis norte-coreano

UOL Notícias

Submarinos nucleares

Várias autoridades do governo sul-coreano, inclusive o primeiro-ministro Lee Nak-yon, o número 2 do país, vêm pedindo que a Coreia do Sul adquira um submarino com energia nuclear. A marinha sul-coreana planeja um estudo para a aquisição dessas naves, mas alguns especialistas consideram a possibilidade baixa.

Defensores da ideia dizem que esses navios são críticos para enfrentar o sistema de mísseis balísticos lançados por submarinos da Coreia do Norte, porque eles podem operar muito mais tempo sem reabastecer que os submarinos convencionais movidos a diesel. Isso lhes dá maior possibilidade de encontrar e rastrear submarinos norte-coreanos, afirmam.

Em agosto do ano passado, o Norte disparou com sucesso pela primeira vez um míssil balístico lançado de submarino, que voou cerca de 500 km. Essa tecnologia nas mãos da Coreia do Norte é uma ideia alarmante para o Sul e o Japão, porque tais armas são mais difíceis de detectar antes do lançamento.

Se a Coreia do Sul fizer um esforço real por submarinos nucleares, os críticos dizem que talvez nunca supere obstáculos políticos e técnicos. Washington também poderá recusar a aquisição por Seul do urânio enriquecido necessário para operar esses submarinos. Os críticos também afirmam que Washington já fornece proteção nuclear a seu aliado e pode facilmente enviar ativos para detectar e conter submarinos norte-coreanos quando necessário.

Armas nucleares táticas

Especialistas dizem que a Coreia do Sul teria maior dificuldade para convencer os EUA a reintroduzir armas nucleares táticas na península da Coreia. Essas foram removidas nos anos 1990.

Mesmo assim, isso não impediu que os legisladores do maior partido conservador da Coreia do Sul pedissem o retorno das armas. Song Young-moo, ministro da Defesa sul-coreano, disse aos deputados na segunda-feira (4) que os aliados deveriam considerar a questão.

Os sul-coreanos que apoiam o retorno das armas táticas americanas muitas vezes levantam temores de rixas na aliança de segurança que existe há décadas entre Washington e Seul, por causa da expansão do programa nuclear da Coreia do Norte.

Se o Norte obtiver um ICBM totalmente funcional, os EUA poderiam hesitar em usar suas armas nucleares para defender a Coreia do Sul por temer que o Norte possa atacar uma cidade americana, dizem eles. Colocar armas nucleares táticas dos EUA na Coreia do Sul deixaria clara a intenção de usar armas nucleares em uma crise.

Os críticos dizem que é altamente improvável que os EUA concordem, porque hoje eles contam com ativos militares baseados no mar e em terra para fornecer a seus aliados dissuasão nuclear expandida. Alguns especialistas militares sul-coreanos dizem que as armas nucleares não melhorariam a defesa do Sul e só dariam à Coreia do Norte mais alvos para destruir ou mesmo tentar roubar.

Coreia: uma península dividida em dois; entenda

AFP