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Rei da Espanha ignora violência policial e ataca o governo da Catalunha

Manifestantes exibem a bandeira separatista da Catalunha durante greve em Barcelona - Enrique Calvo/Reuters
Manifestantes exibem a bandeira separatista da Catalunha durante greve em Barcelona Imagem: Enrique Calvo/Reuters

Do UOL, em São Paulo

03/10/2017 16h59

Em um raro pronunciamento televisivo, o rei da Espanha, Felipe VI, subiu o tom e acusou nesta terça-feira (3) o governo da Catalunha de "descumprir" a Constituição e promover uma "fratura" na sociedade da comunidade autônoma. Sem comentar as ações violentas das forças de segurança espanholas contra os eleitores do plebiscito do último domingo (1º), o monarca condenou a proposta separatista das autoridades catalãs, a quem chamou de "irresponsáveis".

O discurso foi feito simultaneamente a uma greve geral na região, convocada para protestar contra a repressão policial à consulta popular. Milhares de pessoas foram às ruas da Catalunha, e o tráfego das ruas, o transporte público e os negócios foram interrompidos. Em Barcelona, estações de metrô fecharam, piquetes bloquearam dezenas de ruas e servidores públicos saíram do trabalho em resposta à convocação de uma greve geral feita por grupos. O clube de futebol Barcelona se uniu à greve, dizendo que fecharia pelo resto do dia e que nenhum de seus times treinaria.

Embora sem mencioná-las diretamente, a declaração funciona como justificativa para as ações da Guarda Civil e da Polícia Nacional, enviadas pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy para evitar a realização do plebiscito. Durante a votação, agentes invadiram e interditaram centenas de colégios, apreenderam urnas e entraram em confronto com civis, deixando um saldo de mais de 800 feridos, segundo dados do governo catalão.   

"Estamos vivendo momentos muito graves para nossa vida democrática. E, nestas circunstâncias, quero me dirigir a todos os espanhóis. Todos fomos testemunhas dos fatos ocorridos na Catalunha, com o objetivo final da Generalitat [governo catalão] de que seja declarada --ilegalmente-- a independência da Catalunha", disse Felipe VI. 

Segundo o rei, o governo da comunidade autônoma "descumpriu a Constituição" de maneira "reiterada, consciente e deliberada", "quebrou os princípios do Estado de Direito e solapou a harmonia e a convivência na própria sociedade catalã, chegando, desgraçadamente, a dividi-la".   


"Essas autoridades menosprezaram os afetos e os sentimentos de solidariedade que uniram e unirão o conjunto dos espanhóis e, com sua conduta irresponsável, inclusive podem pôr em risco a estabilidade econômica e social da Catalunha e de toda a Espanha", declarou o monarca. 

Além disso, Felipe VI acusou a Generalitat de estar "à margem do direito e da democracia" e de querer "quebrar a unidade da Espanha e a soberania nacional". "Por tudo isso e ante essa situação de extrema gravidade, é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional e o normal funcionamento das instituições", acrescentou.

A consulta popular, tida como inconstitucional pela Espanha, teve a participação de 2,2 milhões de eleitores (41,5% do total), e 90% votaram pela independência da Catalunha. Contudo, boa parte dos apoiadores do "não" preferiu não comparecer às urnas.   

"Sei muito bem que na Catalunha também há muita preocupação e grande inquietude com a conduta das autoridades regionais. Aos que se sentem assim, os digo que não estão sozinhos nem estarão", salientou o rei, que encerrou seu pronunciamento defendendo a "união e a permanência da Espanha".

Região mais rica da Espanha, a Catalunha tem língua e cultura próprias e um movimento político de separação que se fortaleceu nos últimos anos.

Partidos pró-independência que controlam o governo regional realizaram o referendo de domingo desafiando tribunais espanhóis que o declararam ilegal. Cerca de 900 pessoas ficaram feridas no dia do pleito quando a polícia disparou balas de borracha e arremeteu contra a multidão com cassetetes para impedir a votação. (Com Ansa e Reuters)